Ignacio Moyano Córdoba passou por alguns meses sabáticos desde o final de 2022. O argentino, então CEO da Stoller para o Brasil, resolveu sair da empresa após a compra do grupo pela Corteva, numa transação que envolveu US$ 1,2 bilhão.
O executivo avaliou seu passado, que sempre estava envolvido com produtos químicos, e passou a planejar o final da carreira, que ainda deve durar “uns 10 anos”. “Não queria ter a carreira toda nos químicos, quero ser parte da revolução dos biológicos”.
Sempre entusiasta da biotecnologia, com algumas propostas de emprego em mãos, decidiu procurar a equipe da Rizobacter, empresa argentina de biológicos que pertence ao grupo Bioceres.
Com possibilidade de atuar com produtos biológicos em mãos e vislumbrando um futuro que ele acredita que esse tipo de produto chegará a 50% do mercado, nesta semana ele foi oficializado como o novo diretor de negócios no Brasil.
“Imagina você ir numa farmácia e 50% dos produtos lá são naturais. Isso vai acontecer no agro dentro de 15 ou 20 anos, com uma troca grande na comercialização de produtos. Nisso, a Rizobacter tem uma linha interessante para atuar, com um portfólio biotecnológico de bionematicidas e bioinceticidas que pode revolucionar o mercado”, comentou Córdoba ao AgFeed.
Com isso, grande parte de seu novo trabalho será em dar mais tração a essas linhas no portfólio da Rizobacter. Segundo ele, desse mercado de 50% de biológicos, a maior parte estará ligada aos bionematicidas e aos bioinceticidas.
Para ajudá-lo na missão, a empresa, que até então importava esses produtos dos EUA, passará a contar com uma fábrica nova em Londrina, no Paraná, a partir de novembro. A instalação, que segundo o diretor será moderna e digitalizada, terá uma capacidade inicial de 10 milhões de litros.
Esse número ainda pode aumentar, já que segundo Córdoba, a inauguração em novembro será apenas da primeira fase do projeto. Com tudo instalado, e com três turnos de produção, a capacidade pode escalonar em até cinco vezes.
A escolha do local também foi estratégica para a Rizobacter. “A fábrica está no centro do Paraná, uma região que consome muita biotecnologia no campo. Estimamos que 22% do mercado está aqui e o lugar também é estratégico para mandarmos produtos para o centro-oeste”, comenta.
O investimento projetado para a instalação era de R$ 40 milhões, mas o executivo disse que o montante final foi um pouco maior, perto dos R$ 50 milhões. Essa instalação se soma à fábrica de adjuvantes que a empresa possui em Cambé, também no Norte do Paraná.
A nova gestão irá encarar um desafio de educação com os produtos. Segundo o diretor, os biológicos não são fáceis de aplicar e, pela sensibilidade de estar atuando com organismos vivos, precisa de muita interação em conjunto com os produtores.
“O segredo não está só em achar a bactéria mais eficiente e sim na aplicação correta”, comenta.
Apesar da dificuldade, alguns fatores jogam a favor, segundo o diretor. Primeiro, o fato de o Brasil ser um dos países que o consumo de biológicos mais cresce na América Latina.
Além disso, ele vê o produtor médio brasileiro mais jovem do que anos atrás, numa faixa entre 35 e 50 anos, o que o faz, segundo Córdoba, ser mais responsável e atento a esse tipo de tecnologia e qualidade dos produtos.
“Essa demanda crescente não vem só das empresas, e sim dos governos e consumidores. Entre consumir um milho com inseticida químico e um biológico, a preferência vem no segundo. O consumidor está direcionando as necessidades das empresas ", comenta.