Economista por formação, Eduardo Monteiro está há 22 anos na Mosaic Fertilizantes, tendo passado por diferentes cargos na empresa. Por muito tempo foi vice-presidente comercial e, este ano, assumiu a posição recém-criada de Country Manager, com mais responsabilidades no relacionamento institucional e na liderança das 16 plantas que a empresa tem no Brasil.

Na prática, Monteiro é o principal executivo da empresa no Brasil, em um momento particularmente complexo do mercado. Ele admite que o “soluço" da agricultura em 2023, principalmente em grãos, representa um desafio, já que as vendas para os produtores de milho, por exemplo, estão atrasadas.

Mas o Country Manager da Mosaic mantém o otimismo. Garante que, apesar do “mar um pouco mais intenso”, a empresa seguirá crescendo no País, com novidades a serem anunciadas em breve no mercado de biológicos.

Para seguir avançando, mesmo com patamares mais baixos de entrega de adubos no Brasil se comparados ao pico de 2021, a Mosaic aposta em ampliação de portfólio e no seu investimento recente com foco na região do Matopiba, que engloba Maranhão, Piauí, Tocantins e oeste da Bahia.

Com aportes de R$ 400 milhões, a empresa está construindo uma fábrica em Palmeirante, em Tocantins, que começa a operar no primeiro semestre de 2025.

Ao AgFeed, Monteiro disse que a logística privilegiada, que conecta a unidade ao porto de São Luís via ferrovia, representa “uma vantagem competitiva importante”.

"Essa questão de trazer os fertilizantes pela ferrovia também nos dará direito de preferência de atracação de navios no porto de São Luís” afirma Monteiro.

“É um canal logístico interessante porque a ferrovia foi montada para escoar a produção de grãos. Estamos pegando o fluxo reverso", afirmou o executivo.

Monteiro disse que começa a expedir na região, ainda este ano, os "elementos simples”, enquanto a misturadora não está pronta.

Outra novidade que será anunciada ainda em 2023 é a entrada da Mosaic Fertilizantes, oficialmente, no mercado de biológicos. Um primeiro produto da empresa nesse segmento deve receber o registro nos próximos meses e, assim que isso acontecer, poderá ser lançado comercialmente, segundo Monteiro.

Conhecida por ser uma das maiores empresas globais de fosfatados e potássio, a companhia norte-americana adquiriu uma empresa líder em produtos biológicos nos Estados Unidos e já está em fase de registro das soluções que serão lançadas no Brasil a partir de uma plataforma global, lançada recentemente, chamada “Mosaic Biosciences”.

Confira os detalhes a seguir, nos principais trechos da entrevista exclusiva que Eduardo Monteiro concedeu ao AgFeed.

Como avalia o atual cenário para o mercado de fertilizantes?
Estamos bastante otimistas. Eu diria que a gente começa o ano com um otimismo importante, pensando numa recuperação material. Se você pegar o número do mercado de fertilizantes no Brasil, em 2022 foram aproximadamente 41,9 milhões de toneladas. No ano anterior, foram 46 milhões.

O que causou essa redução?
Diminuiu esse volume porque houve uma pressão relacionada a preços, com a guerra Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022. Aquilo impulsionou um aumento de preços, que fez os fertilizantes atingirem entre abril e maio os maiores preços da história recente, nos últimos 15 anos, e isso acabou desestimulando um pouco a demanda. Foi por isso que o mercado caiu.

O mercado já se normalizou?
Passamos por uma forte correção ao longo do segundo semestre do ano passado e chegamos em preços bastante convidativos no início desse ano, com relações de troca bastante positivas. Só que aí existia também aquele sentimento do agricultor. Em fertilizantes, no Brasil, o grande drive de geração de demanda são os grãos. Soja corresponde a 43% (da demanda) e o milho, 20%. Dentro desse contexto, você teve ali o agricultor na expectativa que, como em anos anteriores, o preço da soja continuasse subindo.

Com isso eles acabaram atrasando a comercialização...
Sim, havia preços muito bons ao redor de fevereiro em R$ 170, R$ 180 a saca de soja, dependendo da região. Com o advento da supersafra que nós tivemos, gargalos logísticos, dificuldades no escoamento da produção, isso fez com que os preços de grãos caíssem substancialmente e aí reduziu um pouco o apetite do agricultor naquele momento a tomar sua decisão de compra.

