A principal fonte de receita da Terra Santa Propriedades Agrícolas é o arrendamento de terras, feito para um único parceiro, a SLC Agrícola. Por isso, o balanço da companhia costuma ser, como o próprio documento define, previsível.
Ainda assim, ao divulgar seus resultados referentes a 2023 na noite da segunda-feira, 18 de março, a empresa apresentou dados que demonstram como a queda das cotações das commodities agrícolas, especialmente a soja, impacta no setor como um todo.
Segundo os termos dos contratos de arrendamento com SLC, a Terra Santa recebe, ao final de abril de cada ano, o valor correspondente a 17 sacas de soja por hectare arrendado – esse valor é renegociável a cada 3 anos.
“Com o objetivo de antecipar a fixação do preço da soja e evitar exposição às flutuações e preço da commodity no momento do recebimento do valor correspondente ao arrendamento, a companhia, observando os melhores momentos de preço futuro da soja de acordo com a Bolsa de Chicago (CBOT) bem como do dólar, fixa antecipadamente o preço da soja buscando maximizar suas receitas futuras”, explica a empresa.
A receita líquida obtida no ano passado, de R$ 91,7 milhões (3,5% inferior a 2022) reflete, assim, o cenário de depreciação das commodities. Segundo explica a companhia, dois terços dela são provenientes dos valores fixados no contrato para a safra 2022/2023, com a saca da soja a R$ 149,20.
O outro terço já considera “a média ponderada valores médios entre o preço bruto fixado até 31 de dezembro de 2023 (R$ 113,31/sc) e preços de mercado”. Outros itens, como receitas financeiras e de aluguel de imóveis urbanos, têm peso pequeno no total.
Com esse novo patamar impactando o quarto trimestre, a receita líquida de arrendamento nos últimos três meses foi R$ 21,3 milhões inferior ao mesmo período em 2022. O lucro bruto do trimestre foi de R$ 18 milhões, contra R$ 22,9 milhões no mesmo período de 2022.
O ponto positivo destacado no balanço foi a elevação da margem Ebitda em 4,1% no quarto trimestre. Isso foi obtido graças, sobretudo, a um esforço de redução de custos administrativos, já que a Terra Santa não tem operações.
A redução ficou em 15,4% quando comparado a igual período do ano anterior, “o que corrobora o compromisso da companhia em reduzir as despesas, principalmente diante de um cenário de preço de soja desafiador”. Segundo o release de divulgação dos resultados, “esses gastos foram compostos majoritariamente por despesas gerais e administrativas, no valor de R$ 24,6 milhões em 2023, contra um valor de R$ 28,6 milhões em 2022, sendo observada a redução na contratação de serviços de terceiros e na remuneração de administradores”.
Por outro lado, o endividamento deu um salto de quase 300%, com a dívida líquida saltando de R$ 27,7 milhões ao final de 2022 para R$ 108,3 milhões em 2023. Com isso, a relação dívida líquida/EBITDA Ajustado passou de 0,4x para 1,58x.
Segundo a empresa, as variações são explicadas por captação para o cumprimento de obrigações com acionistas, manutenção de capital de giro e quitação de dívidas de curto prazo.
Outro reflexo da queda nas cotações da soja se deu no valor patrimonial das propriedades da empresa. Segundo comunicado feito pela própria Terra Santa à CVM em janeiro passado, as terras e benfeitorias de sete fazendas no estado de Mato Grosso foram avaliadas pela S&P Global em R$ 2,99 bilhões, resultado quase R$ 700 milhões menor que os R$ 3,63 bilhões obtidos em avaliação semelhante feita um ano antes.