Empresas de operação agrícola têm seus resultados normalmente associados ao desempenho das safras e do preço das commodities. Quando um deles não ajuda, as chances de impactos negativos no balanço aumentam.
Foi o que aconteceu no segundo trimestre de 2024 com a SLC Agrícola, a maior do segmento listada na B3, que divulgou seu relatório trimestral na noite da quarta-feira, 14 de agosto. Estavam lá, representados em números, os impactos sazonais do período, que marca o fim da safra 2023/2024.
A empresa, que atua na produção e comercialização de grãos, encerrou o trimestre com lucro líquido 7,8% menor do que o registrado no mesmo período de 2023, para R$ 321,4 milhões.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado, por sua vez, derreteu 53,4% na comparação anual, ao alcançar R$ 258,1 milhões. Diante disso, a margem Ebitda ajustado caiu 19,2 pontos percentuais (p.p.), a 19,1%. O resultado ficou abaixo das estimativas da Bloomberg, de Ebitda de R$ 387,7 milhões.
A SLC Agrícola também viu a sua receita líquida cair no segundo trimestre, para R$ 1,35 bilhão, ficando 6,4% abaixo do apurado há um ano. Apesar da queda, o indicador foi influenciado pelo faturamento do segmento de algodão em pluma, com salto positivo de 73,2%, ao atingir R$ 778,2 milhões.
Em entrevista ao AgFeed, o diretor financeiro e de relações com investidores da SLC, Ivo Brum, destacou que o segundo trimestre, que marca a colheita da soja no fim de abril, teve resultado atípico.
Além disso, o clima afetou a produção de soja e milho segunda safra em Mato Grosso, que ainda sofre com chuvas irregulares. Com isso, a produtividade da soja e do milho caíram 17% e 7%, respectivamente.
“Um dos carros-chefes do primeiro semestre da companhia, a soja, produziu bem abaixo da expectativa. Infelizmente, colhemos menos soja e também entregamos menos soja. E ela tem impacto relevante no trimestre”, comentou.
Com menos soja colhida, as vendas da cultura caíram no período. A SLC comercializou 259 mil toneladas da oleaginosa, volume 27,4% menor do que o visto um ano antes.
O resultado por tonelada levou um tombo de um ano para o outro, de 94,6%, saindo de R$ 965 em 2023 para R$ 52 este ano.
Em relação ao milho, o volume vendido exibiu leve melhora, de alta de 2,7%, com 32,3 mil toneladas vendidas. Por outro lado, o resultado por tonelada derreteu 66,8%, de R$ 428 para R$ 142.
Algodão mostra força
Enquanto soja e milho apresentam quedas, outra cultura vai empilhando resultados positivos. Foco dos negócios da SLC, a venda de algodão disparou 58,9% na comparação com o segundo trimestre do ano anterior, com 81,4 mil toneladas vendidas. A cultura viu o preço por tonelada subir 15,4% em um ano, para R$ 3,3 mil.
O caroço de algodão também apresentou variação positiva na comercialização, de 84,3%, chegando a 33,4 mil toneladas. Diante disso, a produção de algodão compensou “um pouco” a perda do milho, ressaltou Brum.
O executivo da SLC observou que a cultura apresentou um movimento atípico neste ano em razão dos atrasos nos embarques em 2023.
“O Brasil teve uma super produção de algodão. Porém, nós não temos capacidade portuária para embarcar todo o algodão produzido, o que acabou atrasando e isso foi diluindo ao longo deste ano”, relatou.
Contudo, Brum acredita que esse movimento deve “virar rotina”, com carregamento de algodão durante todo o ano porque a capacidade portuária do País não cresceu em linha com a produção de algodão.
“Antigamente, o carregamento era até março”, completou. Em meio ao cenário mais positivo para o algodão, o diretor financeiro e de relações com investidores adianta que a SLC deverá aumentar a área plantada para a safra 2024/2025.
Cenário otimista mesmo com adversidades
Ao fim do semestre, os resultados não foram diferentes. A companhia encerrou os primeiros seis meses do ano com lucro líquido de R$ 550,3 milhões, redução de 40,4% no comparativo anual. O Ebitda ajustado recuou 37,6%, ao somar R$ 962,3 milhões. A margem ficou em 29,1% ao fim do semestre, caindo 13 p.p.
Já a receita líquida somou R$ 3,30 bilhões de janeiro a junho, queda de 9,7% em relação ao observado um ano antes.
Brum reforçou que, apesar dos números menores no comparativo ano a ano, a empresa mostra resiliência e está otimista em relação ao consolidado de 2024.
O executivo esclarece que a companhia não deverá fechar o ano com resultados acima do visto ao fim do ano passado. “Não vamos entregar o que gostaríamos, mas será um resultado bastante resiliente aos problemas que nós estamos enfrentando agora, de perda de produtividade e queda de preço. Mas entregamos no primeiro semestre um resultado bem positivo”, completou.
A empresa encerrou junho com dívida líquida ajustada de R$ 4,24 bilhões, crescendo em R$ 1,37 bilhão na base anual, refletindo o aumento na necessidade de capital de giro devido ao pagamento dos insumos agrícolas da safra 2023/2024. A SLC reforça que é esperado um crescimento da dívida nesse período, considerando o ciclo financeiro do negócio.
Com isso, a companhia registrou alavancagem financeira (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) de 1,99 vez, acima do registrado ao fim de dezembro de 2023.
A companhia teve suas terras avaliadas em R$ 11,59 bilhões em 2024, segundo um estudo realizado pela consultoria Deloitte e divulgado no fim de junho. O montante ficou 6% acima do registrado no ano passado, em linha com o aumento dos preços de terras no Brasil.
Essas terras somam 661,3 mil hectares de área plantada, sendo 22 unidades em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e no Piauí.