"O atraso foi inteiramente recuperado. Hoje a gente está basicamente em linha com praticamente toda a safra de verão negociada"

Essa decisão ela foi se protelando, mas a partir de junho a coisa voltou ao normal, porque nessa janela os preços de fertilizantes também sofreram alguma correção e o preço do grão voltou um pouco, então deu uma relação de troca melhor. O agricultor brasileiro olha quanto está uma tonelada de fertilizantes em relação à saca de soja ou sacas de milho. E com relações de troca muito boas o mercado veio com força, sim.

Então o atraso na compra dos fertilizantes foi superado?
Nós tínhamos em média um atraso de 10% até junho, com relação ao mesmo período do ano anterior. Esse atraso foi inteiramente recuperado. Hoje a gente está basicamente em linha com praticamente toda a safra de verão negociada e até com essas duas janelas climáticas com oportunidades complementares que vêm surgindo. Só que 85% do fertilizante que o Brasil consome é importado. Temos estoque no Brasil, acreditamos que seja de 10 milhões de toneladas. Mas este estoque está comprometido, está vendido, vamos entregar ele em dois meses, dois meses e meio. Então, aquele pessoal que não comprou lá atrás, agora está com uma certa dificuldade de achar e, quando acha, os preços estão bastante firmes, isso para a safra de verão.

E qual a situação para o milho segunda safra?
Quando você olha a perspectiva para a safra de inverno, que é o milho, a gente ainda vê uma certa reticência do agricultor em tomar a sua decisão. Temos um pequeno atraso em termos de comercialização. A estimativa de consultores que trabalham com a gente, é de que esteja entre 5% e 10% de atraso em relação ao ano anterior.

Por que esse atraso?
Porque o preço do milho ainda não se recuperou, mas a relação de troca está muito boa, então isso é uma questão de timing. Agora, é uma preocupação. Temos alertado todos os nossos clientes, de uma forma geral, para que tomem essa decisão o quanto antes. A cultura de milho usa muito nitrogênio e potássio, e a ureia vem sofrendo forte volatilidade de preços nas últimas semanas.

Dentro desse contexto, 97% do que se consome de ureia no Brasil é importado e o misturador não vai importar essa ureia sem ter certeza que vai estar vendido. Essas variações de preço são muito expressivas, machuca muito o resultado das empresas.

"Se deixar para tomar a decisão de compra [de fertilizantes para a safrinha] no final de dezembro, não há tempo de chegar"

Esse é um ponto de preocupação importante, porque a janela de plantio do milho safrinha é muito mais estreita do que a safra de verão. Na safra de verão são três ou quatro meses, dependendo da região. Aqui estamos falando de janeiro e fevereiro. Alguns podem estender nos primeiros dias de março, mas é janeiro e fevereiro, substancialmente.

Então, se você deixar para tomar a sua decisão de compra no final de dezembro, não há tempo de chegar, não chega aqui. Obviamente, cada um tem que avaliar o contexto do seu negócio, mas pela nossa avaliação econômica, apesar do valor absoluto da saca de milho estar inferior, a rentabilidade ainda é positiva.

Isso deve afetar o volume de entregas de fertilizantes que o mercado deve atingir este ano?
É um ponto de preocupação, porém não tira o nosso otimismo. A gente entende que este ano o mercado vai estar bem, na linha do que disse o Alexandre Mendonça de Barros no Congresso de Fertilizantes. Estamos em linha com aquele número entre 42 milhões e 43 milhões de toneladas, que é um crescimento em relação ao ano passado. E dentro desse contexto, teremos talvez um pouquinho mais, ou um pouquinho menos, dependendo do ritmo da safrinha. Porque se a safrinha rodar, a gente consegue antecipar alguma coisa de janeiro fevereiro para agora. Se a safrinha postergar, vai ficar concentrado para o ano seguinte.

