Maior empresa de capital fechado dos Estados Unidos e uma das maiores companhias de controle familiar no mundo, a Cargill não precisa, diferentemente das principais concorrentes ADM, Bunge e Louis Dreyfus (LDC), comunicar ao mercado suas decisões - desde a pandemia, por exemplo, não publica resultados.

Assim, foi uma reportagem da agência Reuters, publicada no final da quinta-feira, 8 de agosto, que revelou a forma como a megatrading americana vai gerenciar o momento complexo atravessado pelo setor, com a queda generalizada dos preços das commodities agrícolas.

E o caminho, como tem acontecido em outras empresas do setor, é tentar ficar mais leve, enxugando quadros e custos para recuperar as margens e voltar a atingir metas de lucros.

Para isso, o CEO da companhia, Brian Sikes, no cargo há um ano e meio, decidiu realizar uma grande transformação interna, com o objetivo de concentrar as operações em um número menor de líderes e buscar economias com as sinergias entre as diferentes divisões.

O primeiro passo nesse sentido, segundo a reportagem da Reuters, será a redução do número de unidades de negócios da empresa de cinco para três.

Até agora, a empresa dividia suas operações entre as áreas de cadeias de suprimentos agrícolas, proteína e sal, nutrição e saúde animal, alimentos e bioindústria e serviços financeiros e metais.

Agora, elas foram reorganizadas nas divisões de alimentos, agricultura e comércio e portfólio especializado, de acordo com fontes ouvidas pela agência.

A Cargill, em resposta à reportagem, emitiu apenas uma nota em que não negava a reorganização, mas também não confirmava seus detalhes.

"Ao olharmos para o futuro, traçamos um plano claro para evoluir e fortalecer nosso portfólio para aproveitar as tendências atraentes à nossa frente", dizia o comunicado.

O estopim das mudanças teria sido o desempenho da empresa nos últimos meses. Dois terços dos negócios da Cargill tiveram desempenhos inferiores às metas estabelecidas pela direção da empresa.

A gigante das commodities seguiu o mesmo roteiro das rivais do chamado ABCD do comércio global. ADM, Bunge e LDC também relataram quedas expressivas de lucros.

No caso da Cargill, porém, também pesou o fato de a companhia ter no seu portfólio de negócios uma grande operação para produção de carnes nos Estados Unidos – onde é a terceira maior empresa processadora de bovinos. Esse mercado encolheu de forma drástica nos últimos meses, levando o país a registrar o menor rebanho nos últimos 70 anos.

A reorganização da empresa prevê cortes nas alta gestão e a redesignação de alguns executivos do primeiro time. A divisão de agricultura e comércio deve ficar a cargo de Roger Watchorn, que estava à frente da antiga área de cadeia de suprimentos agrícolas.

Jon Nash, que comandava a área de proteínas e sal, será responsável pela divisão de alimentos. Caberá a David Webster, atual diretor de risco, o segmento agora chamado de portfólio especializado.

Não se descarta a realização de demissões. Em julho, a Cargill promoveu o corte de cerca de 200 pessoas que atuavam na área de tecnologia em vários países.

Essas dispensas estariam, entretanto, relacionadas a outro movimento da empresa, que está construindo um centro de tecnologia na cidade americana Atlanta, que absorveria 400 trabalhadores em funções diferentes das eliminadas.

"Para atender aos nossos clientes e ao futuro dos alimentos e da agricultura, estamos construindo novas tecnologias digitais e recursos de dados", disse a empresa em um comunicado na ocasião. "Isso significa eliminar algumas funções em vários locais."