Diamantino (MT) - Quando a maior fábrica de processamento de carne bovina da JBS na América Latina, localizada na pequena Diamantino, a cerca de 200 quilômetros de Cuiabá, começou a pegar fogo, em junho do ano passado, o gerente industrial Ivan Ritter estava em casa, a cinco quilômetros dali.

Em dois minutos e meio – ele faz questão de frisar o tempo –, já estava na fábrica para tentar ajudar a salvar a unidade, mas o esforço de nada adiantou. "Impotência. Foi o que eu senti na hora", recorda ele.

O fogo na planta de Diamantino começou por volta das 23h de um sábado, no dia 10 de junho do ano passado, na área de armazenamento e almoxarifado, e rapidamente se espalhou. O incêndio só foi completamente extinto já no amanhecer do domingo, dia 11 de junho, às 6h.

"A sorte é que foi num fim de semana. Imagina se fosse num dia de semana, com todos trabalhando?”, diz Ritter.

Na semana passada, a reportagem do AgFeed visitou a planta e a encontrou em plena operação, pronta para retomar um papel de destaque nas operações do grupo voltadas à exportação.

Ainda este mês deve voltar a destinar seus produtos finais para o mercado dos Estados Unidos, o que não acontecia desde o incêndio. E, em breve, deve adicionar também o Japão na lista de países a abastecer.

A retomada plena da unidade é fruto de um investimento total de R$ 800 milhões na reconstrução, anunciado apenas dois dias depois de sua destruição pelas chamas.

O montante é nominalmente bem maior que o aporte de R$ 230 milhões (em valores da época) feito na sua construção, nos anos 2000, pelo Grupo Bertin. A planta foi inaugurada em 2009, mesmo ano em que o Bertin teve suas operações incorporadas pela companhia da família Batista.

Em novembro do ano passado, menos de seis meses após o anúncio, a unidade já estava em operação novamente, com um abate inicial de 600 cabeças de gado por dia – enquanto a planta ficou fechada, os animais eram enviados a outras plantas da companhia em Barra do Garças (MT) e Campo Grande (MS) para serem processados.

Logo depois, em janeiro deste ano, a área de desossa, onde é feita a retirada de ossos de partes específicas da carne do animal abatido, voltou a funcionar.

Com isso, neste ano, até agosto, já haviam sido processadas 292 mil cabeças, segundo Ritter. No ano passado, com a interrupção das atividades durante cinco meses, os números de produção haviam recuado a 156.188 cabeças abatidas, ante 222.824 cabeças em 2022.

Hoje, 1,8 mil pessoas trabalham na fábrica. Pouco mais da metade do contingente – 650 funcionários – trabalha na desossa.

Com uma área total construída de 104,3 mil metros quadrados e 72 currais, a unidade de Diamantino tem uma média de processamento de 480 toneladas de carne e capacidade de abater 4 mil cabeças por dia.

Atualmente, a planta abate 1,8 mil cabeças de gado por dia. A ideia é alcançar a capacidade total de produção já em meados de 2025, segundo o gerente industrial da planta.

“Isso vai depender tudo do mercado, da oferta e do crescimento da contratação de pessoas. Provavelmente durante o ano que vem a gente alcance. Queremos fazer algum teste de segundo turno de abate ainda neste ano”, afirma.

COm o investimento, além da reconstrução das áreas atingidas pelo fogo, a unidade também passou por uma modernização. Um túnel de congelamento com capacidade de armazenar 33 mil caixas está em fase final de construção e deve começar a operar em outubro.

Melhorias nos processos também foram feitas, como a instalação de um equipamento que verifica a quantidade de gordura presente na carne e um grande armário onde os funcionários que trabalham na desossa depositam seus instrumentos de trabalho antes e depois do expediente.

“Em outras unidades, o equipamento é entregue na mesa, por exemplo. Aqui a pessoa deixa (no armário), ele é lavado e a pessoa retira de novo no dia seguinte”, diz Ritter.

Estados Unidos e Japão no radar

De toda a produção do frigorífico de Diamantino, 85% vai para o mercado externo. A planta tem habilitações para exportar para mais de 20 países de diferentes continentes, como China, Egito, Chile, Argentina, entre outros.

Neste ano, o carro-chefe das vendas tem sido o mercado europeu, que correspondeu até o momento a 44% das exportações, seguido por Chile (18%) e China (17%).

A tendência agora é que as remessas do frigorífico para o mercado chinês cresçam. “Já neste mês (de setembro), subiu muito mais que isso, vai passar a Europa. O mercado melhorou”, diz Ritter.

Nas próximas semanas, a planta deve voltar a exportar para os Estados Unidos, segundo Ritter. O frigorífico tem habilitação para vender para o mercado americano, mas não pode comercializar por ter ficado três meses sem conseguir exportar devido ao incêndio, de acordo com o gerente industrial da unidade.

O retorno deve vir em um momento favorável para as exportações brasileiras aos Estados Unidos, que tem importado mais carne do Brasil este ano.

Antes do incêndio, as vendas para o mercado americano representavam entre 30% a 40% do total exportado pela unidade. A ideia é manter esse nível e também equilibrar os percentuais entre China, Europa e Estados Unidos, de acordo com Ritter.

Um outro mercado que poderá ser abastecido em breve pela unidade é o japonês, segundo Ritter. Hoje, a fábrica de Diamantino envia miúdos, que são posteriormente processados na unidade de Lins (SP).

Ritter diz que a planta recebeu visitas de representantes japoneses há poucos meses e agora “já está preparada para o Japão.”

O país asiático é um mercado atrativo para a pecuária brasileira, porque importa 70% de toda a carne que consome, oriunda principalmente dos Estados Unidos e da Austrália. A ideia do Ministério da Agricultura e Pecuária é abrir esse mercado no ano que vem.

O repórter viajou a convite da JBS.