A Aqua Capital, que mantém cerca de U$ 800 milhões em ativos sob gestão, não esconde que tem um fraco pelo mercado de insumos biológicos. E, sobretudo, pelos bons negócios que esse segmento – que reúne mais de 140 empresas e movimentou R$ 3,3 bilhões em 2022, segundo a CropLife – deve oferecer nos próximos anos.
Com três empresas investidas no setor – Biotrop, Solubio e Yes – a firma de investimentos em participações (private equity) acompanha atenta às oportunidades, com otimismo escancarado. Tomás Romero, um dos sócios do grupo, disse ao AgFeed nesta terça-feira, 20 de junho, que o segmento cresça até cinco vezes mais do que o mercado de insumos como um todo.
"Nos químicos tradicionais o crescimento das vendas em volume tem sido entre 4% e 6% ao ano, e nós acreditamos que nos biológicos, o avanço seja quatro ou cinco vezes maior que isso”, afirmou, em um intervalo do World Agri-tech South America Summit, em São Paulo.
O mercado, por sua vez, aguarda com expectativa os movimentos do Aqua. Uma possível venda da Biotrop, uma das principais empresas brasileiras de biológicos, com faturamento que deve atingir R$ 700 milhões este ano, é assunto recorrente nas rodas de conversa do setor.
Romero não comenta os rumores. Mas, perguntado sobre qual o motivo a empresa teria para fazer um desinvestimento na Biotrop em meio a mercado tão promissor, ele responde com a racionalidade dos investidores experientes: o Aqua, diz, é um fundo de private equity e faz parte do seu perfil estabelecer metas de valorização dos ativos.
Em reportagem recente, o AgFeed destacou que, segundo fontes do segmento de fusões e aquisições, o valor da venda da Biotrop, quando fechada, ficaria acima dos R$ 2 bilhões.
A expectativa de participantes de mercado é de que o negócio seja fechado muito em breve e que o comprador seja uma das grandes multinacionais do setor de defensivos agrícolas, do porte de Basf e Syngenta, por exemplo, já que, dizem as fontes, “o valor a ser investido não é para qualquer player”.
O sócio da Aqua Capital acredita que o movimento de fusões e aquisições no setor de biológicos deve prosseguir “com o crescimento de líderes claros, mas não de indústria”.
Para Romero, esse não é um mercado que vai ficar na mão de poucos players. “A consolidação tende a acontecer quando os mercados estão maduros”, afirmou. Para ele, esse ainda não é o caso nos biológicos.
Economista por formação, Romero fala com entusiasmo – e conhecimento agronômico – sobre os insumos biológicos e as vantagens do seu uso na agricultura. "Ao contrário dos químicos, os princípios de ação não são únicos”, diz. “Esses produtos cobrem várias frentes ao mesmo tempo, é um diferencial de versatilidade", destacou Romero.
Além disso, acredita que o apelo da sustentabilidade ambiental, da redução de gastos e até da segurança para os trabalhadores que atuam nas lavouras só reforçam a tendência de adoção crescente que vem sendo verificada no Brasil.
"Os biológicos têm uma velocidade de registro muito maior, leva em torno de um ano para autorização, enquanto um químico chega a demorar sete anos”, completa.
Tomás Romero admite que, neste cenário, haverá muitas oportunidades de investimentos no setor de biológicos nos próximos 10 anos e que a Aqua Capital deve manter seu foco em "novas tecnologias ou cadeias de distribuição".
Além da Biotrop, a Aqua também é acionista da Solubio, empresa de bioinsumos com modelo de negócios voltado aos produtores rurais que querem manipular os produtos nas próprias fazendas. Desde 2016, também controla a Yes, empresa de nutrição animal que também tem foco em soluções biológicas.
Na área de distribuição, o Aqua é responsável pela formação da AgroGalaxy, uma das líderes do processo de consolidação do segmento de comercialização de produtos e serviços voltados para o agronegócio no Brasil.
Algumas tecnologias, para Romero, devem oferecer maiores oportunidades de crescimento nos próximos anos. Ele citou o avanço dos inoculantes, que oferecem um papel complementar, reduzindo o uso de químicos, mas também mostrou entusiasmo com a tecnologia recente de biológicos para aplicação via folha.
Uma tecnologia deste tipo foi lançada esta semana pela gigante americana Corteva, outra que tem feito investimentos relevantes no segmento. Trata-se de um fixador biológico de nitrogênio aprovado para a cultura do milho e com aplicação foliar.
Segundo a empresa, o produto chamado de Utrisha N, possui uma cepa única da bactéria Methlylobacterium symbioticum, que converte o nitrogênio que está disponível no ar para nitrogênio amônio para a planta.
Na cultura da soja, a chamada fixação biológica de nitrogênio já é utilizada há anos e reduziu drasticamente a necessidade – e os custos – de determinados fertilizantes. Por isso, a nova tecnologia para o milho também é vista como promissora pelo mercado.
Na avaliação da Koppert, empresa que lidera o mercado de biológicos no Brasil, a tendência é de que o segmento siga crescendo 16% ao ano, como ocorreu nos últimos 5 anos, disse ao AgFeed o gerente de inovação da empresa, Felipe Itihara.
Segundo ele, as tecnologias com foco em fixação de nitrogênio, que fortalece a planta, também estão no foco dos produtos da empresa, mas entendem que esta linha precisa ser aliada ao controle de doenças, não pode ser a bioestimulação por si só.
Sobre a tendência de um maior interesse do mercado sobre produtos de aplicação foliar – algo destacado pelo sócio da Aqua Capital – o executivo da Koppert explica que a avaliação está relacionado ao potencial de captura de valor. “Nos mercados onde o preço tradicionalmente é baixo, é preciso trazer muita inovação para isso, fica mais difícil", disse Itihara.
"Nos foliares, se precifica para cima, levando em conta o turn over, tamanho de mercado, vezes o número de aplicaçação, vezes o preço, por isso o valor é maior e e maior o dinheiro em disputa no segmento foliar", explicou.
Itihara disse que a Koppert segue atenta a novas oportunidades de aquisição, mas não revelou detalhes sobre os próximos passos da empresa.