Bill Anderson assumiu o cargo de CEO da Bayer em junho passado. Assim, o trimestre que se estendeu de julho a setembro foi o seu primeiro completo no comando do grupo. E ele não escondeu sua frustração com os resultados apresentados nesta quarta-feira, 8 de novembro.
"Não estamos felizes com o desempenho deste ano”, declarou no comunicado da empresa. “Quase 50 bilhões de euros em receita, mas fluxo de caixa zero simplesmente não é aceitável".
O resultado ficou dentro das expectativas, com vendas globais em linha com o mesmo período no ano anterior, batendo 10,3 bilhões de euros. E a divisão Crop Science, liderada pelo brasileiro Rodrigo Santos, foi apontada como uma das responsáveis pela redução de 31,3% no Ebitda (ganhos antes de impostos e depreciações), que ficou em 1,68 bilhão.
Olhando especificamente para a divisão agrícola, o Ebitda ficou negativo em 24 milhões de euros, contra um resultado positivo de 629 milhões de euros há um ano. Segundo a empresa, houve elevação nos volumes de produtos vendidos em todas as regiões, mas não suficientemente para compensar a queda nos preços do herbicida glifosato, principal pilar de negócios do segmento.
Os negócios de fungicidas, por exemplo, tiveram alta de 16,2%, sobretudo devido a maior volume comercializado na América Latina. Os segmentos de sementes de milho (21,2%) e soja (15,6%) também tiveram crescimento, mas os herbicidas tiveram retração de 17,3%.
Bill Anderson usou o comunicado para passar mensagens claras para o mercado e também internos. "Sabemos que isso exige um quarto trimestre forte”, disse. “Estamos totalmente focados em entregar exatamente isso – e a equipe está confiante em nossas perspectivas."
Ele informou que pretende focar tudo na missão da Bayer de "Saúde para todos, fome de nenhuma" e em impulsionar a inovação e fortalecer o desempenho financeiro. E antecipou que deve haver cortes.
"Nossa missão nem sempre esteve na frente e no centro de nossas operações. Isso vai mudar. Estamos redesenhando a Bayer para focar apenas no que é essencial para nossa missão – e nos livrarmos de todo o resto."
Até o final do próximo ano, segundo o comunicado, a Bayer “removerá várias camadas de gestão e coordenação” Ele mesmo indicou que deve haver uma redução significativa na força de trabalho, mas não com um programa tradicional de corte de custos.
"Este passo vai libertar as nossas equipes com o foco de missão necessário para dar a volta por cima. 95% da tomada de decisão na organização mudará dos gerentes para as pessoas que fazem o trabalho", disse.
Também deve ser proposto um novo sistema de remuneração do Conselho de Administração, que estará, segundo ele, mais alinhado com a evolução de longo prazo do preço das ações da companhia.
"Estamos analisando de perto nossas opções estruturais. Temos uma equipe de especialistas – incluindo consultores financeiros externos – fazendo avaliações”, disse.
“Eles estão revisando as condições de mercado, o que as mudanças estruturais significariam para nossa criação de valor, custos únicos e sinergias, fluxos de caixa e índices de alavancagem, vazamento de impostos e outros critérios", explicou Anderson.
Uma das opções avaliadas foi a divisão da empresa em três divisões. Em julho, logo depois de assumir, Anderson chegou a ser pressionado por grupos de investidores ativistas a separar a divisão agrícola em uma empresa independente.
No comunicado, o CEO informou que está “descartando” a opção de divisão em três negócios. Ele prometeu detalhar esses estudos no Capital Markets Day, em março de 2024, juntamente com a publicação do Relatório Anual e do guidance de 2024.
Até lá, a julgar pelo tom de Anderson, a empresa já não deve ser a mesma.