A Kepler Weber, maior companhia de silos e soluções de armazenagem do Brasil, anunciou nesta segunda-feira, dia 15 de dezembro, que vai estender por mais um mês as negociações com a americana Grain & Protein Technologies (GPT), controlada pela gestora americana AIP e dona da GSI, que fez uma proposta para adquirir a empresa brasileira em novembro passado.
O prazo para encerramento das tratativas foi prorrogado por mais 30 dias, indo até o próximo dia 15 de fevereiro de 2026, segundo fato relevante disponibilizado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e assinado pelo diretor financeiro e de RI da companhia, Renato Arroyo.
A Kepler havia anunciado ao mercado, no último dia 4 de novembro, que recebeu uma proposta não vinculante da GPT para aquisição de seu controle e que iria analisá-la durante 90 dias. Segundo a companhia, a proposta prevê uma operação de incorporação de ações, na qual a totalidade dos papéis ordinários da Kepler seria incorporada por uma empresa controlada pela GPT Brasil, a MergerSub.
Como contrapartida, os acionistas poderiam optar entre duas alternativas: receber R$ 11,00 por ação em dinheiro ou uma combinação de ações da GPT Brasil – 0,4662 ação por papel – mais um pagamento em caixa de R$ 8,01 por ação.
Caso a transação avance nesse formato e seja aprovada, a Kepler Weber se tornaria uma subsidiária da MergerSub e deixaria o Novo Mercado da B3. Após o fechamento, a GPT ainda poderia optar pela conversão do registro da companhia na CVM para a categoria B ou até pelo cancelamento do registro de companhia aberta.
O fato relevante ressalta ainda que, até o momento, não há qualquer documento vinculante assinado entre as partes.
A empresa também informou que a GPT mantém conversas paralelas com alguns acionistas sobre possíveis transações privadas adicionais, envolvendo cláusulas como não concorrência e não aliciamento, dentro dos limites legais e das práticas de mercado.
A movimentação abre caminho para a formação de um gigante setor de armazenagem no País, unindo duas grandes empresas do segmento. Isso porque, de acordo com um relatório do Citi, a Kepler é a líder do mercado de armazenagem no Brasil, com 35% do total, e a GSI vem logo após, com 16% de market share.
Assim, se a transação avançar, a GSI de cara já ganharia escala no Brasil ao incorporar a líder do segmento, com duas fábricas no País, localizadas em Panambi (RS) e Campo Grande (MS), nove centros de distribuição em oito Estados e mais de 1,9 mil funcionários.
Para a brasileira, por sua vez, a operação representaria acesso a uma estrutura global robusta. A GSI é uma das marcas da Grain & Protein, que também trabalha globalmente com outros nomes como Cumberland, AP, Tecno e Aerotech, com presença em mais de 70 países.
O interesse da companhia americana em expandir sua operação no Brasil ganhou tração após a venda da GSI e outros negócios de armazenagem da fabricante de máquinas agrícolas AGCO para a gestora americana AIP, por US$ 700 milhões, no ano passado. Desde então, a estratégia passou a levar em consideração a meta de dobrar de tamanho no País e diversificar receitas.
Para uma importante fonte do mercado ouvida pelo AgFeed em novembro, uma eventual fusão entre as duas empresas de fato faz sentido em termos estratégicos, com ganhos tanto para a Kepler como para a GSI.
Apesar de presente em mais de 100 países, a força da Kepler está na América Latina em geral, enquanto que a GSI é forte nos Estados Unidos. “Isso parece estratégico para os acionistas, porque a GSI tem uma operação grande nos Estados Unidos, onde a Kepler Weber é pequena, e em contrapartida, eles têm acesso ao mercado da América Latina, onde a Kepler tem força”, disse.
Ao mesmo tempo, alertou a fonte, há a possibilidade de concentração de mercado com um player muito grande dominando os negócios. “Não sei se o Cade aprovaria uma eventual fusão, por exemplo”, disse. “Com uma concentração dessa pode ser que haja uma disputa muito mais acirrada no mercado. O risco disso tudo é o dumping.”
Resumo
- A Kepler Weber prorrogou até 15 de fevereiro de 2026 o prazo de negociação da proposta de fusão feita pela americana Grain & Protein Technologies (GPT), sem ainda haver acordo vinculante
- A oferta envolve incorporação de ações, com opção de pagamento em dinheiro ou combinação de ações e caixa, o que pode levar à saída da Kepler do Novo Mercado da B3
- A operação tem potencial de criar um gigante do setor de armazenagem no Brasil, unindo as forças das empresas americana e brasileira