O Grupo Santa Fé encerrou um longo processo de renegociação de dívidas e fechou um plano de recuperação extrajudicial com credores capaz de prorrogar, por 10 anos, um passivo estimado em R$ 191,2 milhões.

Comandado pelo empresário Pedro Merola, o tradicional conglomerado agropecuário goiano com operações em pecuária e produção de sementes, terá 18 meses de carência para iniciar o pagamento.

“Após esse período, serão pagos apenas os juros, e, posteriormente, inicia-se a amortização do principal, em linha com a geração de caixa projetada”, informou o Grupo Santa Fé em comunicado divulgado nesta quinta-feira, 26 de junho.

O Grupo Santa Fé citou a participação e o relacionamento com o Banco do Brasil, maior credor da companhia, como “fator decisivo para o êxito da negociação”. Do total renegociado, a instituição financeira tem R$ 116,9 milhões em crédito e responde, sozinha, por quase 60% de toda a dívida.

A proposta foi aprovada por 65,71% dos credores da Classe II (garantia real) e 56,69% da Classe III (quirografários).

O acordo celebrado prevê, ainda, um mecanismo de ganho compartilhado, pelo qual, caso o Grupo Santa Fé obtenha resultados acima do projetado, 50% do excedente gerado será utilizado, anualmente, para antecipar a quitação do saldo devedor.

A EXM Partners atuou na assessoria financeira e o escritório Murillo Lobo & Advogados Associados na condução jurídica da proposta.

A decisão da Justiça Goiana de acolher o pedido para a recuperação extrajudicial foi tomada no início do mês, após acordo entre o Grupo Santa Fé e credores, e comunicada agora pela companhia agropecuária.

Em acordo prévio, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos pelo grupo terão prazo de amortização alongado em quatro anos. Foram renegociados R$ 80 milhões em CRAs emitidos em 2022.

“Destaca-se, ainda, o papel relevante do CRA estruturado, que de forma antecipada aprovou o alongamento de seu prazo para mais quatro anos, reforçando significativamente a sustentabilidade financeira do grupo e contribuindo para a recomposição do fluxo de caixa”, informou.

O AgFeed apurou com fontes que participaram da negociação que 15% do endividamento renegociado tem prazo de vencimento em até cinco anos e os 85% restantes entre cinco e dez anos.

Isso seria fundamental para capitalização da companhia se considerado também período de carência para o início do pagamento do passivo da recuperação extrajudicial.

Crise

Na década passada, Pedro Merola transformou o grupo familiar em um dos mais qualificados da pecuária nacional, com um confinamento para cerca de 60 mil cabeças em Santa Helena de Goiás (GO). Em 2014, ampliou os negócios até o consumidor final, com a criação do embrião de uma rede para comercialização de carnes nobres, a Feed.

Nos últimos anos, entretanto, os investimentos feitos cobraram seu preço, sobretudo a partir da elevação dos juros. E a capacidade de honrar os compromissos o levaram à mesa de negociação com os credores e com a Justiça.

Foram seis meses de negociação judicial intensa, após dois anos de crise, venda de ativos com operações agrícolas de alta tecnologia e de parte de um rebanho de qualidade para equalizar e reduzir o endividamento total de R$ 435 milhões para R$ 279 milhões, valor total da causa.

No final de 2024, após reduzir de tamanho - e quando achou que teria fôlego para tomar novos créditos e acelerar as operações sem recorrer à Justiça -, o Grupo Santa Fé teve as portas fechadas por instituições financeiras.

Com recuperações judiciais pipocando em empresas e grupos produtores ligados ao agronegócio, bancos justificaram que, nesse cenário, o risco era muito grande para novos aportes.

Para piorar, a tentativa de recuperação extrajudicial foi barrada por decisão judicial, em primeira instância, em dezembro passado.

À época, Thalene Brandão Flauzino de Oliveira, juíza substituta da 1ª Vara Cível de Santa Helena de Goiás (GO), indeferiu a demanda da agropecuária e determinou que fosse feito um pedido de recuperação judicial.

O Grupo Santa Fé conseguiu, em segunda instância, ganhar tempo com decisão favorável no Tribunal de Justiça de Goiás, e seguir na tentativa de renegociação da dívida e evitar a recuperação judicial.

Na decisão final, o juiz Ronny Andre Wachtel, titular da 1ª Vara Cível de Santa Helena de Goiás (GO), aceitou os argumentos e os acordos com os credores feitos pelo Grupo Santa Fé e converteu as determinações anteriores pela recuperação judicial em recuperação extrajudicial.

Para o grupo, a decisão “não apenas representa uma solução mais célere, eficiente e menos burocrática, como também preserva a capacidade produtiva do grupo, que segue operando normalmente, com todos os empregos e operações mantidos e sua governança fortalecida para os próximos anos”, concluiu a companhia em comunicado.

Resumo

  • Grupo Santa Fé fechou acordo com credores para recuperação extrajudicial de R$ 191,2 milhões em dívidas. Banco do Brasil, maior credor, teve papel decisivo nas negociações
  • A proposta foi aprovada por 65,71% dos credores da Classe II (garantia real) e 56,69% da Classe III (quirografários)
  • CRAs emitidos pelo grupo terão prazo de amortização alongado em quatro anos. Foram renegociados R$ 80 milhões em CRAs emitidos em 2022