O ambicioso plano de expansão da Bracell, dona da maior indústria de celulose do País, continua, mas agora com novo CEP. A companhia deverá instalar sua unidade no Mato Grosso do Sul na cidade de Bataguassu, segundo apurou o AgFeed, e não em Água Clara, também no estado, como havia sinalizado no passado. Procurada, a Bracell preferiu não se manifestar.
A empresa protocolou nas últimas semanas os documentos conhecidos como EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) junto ao governo estadual para a instalação da planta.
O AgFeed teve acesso ao documento, que prevê R$ 16 bilhões em investimentos para colocar a planta de pé.
A Bracell pontua que a fábrica de celulose local poderá funcionar de duas formas. Na primeira composição, produzirá somente celulose para papel, a chamada celulose kraft, e possuirá uma capacidade anual de 2,9 milhões de toneladas por ano, num cenário sem paradas para manutenção, ou 2,8 milhões considerando as paradas.
Na segunda, a companhia produziria tanto o kraft quanto celulose solúvel. Nessa composição, uma das linhas de fibras produzirá 1,46 milhão de toneladas por ano de celulose kraft e a outra linha de fibras produziria 1,14 milhão de toneladas anuais de celulose solúvel.
Na prática, sem paradas a produção ficaria em 2,6 milhões de toneladas, somando as duas produções, e seria de 2,5 milhões de toneladas por ano com as paradas.
Nesta semana, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, disse a veículos de comunicação locais que a empresa possui hoje estudos considerando as duas cidades.
Segundo ele, a Bracell decidirá em conjunto com o Governo do Estado qual será o município escolhido, e que as obras devem começar no ano que vem. O AgFeed apurou que Bataguassu está na frente da disputa.
A Bracell possui uma presença global e, além do Brasil, tem unidades fabris na Indonésia, China e Canadá. A operação nacional, contudo, é apontada por executivos como o “epicentro de investimento do grupo”.
Quando o AgFeed visitou a unidade de Lençois Paulista (SP) da empresa, o vice-presidente de sustentabilidade da Bracell, Márcio Nappo, estimou que a empresa já investiu US$ 6,5 bilhões (quase R$ 40 bi pela cotação atual) desde que chegou no Brasil há 20 anos.
Só nos últimos cinco anos foram R$ 20 bilhões, com grande parte indo para o projeto Star, que colocou a fábrica de Lençois de pé. A capacidade de produção da unidade paulista é de 3 milhões de toneladas de celulose kraft e 1,5 milhão de toneladas de celulose solúvel, numa fábrica flex.
A instalação se soma às fábricas de Feira de Santana (BA) e Pombos (PE), que juntas produzem 50 mil toneladas por ano.
Quando a ideia de investir no Mato Grosso do Sul foi sinalizada, a empresa previa R$ 20 bilhões de investimentos para produzir 2,8 milhões de toneladas por ano de celulose. O valor sinalizado no EIA/Rima de Bataguassu é menor, mas a produção está em linha com o previsto.
Por lá, a companhia já possui uma base florestal e um viveiro com capacidade para 40 milhões de mudas. Estima-se que a companhia possua cerca de 50 mil hectares de florestas plantadas com eucaliptos no Mato Grosso do Sul, além de 35 mil hectares de mata preservada.
A Bracell estima no EIA/Rima que, para operação da fábrica por lá, necessita anualmente de 12 milhões de metros cúbicos de eucalipto por ano.
A base florestal da empresa ainda contempla 274 mil hectares em São Paulo, sendo 183 mil hectares de produção e 75 mil hectares de área de preservação. Na Bahia, são 230,8 mil hectares de áreas manejadas, incluindo as instalações fabris em Camaçari, a fábrica de Tissue em Feira de Santana, 97,8 mil hectares de produção e 97,2 mil hectares de vegetação nativa preservada.
A Bracell ainda justifica o investimento no Mato Grosso do Sul prevendo uma “franca expansão do mercado atual de celulose e papel no Brasil e no exterior”.
“O Brasil tem sido um local privilegiado no mundo, em relação ao setor de agronegócios, devido à sua vantagem competitiva para cultivar florestas renováveis e sustentáveis, tendo a seu favor fatores como clima e boa produtividade, o que resulta em um custo bastante competitivo”, diz a empresa no documento.
A escolha do estado se dá, segundo a companhia, por uma abundância de mão de obra qualificada, “comprometimento da população”, e boas condições de malha ferroviária, hidroviária e rodoviária. A fábrica ficaria localizada às margens da BR-267.