Apaixonado por velocidade, o piloto Ricardo Basso acumula troféus nas pistas de terra pelo País. Campeão brasileiro de autocross e competidor em provas de rally, ele também é reconhecido pelo desempenho nos negócios.

Basso é produtor rural no Oeste da Bahia. A Agro Basso, empresa criada por seu pai, Ires Olimpio Basso, e hoje pilotada por ele tem crescido de forma rápida e é vista como referência de adoção de novas tecnologias para o campo.

Nos últimos dias, a fazenda Bananal, em Luís Eduardo Magalhães, uma das cinco unidades do grupo, que cultiva um total de 40 mil hectares, somando safra e safrinha, tem atraído visitas de outros agricultores da região. E, de certa forma, para ver de perto uma máquina em “alta velocidade”.

Nas lavouras de milho, sorgo e milheto da Agro Basso, quem corre são as duas primeiras “máquinas-monstro” da Nexat, fabricante alemã que se tornou popular nas redes sociais pelo gigantismo e o conceito inovador de seu produto “tudo em um”.

Autodefinida como “o primeiro sistema holístico completo de produção agrícola do mundo”, a Nexat promete combinar, em um único sistema, todas as etapas de trabalho em uma cultura, que anteriormente exigiam uma variedade de máquinas agrícolas, do preparo do solo à colheita, usando acessórios modulares.

Nos últimos dias, as redes sociais da Agro Basso apresentaram vídeos da enorme plataforma, com cerca de 14 metros de vão livre, colhendo sorgo a uma velocidade de 16 quilômetros por hora.

“Chegamos a atingir até 20 quilômetros por hora”, contou Adnam Robles, diretor agrícola da Agro Basso ao AgFeed. Com colhedoras convencionais, a velocidade média costuma ser, segundo ele, de 7 km/h.

“Estamos bem esperançosos e otimistas com a nova máquina”, afirmou ele. “Mas só poderemos avaliar totalmente a Nexat depois de completar a safra de soja, no ano que vem”.

Ricardo Basso foi o primeiro produtor brasileiro a encomendar uma Nexat. Ele conheceu a máquina ao acompanhar testes de um protótipo enviado pela companhia ao Brasil no ano passado.

Arrojado, ele procurou os fabricantes e as conversas evoluíram para um acordo, que fez da Agro Basso uma espécie de vitrine da marca no País. Durante cinco anos, mais do que um comprador, o grupo será um parceiro no desenvolvimento e validação dos produtos da empresa alemã no Brasil.

Hoje rodam na fazenda Bananal o protótipo e a primeira máquina importada sob encomenda de Basso. Ela desembarcou no Oeste da Bahia em junho. E já foi colocada em ação nas operações de colheita da safrinha.

A primeira impressão foi positiva, mas Robles sabe que há muito chão pela frente. Na colheita, a empresa acoplou na Nexat plataformas de corte desenvolvidas especialmente para a nova máquina pelas fabricantes GTS, brasileira, e MacDon, americana, parceiras da empresa alemã.

Nos próximos meses, a máquina será submetida a desafios importantes, com as operações de preparo do solo, adubação e plantio para a safra de soja. Nestas etapas, serão utilizados novos implementos, desenvolvidos pelas brasileiras Baldan, J.Assy e a alemã Amazone.

E, posteriormente, pulverização, com equipamentos da Incomagri e, depois, a colheita da soja, em condições bem diferentes das culturas da safrinha.

Na Agro Basso, as avaliações de desempenho passam também pela “análise minuciosa de custos”, de acordo com Robles. Ele acredita que uma máquina da Nexat tem potencial para substituir até três convencionais, mas isso terá de se comprovar na ponta do lápis.

Na pulverização, os equipamentos usados até agora possuem tanques para 3 mil a 4 mil litros de agroquímicos. Na Nexat, será possível operar com 18 mil.