A área plantada e a produção foram maiores em 2022/2023 e também são estimadas para crescer em 2023/2024, mas com volume de vendas de fertilizante bem inferior aos 46 milhões de toneladas de 2021. Como avalia isso? É possível que o padrão de consumo do agricultor brasileiro tenha diminuído?
A pergunta é ótima porque dá a chance de esclarecer. Os anos que antecederam os 46 milhões, que foram 2020 e 2019, estão entre os melhores anos da agricultura brasileira de todos os tempos. E o que aconteceu? O agricultor, aproveitando essa tendência, numa onda de capitalização intensiva, com bons retornos, um dos melhores investimentos que ele fez foi na poupança do solo. Ele comprou fósforo, comprou potássio e colocou na terra. Então você tinha uma reserva que você poderia utilizar.

A reserva se mantém?
Quando veio o ano do conflito entre Rússia e Ucrânia, essa reserva foi utilizada. É por isso que esse ano, apesar de todos esses desafios nos preços de soja e milho, estamos convictos que a demanda vai recuperar. Além disso, tem uma questão que é marginal, mas você tem uma cultura também de crescimento dos adubos orgânicos e do organomineral. Tem muita coisa acontecendo nesse segmento que não é material. É difícil você quantificar, mas tem uma parte do organomineral que pode sim contribuir com isso, seja para cima, seja para baixo.

E o que esperar de 2024? Considerando que pelo próprio índice calculado pela Mosaic a relação de troca piorou levemente em agosto, parece que o melhor momento de compra para o agricultor já passou?
Hoje você tem correntes distintas. Numa visão de longo prazo, somos muito otimistas com relação ao Brasil. O mercado de fertilizantes, historicamente, cresce de 2% a 3% ao ano. Quando você pega uma curva média dos últimos 20 anos, é isso que aconteceu. Então eu diria para você que a gente está otimista em relação ao próximo ano, a gente vê sim, um upside, um crescimento. Agora, tudo depende e tudo tem uma correlação direta com os preços de grãos, com os preços das commodities agrícolas. Eu coloquei no início que soja e milho representam 60%. Mas você tem fatores importantes como algodão, café, laranja.

A soja pode pesar negativamente?
Há uma certa incerteza que a gente enxerga hoje para a soja. Tem gente falando que, com todos esses modelos climáticos, no weather market, possamos ter problemas de quebra, principalmente seca. Se isso acontecer, o preço da soja fica em patamares superiores a US$ 12,50 ou US$ 13 por bushel, igual ou superiores ao ano de 2021, quando a gente bateu aquele recorde. Se o preço da soja cair um pouco, não vamos crescer tudo isso, mas as outras commodities, quando você olha a situação global de estoque, uso e consumo, todas têm uma relação muito positiva quando falo em tendência de preços.

"Mesmo que a gente tenha algum solavanco com a soja, as outras commodities serão capazes de manter a tendência de crescimento"

Elas compensariam uma eventual queda da soja?
O açúcar está batendo recorde. O algodão também tem uma boa perspectiva. Café, também temos uma boa expectativa em relação a estoque e consumo. O preço do arroz disparou no mercado internacional recentemente. Isso faz com que, mesmo que a gente tenha algum solavanco com a soja, as outras commodities serão capazes de manter essa tendência de crescimento. Talvez não suficiente para chegar naquele otimismo todo que eu te falei, mas sem dúvida nenhuma, quando você analisar isso em 20 anos, 2%, 3%, com segurança.

Dentro deste cenário, a Mosaic deve crescer este ano e no próximo?
Em linhas gerais, nós acompanhamos o crescimento do mercado brasileiro e, obviamente, a gente cresce em função dos projetos que faz. Um deles, que já é público, é que estamos construindo um complexo em Palmeirante, que fica no Tocantins. É uma região de logística privilegiada, porque é uma unidade conectada ao porto de São Luís, via ferrovia. São mais de 900 km de linha ferroviária, o que vai nos trazer uma vantagem competitiva importante.

Qual é a vantagem?
Trazer os fertilizantes pela ferrovia também nos dará direito de preferência de atracação de navios no porto de São Luís. É um canal logístico interessante porque a ferrovia foi montada para escoar a produção de grãos. Estamos pegando o fluxo reverso. É uma fábrica moderna. A nossa capacidade produtiva lá estará concluída em 2028, com 1 milhão de toneladas. Dentro desse contexto, gradativamente vamos continuar crescendo no Brasil, mantendo nossa posição de liderança. Mas o mais importante também é crescer de uma forma sustentável, equilibrada e saudável.

