O americano Bill Anderson assumiu o comando da Bayer no primeiro trimestre deste ano. Foi nomeado para ocupar o lugar de Werner Baumann, que renunciou em virtude da pressão de grupos de acionistas da empresa, que viam nele o responsável por investimentos que teriam dado prejuízo financeiro e reputacional à gigante alemã.

O novo comandante não teve, no entanto, nem um semestre de trégua. Assim que assumiu, em abril, investidores ativistas que vinham reforçando suas posições acionárias desde o início do ano passaram a exigir dele uma medida drástica: uma cisão separando a divisão Crop Science dos demais negócios da companhia.

Na semana passada, a agência alemã Platow Brief, especializada em informações econômicas e financeiras, chegou a publicar reportagem dizendo que Anderson avalia essa possibilidade – e poderia anunciá-la em cerca de três a quatro meses. A Bayer negou, chamando de “especulativa” a matéria.

Se a pressão que levou à saída de Baumann teve o empurrão decisivo da Inclusive Capital Partners, do investidor Jeffrey Ubben, agora quem lidera a campanha pela cisão é a BlueBell Capital, gestora ativista fundada em 2014 pelos italianos Giuseppe Bivona e Marco Taricco.

Eles identificaram, na ocasião, que o ativismo financeiro, muito atuante nos Estados Unidos, poderia gerar oportunidades importantes na Europa. E colocaram gigantes de vários setores no radar.

Somente nos últimos quatro anos, por exemplo, a BlueBell conseguiu alterações importantes em empresas como Danone (renúncia do CEO Emmanuel Faber, em 2021) e Hugo Boss (destituição do CEO Mark Langer, em 2020).

Na trading Glencore, movem campanha para que a empresa venda a divisão de negócios de carvão. Em 2021, a BlueBell também havia, com sucesso, feito movimento semelhante na farmacêutica GSK.

Em abril passado, a BlueBell – que já havia se alinhado a Ubben no caso da substituição de Baumann – partiu para o jogo pela cisão da Bayer. Lançou uma campanha em que argumenta que a companhia está subvalorizada se comparada a suas concorrentes. E imputa a responsabilidade disso aos negócios na área de agro.

Para os investidores ativistas, grande parte do problema foi decorrente da compra da Monsanto, em 2018, que não teria agregado valor à Bayer, apenas questionamentos jurídicos relacionados a possíveis efeitos cancerígenos do glifosato, principal tecnologia de defensivos químicos da empresa americana. Os custos desses processos poderiam chegar a US$ 16 bilhões aos cofres da empresa.

No site da companhia de investimentos, um link leva a um documento chamado “Bayer, as sementes do sucesso”, com o subtítulo “Um roteiro para a recriação de valor a longo prazo”. Nele, a Blue Bell elenca sua visão da companhia e propõe uma “revisão estratégica do portifólio” da empresa, com a separação da divisão Crop Science – hoje presidida pelo brasileiro Rodrigo Santos – do restante do grupo.

A proposta dos investidores não é vender a área de agro, mas transformá-la em outra empresa, cujas ações seriam divididas entre os atuais acionistas da Bayer e negociadas separadamente em bolsa de valores.

Eles citam como modelo estratégia semelhante feita pelo grupo alemão Siemens que, envolvido em uma crise reputacional por escândalos de suborno a autoridades em dezenas de países, apartou a divisão Energy, criando uma nova companhia.

Diferentemente do que defendem executivos da gigante química, os investidores defendem que as sinergias entre as áreas de Crop Science e farmacêutica são muito pequenas e a separação não traria impacto relevante para nenhuma delas.

Em contrapartida, alegam, haveria um ganho, através apenas dos ganhos com a percepção de mercado, que poderia chegar a 70% no valor do negócio. Isso, considerando a capitalização atual de empresas dos mesmos segmentos.

Não é a primeira vez que a Bayer enfrenta pressões desse tipo, Proposta semelhante foi feita em 2018 pela gestora Elliot Management. Na época, a Johnson & Johnson passava por um processo de separação de suas unidades de bens de consumo, higiene e farmacêutica, mas o então CEO Baumann resistiu em seguir o mesmo caminho.

O que é certo para uma companhia não é necessariamente a coisa certa para outra”, afirmou Baumann na ocasião. Hoje ele não está mais em campo e seu sucessor poderia ser convencido do contrário, segundo a Platow Brief.