No oeste do Paraná, tradição e modernidade na agropecuária andam juntas. Formado em ciências contábeis e administração, o agricultor (que também já foi bancário e entregador de leite) Dilvo Grolli está no comando da Coopavel, Cooperativa Agroindustrial de Cascavel, há exatamente 38 anos.
A cooperativa completa 53 anos em dezembro e é vista como um case de sucesso no setor em função, principalmente, de sua estratégia de diversificação, além de uma certa ousadia para inovar.
Em 1995 criou o Show Rural Coopavel, uma feira de tecnologia agrícola, considerada atualmente uma das maiores do País e que acabou inspirando outras cooperativas e regiões brasileiras a desenvolver modelo semelhante de evento, com foco em negócios e organização diferenciada se comparada ao que se via até então nas tradicionais "exposições" do meio rural.
O veterano Grolli mantém o espírito e a voz ativa, em um momento em que outras grandes cooperativas realizam a transição dos seus dirigentes históricos para uma nova geração de executivos – o mais recente caso é o da C.Vale, com sede na mesma região.
Em conversa com o AgFeed, o presidente da Coopavel admitiu que 2023 foi um ano desafiador para o agro e com a cooperativa não foi diferente. Mas indicou que isso não deve afetar a trajetória de investimentos da cooperativa.
Atento às tendências, por exemplo, ele revelou que deve inaugurar em breve uma biofábrica de R$ 40 milhões, inserindo a Coopavel no dinâmico mercado de insumos biológicos. E quer ampliar a capacidade de armazenamento, permitindo uma melhor gestão do resultado das colheitas dos associados.
"A soja que estava R$ 170 a saca no início do ano caiu para R$ 130 e o milho também teve queda de mais de 40% ao longo do ano, tudo isso vai refletir em uma lucratividade menor, mas pretendemos manter o mesmo nível de faturamento, porque aumentamos os volumes”, afirmou Grolli.
Em 2022 a Coopavel faturou R$ 5,4 bilhões, número que deve se repetir este ano, na visão do executivo. Desde 2017 a receita vinha crescendo no mínimo 10% ao ano, mas agora interrompe o avanço em meio ao “ano de ajuste” do agro.
Ainda assim, Grolli considera que repetir o faturamento é um excelente resultado, que só foi possível já que os volumes processados nas agroindústrias da cooperativa aumentaram, para compensar a queda nos preços, inclusive em aves e suínos, setores também fundamentais para a Coopavel.
O lucro da Coopavel em 2022 foi de R$ 103 milhões, valor que deverá ser menor este ano, segundo Dilvo. Além das margens que caíram, ele lembra os juros mais altos que predominaram durante boa parte do ano.
Para 2024, o presidente da cooperativa prevê uma retomada no crescimento, que poderá elevar em 10% a receita.
“Sempre há ganhos de produtividade, por aplicação de tecnologia, ano a ano. E também acreditamos que a tendência de preços melhores já está ocorrendo”, explicou.
Grolli lembrou que a safra 2023/2024 vem sendo marcada pelo excesso de chuva no Rio Grande do Sul e por problemas climáticos no Centro-Oeste. Já o Paraná, segundo maior na soja e milho e primeiro lugar na produção de frango, por exemplo, até o momento não sofreu prejuízos significativos com o clima.
Estratégia de diversificação
Os negócios da Coopavel são distribuídos em cinco grandes áreas: insumos, trading de grãos, frango, suínos e “outras agroindústrias”.
São ao todo 12 indústrias, o que inclui duas fábricas de fertilizantes, quatro de ração, um moinho de trigo, uma esmagadora de soja, além dos frigoríficos de frangos e suínos. Há também uma indústria de produtos de limpeza que atende a própria Coopavel e que, em breve, poderá ampliar o mercado, segundo ele.
Em paralelo, a Coopavel mantém a presença no mercado do leite por meio de uma parceria com a Piracanjuba. O fornecimento da ração e da assistência técnica aos produtores fica por conta da cooperativa. Já a indústria faz a coleta do leite e o processamento.
“Posso afirmar que 95% do faturamento da Coopavel vem das agroindústrias, que recebem soja, milho e trigo. São produtos com valor agregado, nós industrializamos entre 80% e 90% da produção agrícola que adquirimos”, destacou Dilvo Grolli.
Na opinião do líder da cooperativa, este é o segredo para não ter tido queda no faturamento em períodos difíceis como 2023.
