Após um período de preocupações com a pecuária, a indústria de saúde animal retoma uma perspectiva mais otimista e aposta em inovações para compensar as mudanças que afetam o mercado.

Uma das líderes globais em saúde animal, a Elanco é o reflexo dessa realidade. Em 2024 a empresa saiu do prejuízo e voltou a registrar lucro líquido, de US$ 339 milhões. A receita total chegou a US$ 4,4 bilhões, alta de 3% em relação ao ano anterior, já sem considerar variações cambiais nos países em que a empresa atua.

O melhor desempenho ficou por conta de produtos para bovinos, que totalizaram mais de US$ 1 bilhão em faturamento, crescendo 7%.

Em entrevista ao AgFeed, a CEO da Elanco no Brasil, Fernanda Hoe, explicou que a empresa não divulga dados específicos por país, mas admitiu que o desempenho por aqui foi ainda melhor do que o registrado globalmente.

“O ano passado foi muito bom para as exportações, carne bovina e carne de frango cresceram mais de 20% na exportação e isso faz com que tenha uma demanda sustentada por proteína animal e, consequentemente, também uma remuneração adequada para o produtor, mantendo os investimentos em saúde, em prevenção e tecnologia”, avaliou a executiva.

Hoe diz que no Brasil houve crescimento em todas as áreas de negócio, o que inclui suínos, aves, bovinos e o mercado pet, segmento que vem registrando um avanço médio de 10% ao ano.

Em animais de produção, os percentuais de crescimento não são tão expressivos, mas ao contrário de outros países, onde em alguns casos os animais de companhia já representam a maior fatia, por aqui ainda há tendência de expansão também nos clientes da agropecuária.

“Ainda não fecharam os dados completos de 2024 (do mercado de saúde animal), mas a estimativa era que o setor ia crescer em torno de 5% ou 6%. A Elanco Brasil deve ter acompanhado o ritmo de crescimento do mercado”, disse a CEO.

Fernanda Hoe afirma que a recuperação nos preços da arroba do boi tem refletido imediatamente na disposição dos produtores rurais em investir mais em tecnologia. O segundo semestre de 2024 foi marcado pela recuperação das cotações no Brasil.

“A gente teve momentos de baixa dos preços, da arroba e do bezerro, mas daí já no ano passado começou a ter a inversão do ciclo. Agora realmente é um momento de muita demanda e até pouca oferta. Por isso, houve essa aquecida, que continua nesse início de ano”, ressaltou.

A Elanco também é beneficiada por não estar entre o rol de empresas que dependiam da vacina contra a febre aftosa para garantir seus resultados. A companhia não atua nessa linha de produtos e, portanto, não teve a perda de receita que muitas das gigantes globais tiveram quando o Brasil optou por retirar a vacina em todo o território, para garantir um novo status sanitário.

O único impacto, logo que a vacina foi retirada, foi a perda da “janela de oportunidade” que o calendário da aftosa representava. Pecuaristas aproveitavam o momento da vacina para fazer a aplicação de outros produtos de saúde animal.

“A gente viu o efeito temporário, mas depois os produtores já voltaram a fazer os manejos. Não tão marcados como na época da aftosa, de fazer sempre maio, novembro, de acordo com a campanha, já mais de acordo com o calendário da fazenda e até as questões de clima, dependendo da região, quando é mais estratégico fazer o controle de parasitas. A gente viu regularizar as práticas”, explicou Hoe.

Para 2025, a executiva prevê chances de repetir os atuais níveis de crescimento de 5% no mercado brasileiro.

“A gente acredita que vai ser um bom ano para o setor de pecuária, de produção animal, o volume total de proteína produzida no Brasil deve se manter similar ao do ano passado, um pouco mais em aves e suínos, talvez um pouco menos em bovinos pela própria diminuição da oferta de animais, mas no total produzido pelo Brasil a gente deve ter uma manutenção dos volumes e no mercado pet também”, analisou Fernanda.

Se confirmado esse crescimento no Brasil, o resultado mais uma vez será melhor do que o esperado globalmente pela Elanco.

No balanço divulgado há duas semanas, a companhia previu para este ano, no guidance, uma receita entre US$ 4,4 bilhões e US$ 4,5 bilhões, o que seria praticamente igual ao registrado este ano.

Novas apostas e redução nas emissões de metano

A CEO da Elanco disse ao AgFeed que a estratégia de seguir investindo em inovação e expansão de portfolio será mantida para esse ano.

O plano é trabalhar principalmente em produtos que foram lançados recentemente pela companhia no Brasil. Com a expansão em ritmo acelerado do mercado pet, esse segmento já responde 40% da receita no Brasil. Há dois anos, estava em 30%.

Dois dos lançamentos recentes são direcionados ao segmento pet: o Credeli Plus, um antiparasitário e o Zenrelia, para dermatite, ambos com foco em cães. Neste início de ano também foi apresentado o Elura, um produto para tratar doença renal crônica em gatos.

“Existe cada vez mais pets sendo inseridos nos lares brasileiros como membro da família, então essa mudança de comportamento da sociedade, ela deve continuar e isso acaba favorecendo o setor como um todo em termos de prevenção e tratamento de doenças dos pets, principalmente cães e gatos”.

Em outra frente, a Elanco aposta em produtos com foco em sustentabilidade para a pecuária. A empresa obteve em fevereiro deste ano uma aprovação junto ao Ministério da Agricultura para que o uso de um de seus produtos seja reconhecido pela redução da emissão de metano pelos animais.

Trata-se de um aditivo alimentar para bovinos de corte, chamado Zimprova. O produto já vinha sendo comercializado com foco na eficiência alimentar em animais a pasto e confinados, mas agora foi reconhecido em relação a seus efeitos para reduzir emissões de gases. Segundo Fernanda, a emissão de metano dos animais pode ser reduzida em até 34% com o uso do produto.

Nos próximos meses, a expectativa é não apenas observar qual será a aderência do pecuarista ao produto pela nova funcionalidade, mas também intensificar as discussões com os diferentes elos da cadeia, no sentido de buscar valorização para as práticas sustentáveis da pecuária. Hoe ressalta que a empresa tem priorizado esse suporte aos produtores que querem estar mais alinhados com padrões de sustentabilidade.

No mês passado, a Elanco global anunciou um acordo com a empresa Medgene para a comercialização de uma vacina contra a gripe aviária e para uso em gado leiteiro. É uma resposta à crescente preocupação com a doença nos Estados Unidos.

Perguntada se o produto poderá chegar ao Brasil, Fernanda Hoje respondeu que “não há plano de trazer por enquanto”. “É algo recente, que foi negociado só para o mercado dos EUA”.

Mulheres no comando

A presença feminina em posições de liderança é outra marca da Elanco no Brasil. Fernanda Hoe assumiu em 2021 a posição de CEO na companhia.

Ela conta que, antigamente,  70% das lideranças eram homens, mas agora, em função de diversos programas inclusive em nível global, diz que já está “meio a meio”, não apenas no quadro geral de funcionários, mas também entre os líderes. Das três principais unidades de negócio no País, duas são comandadas por mulheres, contou ela ao AgFeed.

“São várias frentes, desde o momento do recrutamento de novos funcionários, garantir que painel de candidatos tenha uma diversidade de gênero, até as entrevistas, são várias pessoas pra evitar vieses inconscientes, e temos também programas pra ajudar no desenvolvimento de mulheres, pra que estejam preparadas para a liderança”, explicou.

Ela acredita que os resultados vêm sendo influenciados por essa cultura, citando pesquisas que demonstram a relação entre um time “diverso e inclusivo” com a capacidade de inovação nas empresas.