A Petrobras parece estar mesmo disposta a retornar ao mercado de fertilizantes. Segundo uma fonte ouvida pelo AgFeed, a empresa poderá fazer um um investimento de cerca de US$ 800 milhões (R$ 4,4 bilhões) para concluir o projeto da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III, mais conhecida pela sigla UFN-III, localizada em Três Lagoas (MS).

As obras dessa unidade, que haviam começado em 2011, estão paralisadas desde 2014, quando cerca de 81% da unidade já estava concluída. O projeto previa capacidade de produção de 3.600 toneladas/dia de ureia e 2.200 toneladas/dia de amônia.

Ainda segundo a fonte ouvida pela reportagem, há a possibilidade de que as obras sejam retomados já em dezembro deste ano.

O aporte deve constar no plano estratégico da Petrobras previsto para 2025-2029, que deve sair até o fim do ano.

A unidade chegou a ser colocada à venda em setembro de 2017, durante o governo de Michel Temer, e quase foi vendida para o grupo russo Acron em 2022, já na gestão de Jair Bolsonaro, mas o negócio não foi para frente.

Se o plano for concretizado ainda em 2024, seria o segundo movimento da companhia em menos de um ano para retomar sua presença no mercado de fertilizantes.

Em agosto, a estatal reabriu a Araucária Nitrogenados (Ansa), no Paraná, que estava desativada desde o começo de 2020, após acumular uma série de prejuízos desde que foi adquirida pela Petrobras em 2013, segundo o governo. O custo de reativação dessa unidade deve ser de R$ 870 milhões.

A Ansa tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, equivalente a 8% do mercado; 475 mil toneladas/ano de amônia; além de 450 mil m³/ano do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32).

No discurso de reabertura da Ansa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inclusive citou a fábica de Três Lagoas. "Não é só essa empresa [a Ansa] que foi fechada, não. Nós estávamos com 15% para terminar uma empresa em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. Simplesmente eles pararam. Simplesmente", disse o chefe do Poder Executivo.

A Petrobras tem outras duas plantas de fertilizantes, uma em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA), ambas arrendadas desde 2020 à Unigel, que paralisou a produção das duas fábricas temporariamente neste ano após ter dificuldades financeiras e prejuízos nas unidades.

O retorno da Petrobras aos fertilizantes é uma pauta que vem se impondo desde o começo do governo Lula. A empresa projeta investimento total de R$ 6 bilhões nesse segmento nos próximos anos.

Para justificar o aporte, o governo argumenta que o Brasil não pode ficar dependente de fertilizantes vindos de fora.

Com a alta dos preços dos insumos a partir da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando os valores chegaram a saltar 20%, o argumento uniu esquerda e direita – em 2022, o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto que instituiu o Plano Nacional de Fertilizantes, com a meta de diminuir a dependência de fertilizantes de 85% para 45% até 2050. Hoje, o país importa o insumo de países como Rússia, Omã, Irã, Argélia e Catar.

Parceria com Embrapa

Para avançar em suas metas de descarbonização – que também incluem os fertilizantes – a Petrobras assinou, nesta sexta-feira, 6, um termo de cooperação com a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) para o desenvolvimento de estudos para obter produtos de baixo carbono como biocombustíveis, química verde e fertilizantes.

A ideia é fomentar o desenvolvimento de fertilizantes com ureia de maior valor agregado, fertilizantes mistos, adubos com granulometria diferenciada, além de outros insumos com menor impacto ambiental.

"A companhia tem interesse em ofertar produtos fertilizantes para aumentar a disponibilidade no mercado nacional, bem como atender as metas do Plano Nacional de Fertilizantes. A Embrapa possui expertise necessária para ajudar a alavancar todas essas frentes”, disse a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em nota divulgada pela estatal.