“Nós temos o cuidado de que cada um dos cinco grupos não represente mais do que 25% do faturamento. A grande oportunidade de negócio é a diversificação. Se um ou dois não vão bem, os outros três seguram”, disse.
Plano de investimentos
Em 2022, com recorde de faturamento, a Coopavel investiu R$ 360 milhões, principalmente nas agroindústrias e na produção de aves e suínos.
Porém, com a desaceleração do mercado este ano, os investimentos desta vez ficaram em R$ 260 milhões, mesmo patamar que Dilvo Grolli promete aplicar em 2024.
“Como o faturamento ficou no mesmo nível, o investimento também obedece essa regra”, explicou.
Metade do investimento no próximo ano será destinada à ampliação da capacidade da cooperativa para armazenar grãos. Até 2025 a Coopavel quer somar 200 mil toneladas na capacidade atual, que é de 1 milhão de toneladas.
A última safra foi marcada pela produção recorde e pela falta de espaço para armazenar soja e milho no País, especialmente no Paraná, o que vem obrigando as cooperativas a investir nesta capacidade. Foi o caso também da Cocamar, como mostrou o AgFeed em agosto passado.
Outro investimento importante para a Coopavel está ocorrendo na produção de biológicos. Será inaugurada uma fábrica da marca “Biocoop", provavelmente em fevereiro de 2024. O investimento foi de R$ 40 milhões, segundo Grolli.
O executivo não revelou a capacidade da biofábrica, mas disse que, inicialmente, vai atender a demanda dos cooperados, que plantam cerca de 450 mil hectares de soja e milho. Futuramente, também há espaço para atender outras regiões.
“Nós sabemos que o mercado de biológicos, que movimentava R$ 300 milhões em 2017, está chegando a R$ 3 bilhões este ano, podendo chegar a R$ 10 bilhões em 2030. É uma exigência do consumidor ter produtos mais naturais”, justificou.
Sobre o modelo de financiamento da cooperativa, Grolli evitou fazer comentários, nem detalhou qual seria o papel do mercado de capitais atualmente. “Os bancos nos atendem, trabalhamos em parceria com eles, mas é fato que o custo chega a ficar as vezes duas vezes mais caro do que aquele do crédito rural oferecido pelo Plano Safra, que não dá vazão a toda a necessidade”.
Modelo de gestão
Dilvo Grolli faz algumas ressalvas sobre a tendência entre cooperativas de contratar executivos para liderar os negócios, mas garante que o crescimento do setor traz a necessidade de “dançar conforme a música”.
“O que é executivo? Eu sou executivo, sou administrador de empresas, não vejo problema em ser um administrador e ao mesmo tempo saber plantar soja e milho”, afirma.
Ele admite, no entanto, que as cooperativas em geral estão buscando adotar novos modelos de administração porque cresceram muito e “hoje contabilizam bilhões de faturamento”.
“Por isso é preciso adaptar ao modelo de administração já consolidado por grandes corporações mundiais”, afirma.
Entre as possibilidades, ele citou o modelo em que há dois níveis de administração, sendo um o conselho de acionistas e outro aquele que permite participação de pessoas de fora desta base, “que não sejam agricultores, por exemplo”.
É taxativo, porém, ao dizer que não há qualquer previsão sobre quando a Coopavel poderá passar por mudanças na gestão, “afinal estamos falando do setor privado, algo totalmente diferente do que ocorre na área pública, na política”.
“As cooperativas estão caminhando para uma gestão compartilhada, igual o que ocorre com as grandes empresas mundiais”, acrescentou.
Show Rural Coopavel 2024
A próxima edição do Show Rural Coopavel já tem data marcada. Ocorre de 5 a 9 de fevereiro de 2024. A expectativa é receber 320 mil visitantes.
Na edição deste ano, o evento movimentou mais de R$ 5 bilhões, aumento de 56% em relação ao ano anterior.
“Em 2024 esperamos crescimento neste volume, mas ainda não sabemos quanto”, disse Grolli.
Ele afirmou que as vendas na feira seguem crescendo em função da necessidade de renovação de frota e da necessidade de adquirir insumos “de uma geração mais moderna, dentro das propriedades”. “Nos últimos 33 anos, enquanto a produção cresceu 441%, a área avançou somente 109%, é um ganho de produtividade que é fruto destes investimentos em tecnologia”.