Haverá um foco maior na região do Matopiba?
Esse é o grande projeto de expansão que vamos desenhar a partir de agora. É uma região que a gente não tinha atuação e que era carente de um portfólio de produtos diferenciados. O que nos diferencia no campo é o nosso portfólio de produtos, porque não vendemos só commodity. Vendemos produtos de performance que trazem valor agregado, que têm uma pegada muito importante em termos de produtividade, de produzir mais com menos, o que conecta com nossos valores internos, com a questão da sustentabilidade. Nossos produtos tradicionais, consagrados, produzem em média 2 a 3 sacas a mais por hectare, com acesso a esta tecnologia, o que os agricultores daquela região não tinham, passarão a ter. Enquanto o Brasil, na média, cresce 10% ao ano, sabe quanto que aquela região cresce? No mercado de fertilizantes é o dobro.

Sobre o projeto de Tocantins, como está o ritmo por lá?
Esperamos começar a expedir produtos esse ano de lá, não na capacidade plena porque vamos expedir, no primeiro momento, elemento simples, direto. Vem na ferrovia, vamos usar os armazéns dos nossos parceiros comerciais para embarcar elementos que não precisam de mistura. Mas aí a ideia é que a partir de 2026, com a fábrica completa, a gente comece a expedir mistura. Este ano, o volume a ser expedido destes elementos deve ficar em 300 mil toneladas. Mas é uma escadinha, vai aumentando. É basicamente fósforo, potássio e nitrogênio.

Quando a fábrica começa a operar?
O complexo de Palmeirante (a fábrica, misturadora) inicia as atividades no primeiro semestre de 2025, com 500 mil toneladas, até chegar em 1 milhão. Para 2023 eu já tenho uma misturadora em São Luís, então atendo via São Luís. Só que aí eu vou para Palmeirante, numa condição logística bem melhor. Ali eu vou atender também o Vale do Araguaia, Mato Grosso, o Norte de Goiás, Piauí, Maranhão, Tocantins e um pedaço da Bahia. O principal produto diferencial, o carro-chefe, é o Microessential.

E o outro projeto de investimentos, no estado de Sergipe?
É o complexo de Taquari-Vassouras, lá estamos estendendo a vida média útil do ativo. É uma mina que a gente tinha expectativa que se exaurisse nos próximos dois anos. No projeto de Palmeirante o investimento é de R$ 400 milhões. No de Taquari-Vassouras, são R$ 800 milhões. São R$ 1,2 bilhão que a Mosaic anunciou de investimentos aqui.
Os R$ 800 milhões de Sergipe são para ampliar a vida média útil da única linha de extração de potássio ativa que o Brasil tem. O prazo médio foi estendido por mais 10 ou 12 anos.

O comportamento atípico do mercado em 2022 e 2023 não chegou a afetar esse plano de investimentos?
Projetos de mineração são projetos de longo prazo. O mercado brasileiro de fertilizantes tem um potencial tremendo. A agricultura, na sua essência, é uma atividade que envolve fatores externos, como questões climáticas, questões geopolíticas, agora mais em evidência. Mas quando você olha no modelo de longo prazo, onde você tem um negócio atrelado à produção de alimentos e o Brasil com o seu papel crucial de protagonismo no mundo, eu diria para você que a estratégia de longo prazo aqui não é impactada em nenhum momento.

"Soluços como esses de agora são normais. Ao longo desses anos bons, criamos musculatura suficiente para navegar sobre esse mar um pouco mais intenso"

O que pode acontecer é eventualmente você escolher um melhor momento, olhar os ciclos de alta e os ciclos de baixa. A Mosaic tem um bom histórico nisso. Por exemplo, a gente adquiriu os nossos ativos aqui de mineração num ciclo de baixa importante em 2017, o que fez com que a gente desse todo esse salto e se tornasse o maior player do Brasil. Soluços como esses de agora são normais. É importante que a gente, ao longo desses anos bons, criou musculatura suficiente para navegar sobre esse mar um pouco mais intenso.