“Um dos grandes benefícios pode ser na solução de um dos maiores problemas da região, que é a falta de mão-de-obra qualificada", disse. “Ela faz com um operador aquilo que as outras fazem com três ou quatro”.

Há, no entanto, uma série de indagações ainda à espera de respostas. “Precisamos ver, por exemplo, como vai ser quando estiver chovendo e tivermos que entrar com esse chassi bem pesado em um solo encharcado”, comentou Robles.

No sorgo, no milho e no milheto, até agora, ele verificou também índices de perda menores que em máquinas convencionais. Na soja, entretanto, as condições de colheita são diferentes e ainda precisam ser mais testadas.

Fábrica no Brasil

Com exceção das plataformas de colheita, todos os demais implementes ainda estão em fase de validação no Brasil, segundo Vinícius Marchioro, country manager da Nexat no País.

Ele disse ao AgFeed que a escolha da Agro Basso como parceira foi estratégica para os planos da companhia de se estabelecer no Brasil. “Eles são conhecidos por estarem à frente quando se fala em tecnologia, seja em manejo, seja em equipamentos”, afirmou.

De fato, a Agro Basso tem se destacado como uma das empresas agrícolas com maior crescimento naquela fronteira. Há cinco anos, a empresa cultivava apenas 2,8 mil hectares.

Hoje são dez vezes mais, contando apenas a área estática, para a produção de soja, milho, milheto, sorgo e algodão, em sequeiro e irrigado. As produtividades que na última safra de soja ficou em torno de 54 sacas por hectare, estão cima da média local.

Além disso, o grupo está em uma região com grande potencial para máquinas de maior porte, mercado preferencial para a Nexat.

Marchioro revelou ao AgFeed que a empresa alemã deve enviar duas outras máquinas para a lá em 2025 e já está negociando a compra de um terreno em Luís Eduardo Magalhães para a instalação da primeira concessionária da marca no País.

As operações na fazenda bananal tem sido acompanhadas por técnicos da empresa alemã e visitadas quase que diariamente, de acordo com Marchioro, por agricultores interessados em conhecer melhor o sistema Nexat.

O executivo disse que ainda não há outras encomendas em vista e que o momento é de estruturação do negócio no Brasil. Mas já com planos ambiciosos.

Em paralelo ao desenvolvimento na Bahia, a empresa tem mantido conversas com governos do Sul para uma futura instalação de uma fábrica no País. Os planos da Nexat nesse sentido foram antecipados por Marchiori em entrevista ao AgFeed durante a Agritechnica, maior feira mundial de equipamentos, no ano passado.

Agora, ele contou que já iniciou negociações com o governo do Paraná, um dos candidatos a receber o investimento, cujo valor não foi revelado.

Ele disse que, embora os principais mercados para a marca estejam mais ao norte, na região do Matopiba, Goiás e Mato Grosso do Sul, questões logísticas e de mão de obra apontam que as melhores condições para a localização da fábrica estão mesmo em território paranaense ou paulista.

Segundo Marchioro, a decisão ainda deve demorar a sair e a produção no Brasil, se de fato confirmada, só aconteceria após 2028, com uma unidade capaz de produzir até 300 máquinas por ano.

Rápida no campo, a Nexat segue ritmo mais moderado, até sentir que chegou o momento de acelerar nos negócios. Criada pelos engenheiros mecânicos Klemens e Felix Kalverkamp, pai e filho, a empresa recebeu grande atenção da mídia e, desde o ano passado, tem buscado dar passos mais largos na conquista de mercado.

Seu primeiro protótipo ficou pronto em 2018, mas apenas no ano passado, após ter recebido um aporte, de valor não revelado, do EW Group – conglomerado alemão com foco em genética para produção de aves, suínos e peixes e participações em dezenas de empresas em vários países do mundo, inclusive no Brasil – a companhia passou a falar em produção em larga escala.

Atualmente, há apenas 25 máquinas da marca operando no mundo. Mas a ideia é, a partir de agora, ganhar velocidade, colocando o Brasil no circuito.