Fundada há mais de 15 anos, a empresa gaúcha de insumos biológicos Simbiose, surfou na onda do crescimento rápido desse mercado no Brasil. Durante mais de uma década, manteve um crescimento médio de 40% ao ano, colocando-se entre as maiores do País em seu segmento.
Marcelo de Godoy Oliveira, CEO da companhia, nunca escondeu, entretanto, que sua ambição era maior que as fronteiras brasileiras. Desde 2023, por exemplo, ele vem testando seus produtos em território americano, enquanto prospecta possíveis parceiros para distribuir seus produtos por lá.
Antes disso, porém, a jornada da Simbiose como multinacional dos biológicos – plano antecipado por Oliveira ao AgFeed há um ano e meio – começará do outro lado do Oceano Atlântico.
O primeiro passo será a venda de solubilizador biológico de fósforo, feito a partir de uma bactéria, para o agro europeu em parceria com a gigante americana Corteva. As duas empresas firmaram recentemente um acordo que faz da companhia americana a distribuidora dos produtos da brasileira no Velho Continente.
Por lá, a empresa está atualmente no processo de registro do produto. Felipe Fiorese, líder de mercado internacional da Simbiose, afirmou que a empresa já tem um CNPJ na União Europeia, e que o primeiro país que receberá os biológicos brasileiros será a Alemanha. O objetivo da parceria é, no futuro, levar outros produtos do portfólio para diversos países.
“Olhamos a França como o segundo país, junto da Romênia, Itália e Bélgica”, afirma Oliveira.
Enquanto no Brasil a companhia atua em todo o território com foco em culturas de grãos e cereais, na Europa o mercado está mais focado em culturas de hortifruti, como tomate, cenoura, beterraba e também cereais de inverno.
O mochilão europeu não é novo. Este ano marca a quarta temporada em que a empresa está provando e testando seu produto na Europa.
Em 2024 a companhia obteve os laudos de comprovação de eficácia e, superada essa etapa regulatória, seja burocrática ou agronômica com players locais, 2025 era justamente o ano de fechar parcerias de distribuição para entrar no mercado no ano que vem.
Na Europa, a Corteva assumiu essa função, com o direito de distribuição exclusiva para o solubilizador de fósforo biológico da Simbiose. A gigante americana tem uma meta de alcançar US$ 1 bilhão de receitas anuais em seus negócios de biológicos até o fim da década.
“Estamos continuamente buscando inovações que ajudem os produtores a se adaptarem aos desafios ambientais e de produtividade. A combinação da qualidade do portfólio da Simbiose com nossa capacidade de P&D e agronomia local nos deixa um passo mais perto deste objetivo”, disse, em nota, Frederic Beudot, Vice-Presidente de Produtos Biológicos da Corteva Agriscience.
Para o CEO da Simbiose, a colaboração abre o mercado europeu e cria um bom precedente para a companhia, que mostra que pode atuar em um mercado exigente em relação à qualidade e também a aspectos ambientais.
“Esta colaboração tem tudo que é necessário para ter sucesso, especialmente em um mercado que busca cada vez mais produtividade, com soluções sustentáveis e alta tecnologia”, afirmou.
A situação de expansão internacional é parecida nos Estados Unidos, onde a companhia já conta com 15 estados em que o solubilizador de fósforo está em testes. Felipe Fiorese, gerente de Negócios Internacionais da Simbiose, vê que o mercado americano é mais burocrático.
Por lá, as validações com o EPA (Environmental Protection Agency), órgão relacionado à validação de produtos, equivalente ao Mapa no Brasil, começaram em 2021.
Com o ok da instituição em 2022, a Simbiose iniciou a trajetória de testes em soja e milho em estados produtores locais.
“Começamos esses testes com consultorias independentes e em 2024 conseguimos os laudos de comprovação de eficácia e de segurança técnica. O produto respondeu ao solo americano”, disse Fiorese.
