Londrina (PR) - É quase consenso no mundo agro que produtor rural é cético por natureza. No estilo São Tomé, que precisa ver para crer, ele observa muito sua lavoura antes de intervir em alguma prática que executa no dia a dia.

Tanto que, em muitos casos, novas tecnologias desenvolvidas por empresas do setor demoram alguns anos para pegar tração dentro das fazendas. Para encurtar esse tempo, a multinacional argentina Rizobacter quer trazer o produtor para dentro do seu laboratório, e mostrar, na prática, o real efeito dos produtos utilizados no campo.

Nessa semana a companhia inaugurou um “laboratório aberto” dentro de sua fábrica localizada em Londrina (PR).
Rafael Liu, gerente de produtos da linha de adjuvantes na companhia, afirmou que o LEAF (Laboratório de Avaliação de Adjuvantes e Formulações) está pautado em trazer tecnologias disruptivas, gerando informações de mercado e posicionando os produtos da própria Rizobacter de forma mais efetiva.

“Esse laboratório será o grande acelerador de tecnologias que estão vindo para o Brasil. Daqui 15 ou 20 anos, o mercado de biosoluções será equivalente ao de químicos, e com adjuvantes corretos, podemos trazer uma aplicação mais segura e eficiente para os biológicos”, afirmou Liu.

A ideia da empresa é ganhar mais participação no mercado de adjuvantes no Brasil e na América Latina, como explicou ao AgFeed o vice-presidente global de marketing da Rizobacter, Agustin Biagioni.

Segundo o executivo argentino, que estava no Brasil para a inauguração do novo laboratório, a Rizobacter é líder do mercado de adjuvantes biológicos na América Latina, com uma participação de cerca de 30%.

A intenção da empresa, com a nova empreitada, é acelerar o desenvolvimento de novos produtos e conquistar um percentual equivalente também no Brasil. “Olhamos o mercado somente com nossas soluções de adjuvantes premium, que tem um diferencial tecnológico”, afirmou.

Na prática, o LEAF é um laboratório que receberá a visita de produtores, que por sua vez, levarão demandas e problemas que ele enfrenta na prática, dentro da lavoura.

Na instalação, os cientistas da Rizobacter irão simular condições ambientais, manejos e misturas a fim de identificar o que tem dado errado na prática e as soluções para resolver os problemas.

“Quando nós damos uma orientação determinada para o produtor, via de regra em todo mundo, ele é cético e tem dúvidas. Mas quando você mostra informações e a diferença de resultado é diferente”, comenta Biagioni.

O laboratório então permite que os produtores tragam qualquer produto de qualquer marca, desde que garantam a segurança e forneçam as informações de aplicação. Trazendo a ciência para mais perto do produtor resolver seus problemas pode, no fim das contas, virar um novo produto da companhia.

A Rizobacter tem um laboratório desse tipo na Argentina há três anos e a experiência acumulada no país vizinho foi incorporada no LEAF brasileiro. Se o mercado local for receptivo com a iniciativa, a ideia é inaugurar um terceiro LEAF nos Estados Unidos.

A experiência em terras vizinhas com os produtores serviu para a companhia desenvolver o Integrum, um adjuvante que gera uma microemulsão e consegue juntar vários herbicidas em um mesmo tanque.

“A combinação de herbicidas que se utiliza hoje é muito mais complexa do que a combinação de 10 anos atrás, e algumas misturas são ruins para o cultivo. Desenvolvemos um produto para que essas misturas permaneçam estáveis”, explica Agustin Biagioni.

Atualmente, o portfólio da Rizobacter está focado em atender as culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, café, algodão e trigo. Apesar disso, Biagioni vê um caminho para a empresa conquistar também o mercado de hortifruti no País.

Ele cita que há dois anos a Bioceres, dona da Rizobacter, adquiriu a Profarm, uma empresa dos EUA que desenvolve biosoluções há 15 anos no norte da América. O executivo explicou que a Profarm tem uma forte atuação em hortifruti na região da Califórnia e a ideia é combinar produtos da Rizobacter com essas soluções e, no futuro, trazê-las para o Brasil.

O LEAF está inserido dentro da fábrica brasileira da Rizobacter, localizada em Londrina e inaugurada no final do ano passado.

No Brasil desde 1998, a empresa contava com uma pequena instalação em Cambé, também no estado. A opção por uma instalação em Londrina se deu pela posição da cidade dentro do Paraná.

“A fábrica está no centro do estado, uma região que consome muita biotecnologia no campo. Estimamos que 22% do mercado está aqui e o lugar também é estratégico para mandarmos produtos para o Centro-Oeste", comentou Ignacio Córdoba, diretor de negócios da Rizobacter no Brasil.

A instalação recebeu cerca de R$ 50 milhões em investimentos de 2021 até o ano passado e possui uma capacidade atual de 10 milhões de litros de produtos por ano. A unidade ainda não opera em sua capacidade máxima, e a ideia é aumentar a produção nos próximos anos.