O ano de 2024 para a Raça Agro, rede de insumos para a agropecuária, foi uma verdadeira montanha russa.
Após ser alvo de boatos de que entraria em recuperação judicial, em virtude de um pedido de proteção de 60 dias contra seus credores, a companhia sentou-se à mesa, renegociou e alongou dívidas. Agora, no fim de dezembro, já vislumbra um ano de 2025 mais positivo.
Segundo o CEO da companhia, João Fagundes, empresário mato-grossense que toca o negócio desde 2007, a meta da companhia é faturar entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões em 2025.
“Terminando o orçamento, vimos uma sinalização de um faturamento acima de R$ 450 milhões no ano que vem. Como estamos vendo uma recuperação nos preços de insumos, já discutimos chegar aos R$ 500 milhões”, disse o CEO ao AgFeed.
O faturamento em 2023 foi de R$ 313 milhões. Em 2024, a companhia deve encerrar com uma receita de R$ 340 milhões.
Quem voltasse no tempo encontraria um executivo mais preocupado, com um caixa de menos de R$ 20 milhões há um ano e dívidas que beiravam os R$ 300 milhões.
“Nosso plano sempre foi o de mostrar para o mercado que o grupo continua forte, produzindo e com perspectiva de crescimento. E isso já vem sendo visualizado na prática”, afirmou.
“Em novembro, por exemplo, o faturamento foi de mais de R$ 40 milhões, com uma margem de lucro operacional já em níveis normais, entre 8% e 10%”, explicou Fagundes.
Para crescer em 2025, a agenda da Raça Agro é vertical. Sai de cena a compra de empresas e expansão das lojas e entra um movimento de ter mais market share, aumentar o portfólio e entrar em novos mercados.
Mesmo em meio a uma Selic alta, o dólar valorizado frente ao real deve fortalecer o negócio de exportação de sementes. Junto a isso, um cenário de arroba do boi mais favorável frente a 2023 pode aquecer os negócios.
As 20 lojas em operação pelo País ainda devem ganhar novos serviços. A rede possui 16 unidades em Mato Grosso, uma em Coxim (MS), outra em Redenção (PA), duas em Goiás (São Miguel do Araguaia e Jussara) e outra em Ribeirão Preto (SP).
A companhia deve aumentar seu serviço de drones, com expectativa de vender mais de 70 aeronaves do tipo no ano que vem, o que deve trazer uma receita de R$ 20 milhões.
De acordo com Fagundes, a companhia comercializa drones pulverizadores da LongPing. A ideia é que esses equipamentos façam aplicações em regiões da fazenda que aviões ou outras máquinas não consigam, pela irregularidade do terreno.
Sentindo uma demanda aquecida para o setor de sementes para pastagens, a companhia deve faturar US$ 10 milhões (algo em torno de R$ 60 milhões na cotação atual), só com exportações de sementes no próximo ano.
Hoje a companhia exporta só para países de clima tropical, como nações latinas e países africanos. A ideia, no ano que vem, é passar a exportar outros produtos além de sementes, como por exemplo os drones agrícolas.
Segundo Fagundes, 30% do faturamento da empresa é originado de produtos de nutrição animal, como ração, sais minerais, energéticos, concentrados e proteinados. Parte é feita na indústria própria do grupo e parte é terceirizada.
Outros 40% da receita são de produtos para pastagem, como defensivos, fertilizantes e sementes, incluindo a receita de exportação. Um total de 15% são produtos de veterinária e o restante é de outros itens de varejo, como EPIs e máquinas encontradas nas lojas.
Um ano de altos e baixos
A Raça Agro chegou, de fato, a ficar próxima de entrar em uma RJ no início deste ano. Para chegar em dívidas que beiravam os R$ 300 milhões, é preciso voltar no tempo.
A Raça Agro foi criada em 1970 pelo atual senador do Mato Grosso, Wellington Fagundes. Quando João assumiu o negócio há alguns anos, deu início a uma agenda de expansão.
Depois de comprar a Suprema, uma revenda de insumos pecuários de Alta Floresta (MT), adquiriu a SGM Seeds, de sementes de pastagens, em julho de 2023.
“De 2019 até 2023 tivemos um crescimento significativo. A empresa viu seu faturamento sair de R$ 90 milhões para R$ 200 milhões, R$ 300 milhões e até R$ 400 milhões. Aproveitando um bom momento da pecuária, acessamos o mercado de capitais”, diz.
Nesse meio tempo, porém, a empresa encarou a mudança do ciclo da pecuária, que enfrentou um período de preços em queda entre o final de 2022 até meados de 2024, acrescentou.
“Prevíamos o ciclo de baixa, mas não na intensidade que ocorreu. Vimos preços de insumos que vendemos cair pela metade. Nessa queda, o público parou de comprar e o nosso estoque perdeu valor”, explica.
Após atravessar 2023 e o início de 2024 com margens negativas, a companhia iniciou o processo de reestruturação das dívidas com os credores no início deste ano. O conselho que Fagundes recebeu do advogado foi: fazer tudo enquanto há tempo.
Como o grupo se antecipou às dificuldades financeiras, Fagundes conta que a Raça Agro nunca ficou inadimplente.
As dívidas chegaram até a acender um alerta no mercado de capitais. Isso porque a companhia possui alguns CRAs encarteirados em Fiagros como o do Banco do Brasil, da Kijani e da Vectis.
Então, a empresa precaveu-se e pediu à Justiça uma proteção contra os credores. Com isso ganhou tempo e, depois de alguns meses de renegociações, conseguiu alongar o perfil da dívida e respirou aliviada.
No processo de reestruturação, a Raça Agro atuou junto com a Performa Partners, de André Pimentel, num trabalho que começou antes mesmo do pedido de proteção de credores.
Em janeiro deste ano a companhia buscou waivers. Segundo o CEO, a empresa percebeu que não cumpriria a alavancagem em 2023 e em 2024 estipulada nos empréstimos. Fagundes estima que as dívidas contemplavam 14 credores e cinco fornecedores.
Aí a empresa reparou que havia um problema nessas negociações: Em meio aos investidores de CRAs e Fiagros, são 25 mil investidores. “Fomos transparentes, e apresentamos a situação para os credores, para que não houvesse haircut. Precisávamos proteger o fluxo de caixa de curto prazo”.
De acordo com o CEO, o grupo só não conseguiu alongar 10% do valor da dívida. “Eram credores menores, com quem fizemos parcelamentos e já começamos a pagar”. Os outros 90% foram postergados, entre alongamentos para a carência do pagamento da dívida em si e também dos juros inclusos.
Passado o crescimento horizontal, Fagundes vê hora de crescer dentro de casa. “Muitas lojas são novas, algumas com menos de dois anos de funcionamento. Já conversamos com nossos fornecedores de químicos, que participaram do processo de reestruturação financeira, que queremos entrar também no mercado de insumos agrícolas”, revelou.
A ideia, segundo o CEO, é vender para pecuaristas que plantam milho para silagem ou que desejam iniciar rotação de cultura.
“O grupo Raça Agro que termina 2024 é muito melhor que o que começou o ano. Fizemos uma reestruturação importante, investimos em gestão, governança, estruturamos passivo, e de quebra, encontramos uma pecuária mais animada com mais demanda”, concluiu o executivo.