Se hoje em dia resiliência é termo recorrente para quem lidera qualquer negócio, há 30 anos um grupo de produtores rurais do Paraná mostrou na prática o significado da palavra.

No final da década de 1990, muitas cooperativas agropecuárias enfrentaram uma forte crise financeira. Uma delas foi a Cooperativa Agrícola Cotia (CAC), fundada por imigrantes japoneses no interior de São Paulo, mas que também tinha sede em Londrina, no Paraná.

Em 1994, a CAC entrou em liquidação – o que seria uma espécie de falência dentro da lei do cooperativismo – e deixou mais de 80 bancos sem receber, com dívidas milionárias (era a maior devedora do Banespa, na época).

No Paraná, alguns produtores rurais que eram cooperados da Cotia e ficaram desamparados, sem ter para quem vender a produção, decidiram criar uma nova cooperativa, “do zero”, como conta o engenheiro agrônomo Jorge Hashimoto - chamado, desde o início, para atuar como superintendente. Assim nasceu a Integrada Cooperativa Agroindustrial, em dezembro de 1995, em Londrina.

“Iniciamos arrendando a própria unidade da Cotia que entrou em liquidação. Aí, a Integrada já começou grande. Tinha diversas regiões onde havia grupo de produtores que se uniram nessa causa”, lembra Hashimoto, que desde 2014 é diretor presidente da Integrada, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

Ele diz que a falta de recursos do começo não era o único problema, já que era importante também conquistar a confiança de todos, principalmente depois do fechamento da Cotia.

“Mas os cooperados realmente estavam muito unidos. Nós estávamos muito dispostos a levantar essa nova cooperativa. No primeiro ano já tínhamos mais de mil cooperados”, diz.

Lá em 1996 o foco principal já era grãos e o faturamento ficava abaixo de R$ 100 milhões. Mas ao longo do tempo, a Integrada foi investindo também na parte agroindustrial, conseguindo agregar valor aos negócios.

“Assim foi crescendo e o principal ponto era não prometer o que a gente não conseguiria cumprir, com modelo de pontualidade, nos pagamentos e atendimento”.

Ao longo dos anos, a Integrada foi participando dos leilões da Cotia e comprando suas unidades. Só faltaram estruturas menores, que ainda não foram leiloadas. Um fator que ajudou nesta fase de investimentos foram recursos de programa do governo de apoio às cooperativas, conhecido como Recoop.

“As outras cooperativas pegaram esse recurso para se salvar. Como nós não tínhamos dívida, pegamos para investir. Nessa época, nós ampliamos bastante”, conta o dirigente.

Hoje são 13,5 mil cooperados, sendo a maioria do Paraná (no estado de São Paulo são 800). Em colaboradores, o número chega a 2,1 mil, considerando as unidades e indústrias. Em 2023, quando atingiu a maior receita de sua história, a cooperativa alcançou R$ 8,3 bilhões.

Atualmente, 65% do faturamento está relacionado a grãos, principalmente soja. A venda de insumos representa 25% e o restante, 10%, vem das indústrias de ração, de suco de laranja e de derivados do milho que abastecem empresas como Pepsico e M.Dias Branco.

Retomada do crescimento

O ano de 2024 foi marcado pela quebra de safra nas regiões dos cooperados da Integrada em função da forte estiagem, o que também afetou a receita.

“2024 é um ano que a gente até esqueceu, para a nossa região foi um ano horrível”, afirma o presidente.

A quebra na produção foi de 35%. A cooperativa deixou de receber 10 milhões de sacas na comparação com 2023, o que levou a uma perda de R$ 1,5 bi em faturamento. O total ficou em R$ 6 bilhões em 2024.

Em 2025, a Integrada espera receber 3,3 milhões de toneladas de soja, milho, trigo e café. Este último é um negócio pequeno, segundo Hashimoto, que só é mantido para atender uma minoria de cooperados que ainda se mantém na cafeicultura.

“Já estamos colhendo e recebemos um bom volume de soja. Esperamos receber esse ano 30 milhões de sacas. Ano passado recebemos 18 milhões, realmente um volume muito pequeno”.

Neste cenário, a expectativa para 2025 é retomar o patamar de R$ 8 bilhões de faturamento.

Hashimoto diz que, em 2020, a Integrada faturava R$ 4 bilhões e fez um plano estratégica para dobrar o número até 2025. Nos anos seguintes, com a disparada no preço das commodities, acabou crescendo até em ritmo mais rápido, tanto que chegou aos R$ 8 bi em 2023.