Mas 2024 ainda será desafiador?
Depende muito de como será o modelo de precificação de soja. Se o preço da soja e grãos se recuperarem, eu diria que se retomam os ânimos da agricultura. Os agricultores vão aumentar área de plantio, eles vão querer investir mais em tecnologia. Aumentando a rentabilidade, um dos principais itens onde eles investem dinheiro, além de terra, é adubo, eles enterram adubo no solo, como foi o que aconteceu ali para explicar essa redução de consumo de fertilizantes. A gente está muito dependente dessa questão de precificação do preço de grãos e as variáveis climáticas.

Quais os outros planos futuros? Seguir investindo em produtos tradicionais como o NPK, em função do incentivo do próprio Plano Nacional de Fertilizantes, do governo federal, ou partir para outros segmentos que estão crescendo?
Em relação ao Plano Nacional de Fertilizantes, entendemos que é uma iniciativa estratégica para o Brasil. A gente tem procurado atuar aqui de forma bastante relevante. O plano visa fortalecer e aumentar a competitividade dos produtos de insumos e distribuição no Brasil. É estratégico porque a gente não pode ser tão dependente de um insumo fundamental para a produção de alimentos.

Então, a gente, como empresa instalada aqui no Brasil, vê com muito bons olhos e vem, na medida do possível, ajudando as autoridades que lideram esse processo. Vemos com bastante otimismo essa vontade, esse desejo de se materializar e, do nosso lado, terá todo o suporte.

Com relação ao que estamos vendo de produtos novos, não estamos fora dessa onda constante que é atrelada à sustentabilidade, a um posicionamento distinto do agricultor brasileiro, que é um cara altamente qualificado e tecnificado.

Explique melhor esta estratégia...
Estamos lançando uma plataforma global que é a Mosaic Biosciences, em que a gente vai olhar sim tecnologias de produtos biológicos. Lançamos isso, recentemente foi anunciado, e temos planos aqui bastante ambiciosos e audaciosos, que eu ainda não consigo materializar, porque muita coisa depende de um processo regulatório, de ter os registros adequados junto aos órgãos competentes.

"A gente vai olhar sim tecnologias de produtos biológicos. Lançamos isso e temos planos aqui bastante ambiciosos e audaciosos"

Temos um time trabalhando nisso para que a gente possa, assim que tiver todos os registros efetuados, seguindo todos os trâmites normais, trabalhar numa linha de produtos biológicos que vai desde fertilização do solo, até eventualmente diversificar nosso portfólio de atuação, porque o Brasil tem uma vocação natural para isso.

O agricultor brasileiro é um produtor dinâmico, aberto à tecnologia, quer testar o que é novo para produzir mais. Historicamente temos respostas muito positivas, a gente trabalha muito com fertilizantes, com o portfólio que é diferenciado e, posso garantir, é o mais completo do segmento. Agora nós vamos expandir para essa questão de biológicos.

O próximo passo de investimento então, necessariamente, será neste segmento de biológicos?
Fertilizante ainda tem um peso importante. Dentro de fertilizantes temos como hábito investir, buscar novas tecnologias e trazer produtos novos. A gente vem trabalhando em novas gerações de produtos, com nosso time nos Estados Unidos, trabalhando nesse desenvolvimento. Temos campos de prova no Brasil, vários espalhados nas principais instituições de pesquisa e desenvolvimento do Brasil, no sentido de entender a efetividade e se o produto vai ser eficiente ou não. Então tem sim um pipeline de produtos aí para ser lançados.

Na sua visão, o biológico tem potencial para atingir que tamanho dentro do negócio da Mosaic?
Difícil ponderar isso para você. As taxas de crescimento são expressivas, porque a base é muito pequena, mas nesse momento ainda eu não tenho um número preciso.

O projeto global de biológicos é baseado em aquisições ou são produtos que estão sendo desenvolvidos internamente?
Nós fizemos uma aquisição nos Estados Unidos, de uma empresa que se chama Plant Response. Eu diria que é uma combinação de aquisição, como neste exemplo, e desenvolvimento de produtos internos, aproveitando a expertise que a gente está trazendo com os profissionais desta empresa. Também temos modelos híbridos, trabalhamos com muitos parceiros para desenvolver produtos em conjunto, nos associando para fazer lançamentos de novos produtos e, eventualmente, a gente pode avaliar também importar os produtos que venham a se certificar com outras geografias que a gente opera. Temos operações também hoje na Índia e na China, que podem ser combinadas a esse contexto.

