O segmento de papel e celulose tem recebido, nos últimos meses, um olhar generoso de analistas e investidores. Isso ficou ainda mais evidente após a divulgação dos resultados trimestrais da Klabin, que abriu a temporada de apresentação de balanços do setor.
Na linha final do documento, o lucro líquido registrado foi de R$ 315 milhões, um tombo de 68% ante o mesmo período em 2023. Mas nem esse dado provocou críticas dos analistas de grandes bancos, que separaram o efeito financeiro sobre os números e destacaram o desempenho positivo em todos os segmentos de atuação da companhia.
A queda no lucro líquido, afinal, foi influenciada pelo resultado financeiro da Klabin, "bastante impactado" pelo aumento das despesas financeiras e pela desvalorização cambial do real em relação ao dólar, segundo comenta a analista do BB Investimentos, Mary Silva.
Com isso, o resultado financeiro ficou negativo em R$ 563 milhões, revertendo os R$ 156 milhões positivos do segundo trimestre do ano anterior. À época, o dado refletiu a redução de despesas financeiras e o aumento das receitas financeiras, decorrente do efeito positivo da marcação a mercado de títulos mantidos no caixa.
Nas outras áreas, entretanto, os bons desempenhos ficaram expressos na linha dedicada ao lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado. Aí, a cifra trimestral foi de R$ 2,05 bilhões, total 53% acima do visto um ano antes.
Pesam a favor, neste caso, uma série da fatores favoráveis, como o menor custo caixa da Klabin no período, o crescimento no volume de vendas, o maior preço de celulose de fibra curta e até a valorização do dólar frente ao real nos últimos meses. A cotação média no período foi de R$ 5,21 para cada US$ 1 contra R$ 4,95 no mesmo período do ano anterior.
No campo operacional, a companhia lembrou que, no segundo trimestre do ano passado, houve uma parada geral de manutenção em sua planta de Ortigueira (PR) - do projeto Puma II -, o que impactou os dados da época e ajudou no desempenho deste ano.
A receita líquida da Klabin também cresceu no comparativo anual, para R$ 4,94 bilhões, ficando 15% acima do registrado de abril a junho de 2023. Desse total, R$ 1,58 bilhão veio da divisão de celulose – avanço de 25% na base anual, enquanto a área de papéis contribuiu com R$ 1,63 bilhão, alta de 23% na mesma base de comparação.
Em relação ao volume de vendas, houve crescimento de 16% no segundo trimestre ante o mesmo período do ano passado, para 995 mil toneladas. As vendas de celulose alcançaram 371 mil toneladas, alta de 11% na base anual, e a de papéis ficou em 355 mil toneladas – avanço de 33%.
Números fortes da celulose
Para analistas, o segmento de celulose foi destaque pelos desempenhos operacional e financeiro. O Ebitda ajustado mais que dobrou em um ano, saindo de R$ 389 milhões um ano antes para R$ 857 milhões no segundo trimestre. Já o da divisão de papéis e embalagens cresceu 25%, para R$ 1,19 bilhão.
“O resultado do Ebitda da divisão de celulose foi mais forte, com melhor realização de preço, maiores volumes e menores custos", diz o analista do Itaú BBA, Daniel Sasson.
O desempenho de preços de celulose nos próximos meses é, no entato, preocupação dos analistas da XP e de investidores. Em relatório, Fernando Urbano, Guilherme Nippes e Lucas Laghi dizem acreditar que, embora a queda seja esperada no curto prazo, o desempenho consistente dos custos da Klabin mitiga parcialmente a pressão de preços esperada para o segmento.
Contudo, os analistas do BTG Pactual, Bruno Lima, Caio Greiner e Leonardo Correa, dizem que os preços seguem em níveis elevados, enquanto a tendência é positiva para demanda e preços de kraftliner e caixas de papelão ondulado.
De abril a junho, a Klabin destacou que o balanço de oferta e demanda do mercado de celulose se manteve positivo, com a demanda por fibra curta, fibra longa e fluff aquecida. Isso resultou na alta de preços em todas as regiões no período.
A companhia destaca que os preços na Europa subiram em média 21% na fibra curta e 13% na fibra longa, ante o primeiro trimestre deste ano. Na China, as altas foram de 9% nas duas categorias, estável ante o trimestre imediatamente anterior.
Em meio aos resultados, a equipe do BTG reforça que a companhia continua sendo bem gerida, com crescimento diversificado. “Esperamos que a empresa mantenha sua trajetória de resultados fortes. Estamos cada vez mais otimistas em relação à Klabin, considerando uma opção confiável em mercados voláteis e sob um cenário de real mais fraco”, diz o relatório do banco.
Com os números citados acima, a Klabin encerra o primeiro semestre com lucro líquido 65% abaixo do visto há um ano, de R$ 775 milhões.
Em contrapartida, o Ebitda ajustado cresceu 13% de janeiro a junho, para R$ 3,7 bilhões. Ainda no comparativo anual, a receita líquida teve desempenho discreto, alta de 3%, somando R$ 9,37 bilhões no primeiro semestre.
Próximos trimestres
Para os próximos meses, o BTG vê a Klabin posicionada para se beneficiar de melhores perspectivas em todas as suas unidades de negócios, levando a um momento consistente e crescente de resultados nos próximos trimestres.
“À medida que os projetos Puma II e Figueira (em Piracicaba) evoluem, projetamos que a empresa entregará um crescimento de volume de 10% em 2024, o que acreditamos que o mercado subestima. Além disso, vemos a Klabin como um bom veículo para exposição ao dólar”, avalia a equipe do banco.
Por sua vez, o banco Safra chama a atenção para as paradas de manutenção programadas nas unidades Ortigueira, neste mês, e Correia Pinto (SC), em agosto, com impactos nos números do terceiro trimestre.
“Estimamos que as paradas incorrerão em R$ 150 milhões a R$ 200 milhões em custos”, calculam os analistas Conrado Vegner e Ricardo Monegaglia.
Apesar de os resultados serem considerados positivos, as units da Klabin pouco reagiram ao longo do pregão, com oscilações ao redor de 1%. Os papéis encerram os negócios com leve alta de 0,45%, após ajustes na B3, negociados a R$ 4,44. Na véspera, as ações fecharam em alta de 4%. No acumulado do ano, a Klabin tem valorização perto de 13%.