Com os laudos em mãos, a companhia iniciou incursões comerciais, já pensando em parceiros, com cooperativas e outras multinacionais.
Assim, também nos EUA, 2025 será um ano de negociações. Mesmo começando um ano depois, na Europa o processo está um pouco à frente, já que a Simbiose já fechou o acordo com a Corteva como parceiro comercial.
Crescimento em um momento mais complexo
Enquanto pensa no exterior, Marcelo de Godoy Oliveira, CEO da Simbiose, viu um mercado mais lento no Brasil no ano passado.
Por mais que o segmento de biológicos ainda cresça a passos largos, a uma média superior aos 12% ao ano no Brasil, a Simbiose cresceu menos em 2024.
Com a definição de compra por parte dos produtores atrasada que alterou a logística, somada aos estresses no crédito por conta de recuperações judiciais, a Simbiose focou em grandes clientes como cooperativas, revendas e grupos que, segundo o CEO, possuem um “sólido histórico de planejamento econômico”.
“Limitamos um pouco mais o crédito, mas tivemos aumento na participação de área cultivada com nossas tecnologias. Crescemos mesmo diante das limitações”, disse, sem entrar em detalhes.
A empresa não divulga os números de mercado, mas só no solubilizador de fósforo que vai ganhar ares internacionais, a estimativa é de uma participação de 10% na área total de soja plantada no Brasil. O produto, que foi desenvolvido junto da Embrapa, também atua no milho e na cana.
Oliveira estima que a tecnologia está em mais de 4 milhões de hectares no País, com a adoção crescendo ao longo dos anos.
A fábrica da empresa, localizada em Cruz Alta (RS), produz biológicos a partir de bactérias, vírus e fungos. Nos cálculos do CEO, a empresa tem uma capacidade produtiva que pode atingir até 20 milhões de hectares, no caso das bactérias, 15 milhões nos fungos e 6 milhões de hectares com os vírus. No site da empresa são listados mais de 30 produtos.
Mesmo com dificuldades no mercado, a empresa investiu, nos últimos anos, R$ 300 milhões em sua fábrica para ampliação de capacidade fabril, já de olho na expansão internacional.
A unidade foi adquirida em 2010 pelo grupo de Oliveira, que começou a atuar com a produção de hortifrutis na região metropolitana de Curitiba há cerca de 30 anos.
A compra da fábrica, hoje uma das maiores para a produção de insumos biológicos no País, marcou a entrada da empresa no setor.
Um futuro consolidador
Mesmo sendo uma das pioneiras no mercado de biológicos, a empresa não olha o nascimento de novas startups focadas no segmento de braços cruzados.
O CEO Marcelo de Godoy Oliveira disse que a companhia prepara o lançamento de alguns produtos para este ano por aqui. Por ano, a empresa investe R$ 40 milhões em pesquisa e desenvolvimento.
“Somos referência no mercado de solubilização via biológicos, que foi praticamente criado por nós e pela Embrapa. Somos líderes em bionematicidas”, afirmou o executivo.
Para o futuro do mercado, Oliveira acredita que muitas das novas startups de biológicos, muitas vezes criadas por pesquisadores que descobrem uma nova cepa, vão “ficar pelo caminho”.
“Hoje os biológicos são a vitrine do mercado global de agro. Todo mundo quer biológico e, com isso, todos querem entrar e aproveitar a onda verde. Vejo startups e empresas aproveitando esse mercado com tecnologias que não entregam resultado e segurança”, disse.
É por isso que ele acredita que a incursão estrangeira pode também melhorar o mercado da companhia por aqui. Além disso, ele vê o mercado de biológico passando por consolidações nos próximos anos, com compras e fusões de empresas.
Perguntado se a Simbiose pode ser uma dessas consolidadoras, o CEO disse que sim. “Não estamos com os olhos fechados para isso. Se entendermos que uma tecnologia que surgiu faça sentido para nós e que tenha comprovação, existe a possibilidade de uma aquisição”, declarou.