O mercado brasileiro de insumos biológicos cresce a taxas próximas de 30% ao ano. Novas empresas chegam ao mercado a todo momento, ampliando a competição e demandando investimentos de quem já está no mercado há mais tempo.
Uma das líderes nesse ambiente fragmentado, a Simbiose, empresa com sede em Cruz Alta (RS), não assiste a esse movimento de braços cruzados. Além de investir para atender aos pedidos crescentes do mercado interno, a empresa move-se para se posicionar como uma multinacional brasileira do setor de biológicos, levando seus produtos para os Estados Unidos e países europeus.
A chave dessa expansão está na linha de inoculantes biológicos, produtos desenvolvidos para ajudar as plantas na absorção de nutrientes como o fósforo, componente fundamental para a fotossíntese, a divisão celular e até mesmo na carga genética de uma cultura de soja e milho, por exemplo.
A Simbiose, comandada pelo empresário Marcelo Godoy de Oliveira, criou soluções biológicas para potencializar esse processo.
Segundo Oliveira, os defensivos representam o principal negócio da empresa de microbiológicos. Mas o solubilizador de fósforo é o produto de maior crescimento no momento.
O item tem ajudado no rápido crescimento do faturamento da empresa, de 40% por ano em média nos últimos anos. No ano passado, a empresa chegou a fazer parte da holding Go Exper, ao lado de outras marcas do setor de bioinsumos como. Este ano, segundo informa a Simbiose, "retornaram ao seu antigo sistema de administração e gestão, seguindo independentes no mercado".
A Simbiose mantém o ritmo forte, mesmo em um ano mais complexo, em função da redução dos preços das commodities agrícolas. “Nesta próxima safra, por conta da estratégia do produtor de atrasar a compra de insumos, esperamos uma dinâmica um pouco diferente, com crescimento entre 30% e 40%”, diz o executivo.
A empresa tem um programa de investimentos de mais de R$ 300 milhões em sua planta localizada em Cruz Alta, a cerca de 350 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A fábrica foi adquirida em 2010 pelo grupo de Oliveira, que começou a atuar com a produção de hortifrutis na região metropolitana de Curitiba há cerca de 30 anos.
A compra da fábrica, hoje uma das maiores para a produção de insumos biológicos no País, marcou a entrada da empresa no setor.
“Para os próximos cinco anos, a nossa capacidade instalada é mais que o suficiente para absorver o crescimento esperado. Mas pensando na chegada ao mercado americano, e também em novos produtos com fungos e bactérias, vamos ampliar essa capacidade”, diz Oliveira.
Nos Estados Unidos, o produto da Simbiose está sendo testado em 12 estados. A estratégia da Simbiose em solo americano é contratar universidades, que utilizam áreas de cultivo para aplicar a solução que ajuda na absorção de fósforo.
As experiências estão, literalmente, em campo. “Vamos ter que esperar a colheita para termos os resultados. O que é possível perceber nas plantas é um crescimento muito melhor, quando se compara com áreas que não utilizam o produto”, diz o CEO da Simbiose.
A companhia terá, no entanto, que superar o desafio da pequena adoção de produtos biológicos pelo produtor americano. Diferentemente do Brasil, onde o clima tropical e o fato de os produtores plantarem até três safras por ano potencializa a demanda por defensivos em geral, nos Estados Unidos os invernos mais rigorosos ajudam no controle de pragas, normalmente combatidas com o uso de químicos.
Por isso, a opção por produtos relacionados à nutrição das plantas parece mais adequada para uma primeira inserção por lá. “Há uma questão cultural, e faltam empresas para desenvolver o mercado por lá. Agora estão surgindo algumas startups”, diz Oliveira.
O empresário projeta um período entre três a quatro anos para que a percepção sobre a melhora da produtividade amadureça no agronegócio por lá.
A “viagem internacional” da Simbiose não se restringe só aos Estados Unidos. A empresa já conseguiu o registro do produto na Alemanha. “Isso abre as portas para entrar em outros países da União Europeia, como França e Espanha”, afirma Oliveira.
A empresa também está em processo de registro em países vizinhos, como Colômbia e Argentina, e está presente na África do Sul e em outros seis países do continente africano.
O produto contou com uma pesquisa de 18 anos pela Embrapa, com a coordenação de Christiane Abreu de Oliveira Paiva, da unidade de Milho e Sorgo da estatal de biotecnologia.
No Brasil, a Simbiose faz um acompanhamento em cerca de mil propriedades que utilizam o solubilizador de fósforo. Segundo este levantamento, há um aumento de 5 sacas por hectare na produção de soja, e de até 12 sacas por hectare no milho, em média.
O CEO da Simbiose explica que as bactérias presentes na solução, que foi desenvolvida juntamente com a Embrapa, ajudam as plantas a utilizar o fósforo que fica acumulado no solo.
O avanço da Simbiose tem chamado a atenção de gigantes do setor de proteção a cultivos. Há dois anos, por exemplo, a empresa fechou uma parceria com a multinacional americana Corteva para desenvolver produtos biológicos para produtores de cana-de-açúcar, soja e milho.
A parceria visa principalmente incorporar os produtos desenvolvidos pela Simbiose no portfólio da Corteva no Brasil e, segundo a empresa brasileira, não há relação entre a parceria e o processo de internacionalização da Simbiose. A candidata brasileira a multinacional de biológicos garante que está pronta para dar esse passo com as próprias pernas.