O mundo do vinho sempre cultivou um curioso fascínio por garrafas resgatadas de naufrágios - principalmente no Velho Continente. A curiosidade de enófilos e colecionadores é saber como esses vinhos, submersos a grandes profundidades e submetidos às altas pressões e às baixas temperaturas subaquáticas, amadurecem.

Degustações de garrafas içadas do mar proporcionam intermináveis debates entre os apreciadores. Até hoje ainda não se chegou a uma conclusão definitiva sobre os efeitos da imersão sobre a bebida. Mas nem por isso o encanto  pelos rótulos envelhecidos no mar diminui.

Há oito anos, quando a Vinícola Miolo, da Serra Gaúcha, atingiu a marca de 100 mil garrafas do seu Miolo Cuvée exportadas para vários países (dez mil vendidas somente na Soif D’ailleurs, em Paris), decidiu imergir um lote deste rótulo nas águas frias do Atlântico Norte, na Europa. O espumante gaúcho já contava então com dois anos de guarda.

A Miolo recorreu a uma empresa especializada neste tipo de operação, a francesa Amphoris, que imergiu 504 grarrafas no mar da Província de Bretagne, na França.

As garrafas permaneceram de outubro de 2016 a novembro de 2017 mergulhadas em uma cave submarina, a 60 metros de profundidade, na Ilha de Ouessant, na região conhecida como Baie du Stiff - sob rigorosa vigilância da Amphoris.

Depois de içadas, foram importadas e permaneceram nas caves da Miolo no Vale dos Vinhedos, até completarem dez anos. No início deste mês, as duas primeiras garrafas do Miolo Under The Sea foram abertas.

O AgFeed participou da degustação, nas caves da vinícola no Vale dos Vinhedos, conduzida pelo diretor-superintendente da Miolo Wine Group, o enólogo Adriano Miolo.

Difícil dizer, numa prova rápida e não técnica, quanto e como a influência atlântica e o equilíbrio de pressão entre o interior da garrafa e a massa liquida e fria das profundezas marítimas pode ter contribuído para a qualidade do vinho. Mas os dez anos de guarda sem dúvida acrescentaram complexidade e elegância à bebida, comparáveis aos melhores champagnes.

Não que o espumante da Miolo tenha de parecer um champagne. Ele é, com certeza, um belo vinho da Denominação de Origem Vale dos Vinhedos, com características únicas no mundo. Se o mar lhe fez bem ou não, é uma questão de gosto pessoal, como reconhece o enólogo.

“Este Miolo Cuvée – Under The Sea é um espumante aspiracional. Moldado pelo oceano, o espumante traz uma nova história. Ele mescla características do terroir do Vale dos Vinhedos acentuadas pelas condições apresentadas no fundo do mar. Mas, para descobrir, é necessário abrir a garrafa e degustar, um ato que requer curiosidade”.

Os irmãos Adriano e Alexandre Miolo no lançamento do vinho

Para isso, curiosos e colecionadores de relíquias terão de desembolsar R$ 3.500, preço de cada unidade. As garrafas vêm protegidas por uma bonita embalagem artesanal que retrata uma lente de farol. Um mapa que identifica o local exato onde o espumante permaneceu submerso completa o precioso kit.

Não existe vinho de verdade sem história, paisagem e autoria. O Miolo Under The Sea reúne a tríade completa: um espumante de dez anos que envelheceu por um ano imerso nas águas frias e escuras do Atlântico Norte e depois nas caves da Miolo, sob a cuidadosa supervisão do enólogo Adriano Miolo.

Independentemente do resultado de qualquer avaliação sensorial, a Vinícola Miolo tem agora mais uma bela história para contar.