Cuiabá (MT) - Não existe bala de prata para transformar a agricultura, fazer a produtividade crescer, alimentar populações e reduzir desigualdades – tudo isso ao custo de uma cifra que gira entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões por ano até 2030.

A avaliação é de Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS e líder da força-tarefa de sistemas alimentares sustentáveis do B20 Brasil, braço de iniciativa privada do G20, coordenado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Para ele, os desafios são vários e as iniciativas precisam ser diversas, indo da assistência técnica aos cheques que permitirão financiar essa transição, já que há a necessidade de que os investimentos cresçam pelo menos 15 vezes ao longo desta década, segundo o B20.

“As conclusões são simples, não tem uma bala de prata. Precisa aumentar produtividade, fazer mais com menos, (adotar) métodos mais sustentáveis que capturem carbono e que promovam maior justiça social”, disse, em conversa com o AgFeed antes de participar do painel na abertura do Fórum Internacional da Agropecuária (Fiap).

No evento, realizado em Cuiabá nesta segunda-feira, 9, Tomazoni detalhou o que vai apresentar aos ministros estrangeiros do bloco do G20 na próxima quinta-feira, dia 11, e entregou o relatório de trabalho nas mãos do ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e da Pecuária.

O Fiap deu largada à semana do G20 Brasil no Mato Grosso. Entre os 10 e 13 de setembro, o Grupo de Trabalho da Agricultura do bloco estará reunido na Chapada dos Guimarães, a pouco mais de uma hora de distância de Cuiabá, e receberá líderes empresariais, o ministro Fávaro e líderes dos demais 19 demais países do G20.

O grupo liderado por Tomazoni chegou a algumas conclusões após cinco meses de discussão, que envolveram 139 pessoas.

“Foi um trabalho difícil de ser feito, as realidades são diferentes, o consenso é um processo trabalhoso, de tomada de consciência de todo mundo e conseguimos fazer bem”, disse o CEO da JBS.

No evento, Tomazoni listou grandes números que ilustram o tamanho do desafio a ser enfrentado pela indústria de alimentos: 26% das emissões de gases de efeito estufa vêm dos sistemas alimentares; 65% das pessoas no campo que vivem na pobreza dependem da agricultura para sobreviver e há 2,3 bilhões de pessoas que ainda enfrentam situações de insegurança alimentar, seja ela moderada ou grave.

Segundo ele, há pelo menos três barreiras práticas a serem ainda resolvidas. “A primeira é a questão do conhecimento, do apoio a tecnologia, assistência rural, de como usar essa tecnologia. Outra barreira grande que a gente vê – e estamos trabalhando com o fundo JBS com os pequenos produtores – é ter acesso ao crédito.”

O aspecto financeiro é crucial, na avaliação do CEO da JBS. De acordo com Tomazoni, ao iniciar o uso de práticas regenerativas, o produtor pode passar a ter fluxo de caixa negativo. “Tem que ter um tempo de maturidade desse financiamento e, por último, tem que ter um atenuante de risco, um seguro, para que reduza o risco todo do investimento”, afirmou Tomazoni.

Como terceira barreira, há o lado social dessa transformação, pela necessidade de incluir o pequeno produtor, que nem sempre têm recursos ou precisa ser convencido a adotar práticas incomuns em seu cotidiano.

“A mudança deve ser inclusiva, tem que fazer com que a gente reduza desigualdade. Não basta fazer simplesmente o crescimento da produtividade, mas que todo mundo participe”, disse Tomazoni.

Pilares para a transformação

O B20 se baseia em três pilares, segundo o CEO da JBS, para que seja feita a transformação no campo: aumentar a produtividade via uso de tecnologia, criar formas inovadores de desenvolver essa transformação e incentivar as práticas sustentáveis nas políticas comerciais.

“Nós não vamos alimentar mais pessoas se, em pouco tempo, não aumentarmos a produtividade”. disse Tomazoni.

Uma via para isso, emenda ele, está na tecnologia. “Temos muitas tecnologias hoje existentes que, se adotadas, podem aumentar tremendamente a produtividade.”

Essas tecnologias podem vir até mesmo da terra – via utilização de fertilizantes microbiológicos, a adoção do sistema lavoura-pecuária-floresta (ILPF) ou ainda o uso de aditivos de nutrição animal. E, claro, também envolvem a adoção de ferramentas digitais, com a utilização de sensores para verificar a umidade do solo e de drones.

Para que essas práticas sejam introduzidas, Tomazoni atenta para a necessidade de incluir o lado financeiro na conta por mecanismos de pagamento por serviços ambientais, que remuneram produtores rurais por adotarem métodos ambientalmente melhores.

“O pagamento dos serviços ambientais tem que ser aceito pelos países desenvolvidos e o grande negócio é construir esse mecanismo. Essa estrutura é o que vai entrelaçar a transformação”.

As fontes de recursos são várias e deverão vir de origens como entidades internacionais, governos e filantropia, de acordo com a apresentação de B20.

O documento entregue por Tomazoni a Fávaro aponta que há um gap entre a importância de transformar a produção de alimentos e o volume de dinheiro que é aportado.

Os dados incluídos no estudo indicam que o setor de produção de alimentos recebe menos de 4% do financiamento climático global, ainda que contribua com cerca de um quarto de todas as emissões de gases do efeito estufa.

Também há a necessidade, segundo Tomazoni, de facilitar o acesso ao mercado de produtos produzidos de forma sustentável e sem amarras a partir de um sistema de comércio agrícola multilateral baseado em regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A recomendação da força-tarefa do B20 vem em um momento em que a União Europeia parece que não vai ceder às pressões de flexibilizar a Lei Antidesmatamento, mais conhecida como EUDR, que deve entrar em vigor na virada de 2024 para 2025.

“Cada país pode ter trabalho individual, mas não precisa impedir o trading”, diz Tomazoni. Para ele, quando colocam amarras, o países podem estar “impedindo de se acelerar a agricultura sustentável”.

O jornalista viajou a convite da JBS.