Passado o susto da safra passada, a previsão agora é retomar o crescimento, avançando entre 10% e 15% ao ano. “Para seguir entre as maiores e melhores”, diz o presidente.

Na Integrada, assim como em outras cooperativas, a crise de grandes como a Agrogalaxy, também deve ajudar no aumento da venda de insumos. O principal trunfo é o relacionamento de décadas – e de confiança – com os cooperados.

Para enfrentar o momento ainda desafiador em termos de preços das commodities, Hashimoto recomenda que o produtor evite correr riscos e tenha planejamento. Ao mesmo tempo, diz que, na cooperativa, tem procurado investir em inovação, para melhorar processos e levar mais tecnologia aos cooperados.

Recentemente, a Integrada promoveu um evento de tecnologia, o Agrotec, que contou com 4 mil participantes. “Acho que, para a gente fazer frente a qualquer dificuldade, tem que ter eficiência. Isso começa no campo”.

Jorge Hashimoto, presidente da Integrada (Foto: Bruno Ferraro/Divulgação)

Laranja vai dobrar

O novo plano estratégico da Integrada será formulado ao longo deste ano, mas uma coisa é certa: vai incluir projetos para verticalizar ainda mais a produção, mantendo a diversificação dos negócios.

Uma das frentes já iniciada é a produção de suco de laranja, que será ampliada, apesar dos problemas com o greening, doença que vem causando perdas na citricultura.

“É um negócio diferente pra região aqui, mas é um projeto que nós criamos pra oferecer alternativa de renda e de diversificação da atividade”, explic o diretor.

Como o cultivo não aumentou o suficiente entre os produtores, a cooperativa decidiu investir no plantio de uma área própria, de cerca de 600 hectares, que agora se somam a 2 mil hectares de pomares dos cooperados.

O objetivo é otimizar a indústria, mantendo uma produção constante e aproveitando o bom momento de preços do suco de laranja. Segundo Hashimoto, a fábrica já tem capacidade de processar 2,5 milhões de caixas, mas é no sistema modular e hoje só vem recebendo em torno de 1 milhão de caixas.

“O objetivo nosso é dobrar de tamanho, provavelmente em três anos”, disse.

O produto já vem sendo exportado para mais de 20 países e, com o bom momento, talvez mais produtores decidam investir na cultura, ele avalia. Nos últimos anos a Integrada calcula ter investido cerca de R$ 40 milhões na indústria de suco.

Novos investimentos

O movimento recente de cooperativas com foco em esmagadoras e usinas de etanol de milho não passou despercebido pela Integrada.

Jorge Hashimoto adianta ao AgFeed que já vem conversando com outras cooperativas para, talvez, optar pelo modelo de intercooperação e também investir na construção de uma esmagadora de soja.

“A questão de etanol (de milho) também é uma possibilidade, então são várias frentes que a gente está analisando. Mas, se acontecer, a chance maior é que seja com intercooperação. E para ter volumes, a princípio é esmagamento de soja, que é o nosso carro chefe”.

Para se ter uma ideia do tamanho desse projeto, a Integrada prevê receber 1,8 milhão de toneladas de soja esse ano, mas “opera no máximo 50%”. O presidente acredita que esta outra metade, 900 mil toneladas, poderiam ser destinadas para a indústria esmagadora, que depois também receberia matéria-prima de outros parceiros.

Ele não revela valores sobre o possível investimento, já que tudo vai depender do plano estratégico que ainda está sendo feito.

No ano passado, a Integrada investiu mais de R$ 100 milhões nas unidades de recebimento, ampliando em 200 mil toneladas a capacidade de armazenagem. Este ano está prevista a construção de mais uma unidade na região de Londrina, além do arrendamento de outras o que, ao todo, deve totalizar R$ 40 milhões em investimento.

Em paralelo, o plano da Integrada é manter a produção destinada às grandes indústrias de alimentos, que vez ou outra podem demandar mais do mesmo produto ou algo específico.

Cerca de 20% do volume de 22 milhões de sacas de milho produzidos pelos cooperados da Integrada vão para a indústria própria. Lá, o cereal é transformado em grits de milho, um insumo fundamental para a Pepsico produzir seus salgadinhos Elma Chips, por exemplo.

A Integrada também está fornecendo amido de milho para M. Dias Branco. É um mercado que poderá crescer, na visão de Hashimoto, portanto um aumento na linha de produção não está descartado.

Investir em carnes é algo que não está no radar por enquanto. Já a piscicultura, quem sabe. “É uma coisa que a gente já estudou, está dentro do nosso pensamento, que podemos tirar da gaveta”.