A Hidrovias do Brasil protocolou no início da noite desta terça-feira, 10 de dezembro, um comunicado em que convoca uma assembleia geral dos detentores de duas emissões de debêntures realizadas pela empresa.
O objetivo da companhia é submeter à votação deles um pedido de “waiver” para evitar pedidos de inadimplência e dar liberdade aos seus controladores para a realização de operações como a venda de ativos em valores superiores a 20% da receita operacional líquida.
A assembleia foi agendada para o primeiro dia útil de 2025S. A ordem do dia, segundo comunicou a empresa, é obter anuência prévia dos debenturistas para que pelo período de dois anos contados a partir da data de realização da assembleia, “não haja a incidência de Evento de Inadimplemento Automático” previsto em cláusulas das escrituras das emissões.
Segundo informa a companhia na proposta de assembleia enviada aos investidores, a decretação de vencimento antecipado automático das debêntures poderia acontecer em função da ocorrência de alguns eventos pré-estabelecidos e a anuência só seria aplicada “caso a Emissora venha a ter um acionista que seja caracterizado como acionista controlador, direto ou indireto, nos termos do artigo 116 da Lei das Sociedades por Ações”, desde que esse controlador tenha participação superior a 5% do capital social e “classificação de risco AAA pela S&P Global Ratings Brasil ou Fitch Ratings Brasil, ou Aaa, pela Moody’s Local BR Agência de Classificação de Risco Ltda.”
Um dos eventos previstos na escritura como possível acionador da cláusula de vencimento antecipado é justamente a alienação de ativos “em uma ou mais operações, cujo valor, individual ou agregado, seja de até 20% (vinte por cento) da receita operacional líquida consolidada da Emissora”.
Em comunicado, a empresa afirma que a anuência “está alinhada à estratégia da companhia de buscar a perenidade de sua operação através da maior estabilidade nas condições de navegação e da expansão de suas operações”.
Neste sentido, afirma que “vem avaliando continuamente a otimização do seu portfólio, o que inclui a possibilidade de alienação de ativos para aumentar o foco da Companhia em suas principais operações e projetos”.
Aos investidores, a empresa cita que “vem enfrentando os efeitos de um contexto adverso, amplificados pelos impactos da seca, resultando em uma alteração na proporcionalidade da representatividade de suas operações na receita consolidada”.
O pedido de anuência é uma medida razoavelmente comum em operações de emissão de debêntures. No caso da Hidrovias, ele vem na sequência de uma série de balanços com resultados ruins, que trouxeram prejuízos no balanço e aumento da alavancagem da empresa.
No mais recente deles, divulgado há um mês, a companhia reportou queda na receita operacional líquida de 10% no período de julho a setembro, ante igual período de 2023, para R$ 488 milhões, enquanto o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) recuou 13% na mesma base de comparação, para R$ 170 milhões.
Os volumes transportados e captados pela empresa atingiram 4,334 milhões de toneladas, recuo de 18,9% ante o total de 5,346 milhões de toneladas no mesmo trimestre de 2023.
Já a relação dívida líquida/EBITDA aumentou para 6,1 vezes, ante 5,4 vezes no trimestre anterior.
A Hidrovias também atravessou, em 2024, um processo de reacomodação societária, com a Ultrapar tornando-se a maior acionista da companhia. O grupo controlador da Ultragaz e Ipiranga vinha montando silenciosamente uma posição na empresa desde o ano passado.
No início deste ano, já tinha uma participação de cerca de 10% no negócio. Desde então, fez novas aquisições junto a investidores como o Patria e o Temasek, fundo soberano de Singapura, e, em maio, sua fatia atingiu 35%
A compra de mais porcentagem foi possível após os acionistas da empresa excluírem a chamada poison pill, mecanismo que impedia qualquer acionista de ultrapassar uma participação alta na empresa sem fazer uma oferta pública para todos os demais sócios da companhia.
No segundo semestre, a Ultrapar liderou um aumento de capital, em que os acionistas concordaram em injetar R$ 1,5 bilhão na Hidrovias.