Milho regenerativo com prêmio no preço? A Milhão Ingredients, empresa goiana que transforma milho não transgênico em mais de 40 produtos finais, vai pagar.

Isso é o que afirmou ao AgFeed o fundador e CEO da empresa, Luciano Carneiro, ao antecipar, com exclusividade, o provável ingresso da Milhão na próxima fase do Reg.IA, primeiro consórcio de agricultura regenerativa da América Latina, lançado no início de agosto.

A companhia, que tem a Amaggi como uma de suas sócias, deve se juntar, assim, a grupos como BRF, Bayer, Agrivalle, Gapes na iniciativa liderada pela também goiana Produzindo Certo, que tem como objetivo disseminar práticas de agricultura regenerativa entre os produtores em um ecossistema com compradores dispostos a valorizar esse manejo diferenciado.

Na primeira fase do projeto, a BRF concordou pagar um prêmio de 2% em cima da saca de soja regenerativa. A Milhão, afirma Carneiro, pretende pagar o mesmo percentual no milho.

“Uma coisa é falar e outra é ter uma certificação de terceiros que valide as práticas. A Produzindo Certo veio firmar isso, quantificando para o produtor, que não vai fazer isso sem retorno. Da mesma forma, nós, como indústria, vamos repassar isso para frente”, afirmou.

O CEO da Milhão explica que a empresa, que faturou mais de R$ 700 milhões no ano passado, já paga 10% adicionais por saca de milho recebida dos seus mais de 180 produtores (que plantam mais de 40 mil hectares) porque só atua com milho sem transgenia. Além disso, possui um programa que certifica práticas sustentáveis que agrega mais R$ 1 na saca.

“Vamos agregar ainda mais uma premiação se estiver no Reg.IA”, garantiu Carneiro. A ideia é já começar isso na próxima safra.

Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, afirmou que a ideia é que o produtor de soja que esteja dentro do consórcio aplique as mesmas práticas regenerativas no cultivo do milho de segunda safra.

“Estamos buscando empresas que queiram pagar esse prêmio para o milho e, assim, empilhamos benefícios para o produtor. Esse milho do consórcio será colhido após a colheita da soja regenerativa, em 2025/2026”, disse.

A Milhão foi fundada há 22 anos por Luciano e seu irmão, Leandro Carneiro. Com um capital inicial de R$ 60 mil e sem muito conhecimento no ramo, eles viram uma oportunidade de comprar uma fábrica que enfrentava dificuldades financeiras.

Com o passar dos anos, o que era a comercialização de flocos de milho passou a ser um negócio de ingredientes especiais.

“Começamos bem pequenos, com 182 toneladas de milho por mês. Em 2007, com a lei dos transgênicos, vimos uma oportunidade para atuar com o grão sem transgenia e nos transformar numa indústria de ingredientes. Foi um grande acerto”, contou o CEO.

Hoje, a produção é de 30 mil toneladas por mês de produtos, patamar que deve dobrar com a recente compra de uma planta da LDC em Rio Verde (GO).

A empresa produz cerca de 40 produtos finais e, como disse Luciano Carneiro, “o grande público pode até não conhecer a empresa Milhão, mas consome nossos produtos todo o dia”.

O negócio, que é B2B, tem como clientes gigantes do setor de alimentos como Nestlé, Kellogg’s, PepsiCo, Danone, Royal Canin, BRF, M. Dias Branco, Heineken e até nomes do agro como Bunge.

“Desde o cereal matinal até snacks de milho, farinhas lácteas infantis, proteínas empanadas e cervejas possuem ingredientes nossos”, resumiu o CEO.

Carneiro ainda revelou que a empresa também atua em outros segmentos, como na produção de farinha gelatinizada para a indústria de mineração e de fertilizantes. Ademais, está desenvolvendo areia higiênica para gatos com um parceiro.

Nos cálculos de Carneiro, a cada real investido pela empresa, o valor agregado atinge R$ 1,50. Hoje a empresa vende esses produtos para mais de 60 países.

Além de atuar com produtos, a empresa passou a exportar também milho não transgênico in natura há alguns anos. O executivo explicou que isso foi possível graças a uma parceria com o Porto do Açu, localizado no Rio de Janeiro.

Segundo ele, além de toda rastreabilidade que a empresa já faz na cadeia, o porto garantiu a não contaminação com o milho transgênico. “O porto dedica um armazém específico para nós”.

Ele contou que, na fábrica, todos caminhões que descarregam a carga, além de serem dedicados, passam por oito análises de transgenia e de micotoxinas.

Fábrica da Milhão em Rio Verde (GO)

A sociedade com a Amaggi

O cenário de M&As na Milhão tem sido agitado em 2024. Em fevereiro a empresa anunciou que a Amaggi havia comprado 50% do negócio e se tornando sócia. Algumas semanas depois, anunciou a compra de uma unidade da LDC em Rio Verde.

Do lado da empresa da família Maggi, o movimento marcou a entrada no mercado de ingredientes especiais, para bater de frente com suas concorrentes ADM e Cargill, que têm redobrado as apostas nesse segmento.

Do lado da Milhão, Carneiro explica que a empresa buscava um sócio estratégico e que o namoro com a Amaggi já durava alguns meses. Quando surgiu a oportunidade de adquirir um dos principais concorrentes - a unidade da LDC -, o casamento aconteceu.

“Adquirimos a indústria, que está em processo de retrofit e deve começar a operar em outubro”, disse. A aquisição deverá fazer com que a produção da Milhão dobre nos próximos anos, atingindo 60 mil toneladas mensais, ou 720 mil toneladas de produtos derivados do milho por ano.

Para tal, a empresa também precisa dobrar sua base de produtores. “Não adianta crescer só na indústria. A Amaggi veio somar e estamos muito satisfeitos com a sociedade. Eles são o maior produtor de soja não transgênica do País e nós, de milho. É uma união perfeita”.