A Plant Response também tem equipe no Brasil?
O pessoal deles no Brasil somos nós. Estamos trabalhando em conjunto com eles. A gente vem conversando para trazer as soluções deles para cá. Para prosseguir nessa linha de testes, tem todo um processo que é desafiador, relacionado à regulamentação, que precisamos seguir fielmente. Então já contratamos as pessoas para nos assessorar nesse processo de regulamentação, para conseguir os licenciamentos. Estamos em fase de solicitação de alguns registros.

Quando podemos esperar que saiam os primeiros produtos autorizados?
Temos a expectativa que saiam ainda dentro deste ano, os primeiros biológicos. Eu só não consigo precisar a data porque dentro desses órgãos existe todo um processo de avaliação. Temos que respeitar o rito interno dentro desse contexto, respeitando este rito, a expectativa é que se materialize dentro desse ano.

Com a aprovação regulatória, o lançamento comercial pode ser imediato?
Com um produto específico, sim.

Vocês fizeram um investimento em outra empresa de biológicos, a Gênica. Como está este projeto?
Isso faz parte de uma estratégia nossa de investir em startups. Gênica é biológicos também. Temos representação no conselho da Gênica, estamos bastante otimistas com relação ao plano de negócios deles e estamos acompanhando. Como eu falei, trabalhamos com parceiros, e a Gênica pode ser um deles, mas temos outros.

Em função das metas para redução das emissões de carbono, muitos setores e empresas foram obrigados a se reinventar, mudar o negócio, o que já se percebe também em fertilizantes. Qual a visão da Mosaic sobre isso?
Em linhas gerais posso dizer que não temos uma crise existencial nesse sentido. Temos uma visão muito clara. Temos uma missão de ajudar a produzir os alimentos que o mundo precisa, atuando da mina até o campo. Isso para nós é muito claro e bem definido. Dentro desse contexto, a gente trabalha com fortes valores e compromissos institucionais relacionados a ESG. O ESG permeia a estratégia dos nossos negócios.

De que forma?
Quando eu falo para você que a gente tem um pipeline importante, de fazer lançamento de novos produtos, avaliando sempre tecnologias recorrentes, saindo um pouco de commodity, isso tem um pouco a ver com essa pegada. Estou trabalhando muito em projetos atrelados a conversão de área de pastagem em agricultura.

"O nosso viés de negócio não é esse greenwashing, essa onda verde que todo mundo fala"

Há outras iniciativas?
Outro exemplo é que somos o maior produtor de gesso. O gesso era um subproduto. Eram pilhas e pilhas de gesso que ficavam paradas em Uberaba e em Cajati. Hoje a gente consome mais do que a gente produz de gesso. Então tem toda uma estratégia focada em sustentabilidade, mas que permeia a estratégia de nosso negócio. Nossos rejeitos industriais tinham teor de nutriente, tinham teor de P205, de fósforo, e o que a gente fez? Desenvolvemos mercados para trabalhar em linha de organomineral. Além disso, é claro, a gente tem aqui também compromissos envolvendo a redução do consumo de água potável em todos os nossos sites, e relacionados à emissão de gases que geram o efeito estufa na atmosfera, com compromissos quantificados de redução até 2030. Todos os nossos novos projetos têm esse viés.

Inclusive no Arco Norte?
Sim, no projeto de Palmeirante, escolhemos aquele hub logístico que é conectado por ferrovia e deixamos de movimentar de 25 mil a 30 mil caminhões. Em cima disso, a gente reduziu a emissão de carbono. Os caminhoneiros vão fazer trechos menores, mais curtos, naquela região. Nesse site tem o projeto de geração de energia própria. Nos nossos sites estamos também adquirindo energia renovável, energia limpa.

O nosso viés de negócio não é esse greenwashing, essa onda verde que todo mundo fala aqui. Eu estou te dando exemplos reais e concretos de como montar uma estratégia ESG com o nosso negócio.

