É muito comum, em momentos mais turbulentos, que grandes corporações com atuação em segmentos diversos escolham se concentrar nas atividades mais relevantes para os seus resultados.

A multinacional norte-americana de máquinas e tecnologias agrícolas, AGCO, resolveu pegar esse caminho. A companhia anunciou a venda de sua unidade Grain & Protein, que atua em armazenagem de grãos e galpões para abrigar aves e ovos.

A AGCO fechou a venda deste segmento para a gestora American Industrial Partners (AIP), especializada em ativos industriais, por US$ 700 milhões, valor que será pago em dinheiro.

Em comunicado, a companhia afirma que o movimento faz parte de uma mudança estratégica.

“Vender essa unidade nos permite aumentar o foco no portfólio de máquinas e produtos voltados para agricultura de precisão, ao encontro da meta de longo prazo de tornar a AGCO uma empresa de crescimento, margens e geração de caixa fortes”, afirma Eric Hansotia, CEO da AGCO.

O executivo acredita que a AIP, por ter muita experiência com esse tipo de ativo, vai destravar o potencial de crescimento da unidade. “Acreditamos que a operação vai fortalecer a marca e a posição de liderança da Grain & Protein em equipamentos para grãos, sementes e produtores de carnes”, afirma Hansotia.

A AIP tem em sua base grandes fundos de pensão e investidores institucionais, e por meio de fundos de private equity, aporta recursos em indústrias com potencial de crescimento principalmente no Estados Unidos e no Canadá, tendo também ativos em outros países desenvolvidos.

A gestora tem uma carteira de US$ 16 bilhões em investimentos, e atualmente tem em seu portfólio diversas companhias que atuam nos segmentos de bens de capital, aeroespacial e energia, entre outros.

No Brasil, a AGCO atua em armazenagem via GSI, depois que comprou a holding global por US$ 940 milhões em 2011. A companhia adquirida atua no Brasil desde 2001 e possui 70 representantes em todas as regiões do País, com duas unidades de produção nos municípios gaúchos de Marau e Passo Fundo.

O comunicado global da AGCO informa que o negócio abrange as marcas  GSI, Automated Production, Cumberland, Cimbria e Tecno.

O texto não menciona outras marcas que aparecem no portfolio da GSI Brasil, como C-Lines, para aves, e Agromarau, para grãos.

A AGCO resolveu deixar de fora do negócio as operações chinesas, que continuam com a companhia.

O AgFeed procurou os representante da AGCO no Brasil para avaliar a abrangência da mudança no mercado nacional, mas até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.

Fontes do setor garantem que a GSI é uma das maiores do setor de armazenagem no mercado brasileiro, concorrendo com gigantes como a Kepler Weber.

Em 2011, quando adquiriu a GSI, executivos da AGCO disseram que a expectativa era aumentar o faturamento da empresa no Brasil, que na época era calculado em 9% de um total de US$ 700 milhões.

Sete anos depois, a AGCO chegou a confirmar a intenção de comprar 65% ou até a totalidade das ações da Kepler Weber, mas o negócio acabou não se concretizando.

Os efeitos financeiros da venda serão incluídos nos resultados do segundo trimestre de 2024 da AGCO, e a companhia espera que a venda gere uma perda de resultados para a empresa entre US$ 450 milhões e US$ 475 milhões.

No final de junho, a AGCO anunciou que vai cortar até 6% de toda sua força de trabalho global nos próximos meses, um reflexo das dificuldades financeiras pelas quais a empresa passa no momento.