Também trabalham outros aspectos?
Temos também itens importantes atrelados a inclusão e diversidade. Temos uma meta de que a nossa força de trabalho tenha no mínimo, até 2030, 30% de mulheres. Pode parecer baixo, mas na mineração, 30% não é baixo. Nós temos aqui no Brasil perto de 6000 funcionários. Nos cargos de liderança também temos esse compromisso. Eu lidero uma equipe comercial no campo, que hoje tem próximo de 30% do total, de mulheres. Sim, mulheres fortes, mulheres que fazem a diferença, mulheres com fibra e que são as melhores vendedoras que a gente tem. Elas têm uma linha interessante na forma de atuação. E percebendo isso, a gente começou a acelerar, porque isso é conciliar o negócio com ESG.

Existe uma aposta da Mosaic em pecuária?
Temos projetos muito legais de pastagens, com um portfólio de produtos específico para pasto. Estamos falando de converter área de pastagem em área para agricultura. Isso também tem uma pegada muito legal, que não é incentivo a abrir área nova, é simplesmente converter, tornar o processo mais eficiente. E a gente aporta tecnologia, temos produtos para trabalhar com isso.

De que forma?
Na pastagem a nossa proposta é produzir até 50% a mais de carne e carcaça por hectare, com o fertilizante que a gente tem. Com isso, incentivamos que as áreas sejam mais intensivas. O cara vai produzir mais no final do dia. São pontos que a gente gosta de valorizar muito perante os nossos clientes. É uma equipe técnica qualificada, de mais de 200 agrônomos no campo, dia a dia, interagindo com o cliente, vestindo a bota e sujando a bota. Se você olhar, eu estou com bota aqui, vai me encontrar em qualquer lugar do Brasil, toda a semana eu estou viajando.

Este mercado de pastagens já é significativo para os negócios da empresa?
Ainda é pouco, porque nem todos declaram que compram fertilizante para aquele segmento. Mas o potencial de crescimento aqui é enorme, porque a base é pequena. A linha MPasto foi lançada em 2021 e hoje já vendemos o dobro do que foi comercializado no primeiro ano. Em 2022 tivemos um market share de 12% em pastagem e, neste ano, iremos aumentar o volume destinado à pecuária.

Para finalizar, gostaria que comentasse a reorganização feita este ano na companhia, quando o seu cargo mudou de vice-presidente Comercial para Country Manager. O que significa este movimento?
A gente vem passando por um projeto de transformação de processos. É o que a gente chama em inglês de global digital acceleration, (processo de aceleração digital), que envolve a implementação de novas ferramentas e o desenho de novos processos.

Para otimizar tudo isso, também estamos revendo a nossa forma de fazer a gestão da organização, onde uma das coisas importantes é garantir que a gente tenha uma conectividade global, seja uma organização inteiramente globalizada.

Isso tem um pouco a ver com os motivos pelo qual a gente fez as mudanças aqui de estrutura. Nesse processo de aceleração digital, a Mosaic vem investindo globalmente US$ 250 milhões. E passa também por uma mudança estrutural.

A gente então anunciou mudanças recentes aqui no Brasil, onde criou essa função institucional aqui do Country Manager. Fiquei muito contente e satisfeito de ser honrado, de ser convidado para exercer essa posição.

Eu já estou na Mosaic há praticamente 22 anos. Nesse período eu trabalhei em diversas áreas, trabalhei na área de finanças, na área de planejamento, logística, suprimentos, vendas e fui consolidando diversas posições executivas até chegar onde estou, aqui agora. Dentro desse contexto, trabalha comigo diretamente o vice-presidente comercial, um americano, agricultor de Minessota que veio para cá. Nessa pegada de estrutura global, a gente está trazendo esse viés para justamente prover experiência para que um executivo desse gabarito possa entender como o Brasil opera.

Trabalham comigo o vice-presidente comercial e um diretor senior de Supply Chain. Além disso, nós temos aqui um diretor de distribuição que cuida de todas as fábricas de mistura no Brasil.

Então, essas são as responsabilidades diretas que eu tenho. São 16 fábricas no Brasil e uma no Paraguai. E, além disso, eu fico responsável pela parte de relacionamento institucional, com o apoio importante de toda a área de assuntos corporativos que me ajuda nesse quesito.