É possível dizer que todo o Rio Grande do Sul, e em alguns aspectos, todo o Brasil sente os efeitos das enchentes ocorridas no estado nos últimos dias. Os gaúchos ainda sofrem com os altos níveis de rios e lagos.

Algumas regiões do Estado, entretanto, sentem menos esses efeitos. É o caso do muncípio de Vacaria, no nordeste do estado, próximo da divisa com Santa Catarina. Ali fica a sede da RAR, companhia fundada por Raul Anselmo Randon, um dos expoentes da indústria do Rio Grande do Sul, que construiu um império familiar a partir de uma empresa de implementos rodoviários.

A RAR é o braço agroindustrial dos negócios, conhecida por ser uma grande produtora de maçãs e de queijos, além de produzir vinhos e azeites. Em entrevista ao AgFeed, o CEO da RAR, Angelo Sartor, conta, aliviado, que a empresa passou praticamente ilesa pela tragédia que assolou os gaúchos.

No grupo, os principais impactos das chuvas que se prolongam no Sul do País, foram sentidos nas lavouras de soja e milho. “Temos ainda 40% dos grãos para colher, principalmente soja”, diz. “Tivemos um plantio mais tardio nesta safra. Normalmente finalizamos a colheita em abril. No entanto, as lavouras não foram inundadas. O problema é que a chuva impede a colheita”.

Sartor afirma que o grande problema não está na perda de produção, mas sim na qualidade dos grãos, já que a prorrogação da colheita e o excesso de umidade podem piorar as características da soja.

“Estamos esperando que as chuvas deem uma trégua para podermos voltar a colher no final de semana. É necessário esperar 24 horas após o fim da chuva para que a lavoura fique mais seca”, explica.

Nos laticínios, o grande problema enfrentado pela RAR está no transporte de produtos para serem comercializados em outras regiões do Rio Grande do Sul, especialmente para Porto Alegre. Isso porque quase todo o leite usado na produção é de produção própria, em uma fazenda que produz cerca de 43 mil litros ao dia, com 1,4 mil vacas em lactação.

“Conseguimos chegar em alguns lugares da região metropolitana, mas a logística está bem prejudicada. O Rio Grande do Sul representa 12% das nossas vendas. Para o restante do país, o fluxo está normal”, diz Sartor.

Na produção de maçãs, também houve impacto do clima, mas não das chuvas mais recentes, já que quase toda a colheita havia sido finalizada antes de maio. “Temos no campo cerca de mil toneladas para colher”, diz o CEO da RAR.

O executivo explica que as horas de temperaturas mais frias no ano passado acabaram impactando a produtividade de maçãs, e a empresa, que vinha com uma produção anual aproximada de 60 mil toneladas, esse ano vai colher 50 mil toneladas.

Sartor afirma que o problema da temperatura levou a uma revisão para baixo de toda a safra de maçã do País, muito concentrada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

“Inicialmente, a expectativa era de 1 milhão de toneladas. No entanto, as últimas projeções são de que a produção vai ficar entre 800 mil e 900 mil toneladas”.

No caso da RAR, a empresa revisou os planos de dobrar as exportações, revelados em fevereiro pelo presidente Sergio Barbosa, entrevistado pelo AgFeed em fevereiro.

Naquela oportunidade, Barbosa falava em exportar 12 mil toneladas, ante 6 mil toneladas do ano passado. Agora, segundo Sartor, a RAR deve enviar para o exterior apenas cerca de 3 mil toneladas. “Vamos priorizar o mercado local, mas não queremos perder os clientes fora do Brasil, para depois de normalizar os volumes, voltar a impulsionar as exportações”.

Planta de seleção e embalagem de maçãs

Faturamento em alta e meta bilionária

Mesmo com os problemas enfrentados no Rio Grande do Sul, Sartor revela que a RAR projeta um crescimento de quase 13% no faturamento em 2024, na comparação com o ano passado.

“Fechamos 2023 com receita líquida de R$ 466 milhões e a expectativa para 2024 é chegar a R$ 526 milhões”, conta o executivo.

Nesta semana, a RAR completou 45 anos de existência. E a companhia traçou para a próxima década chegar ao faturamento de R$ 1 bilhão.

Sartor conta que as iniciativas para atingir esse objetivo já começaram pela expansão da área plantada de maçãs. “Adicionamos mais 200 hectares, com um cronograma de plantio de 50 hectares por ano”, conta. Assim, a RAR chega a uma área total de 1,3 mil hectares.

Até 2033, o objetivo da RAR é dobrar o patamar atual em condições normais, para 120 mil toneladas de maçãs, atingindo R$ 400 milhões em faturamento somente com esta atividade.

Na RAR Alimentos - que inclui laticínios, vinhos e azeite -, especialmente em queijos o objetivo é dobrar o volume de produtos como parmesão e grana padano importados da Itália, que hoje está em 160 mil toneladas. “Em charcutaria, a meta é triplicar o volume nos próximos anos”, afirma Sartor.

Em vinhos, o CEO afirma que a empresa já tem condições de produzir mais na área atual de 30 hectares, que fornece uvas para a produtora Miolo. “Hoje, nós vendemos uma parte das uvas que não são direcionadas para o vinho”.

Outra aposta é na abertura de lojas no modelo de franquias. Hoje, a RAR tem uma loja própria e quatro franquias, sendo três nas capitais da região Sul e uma em São José dos Campos, em São Paulo. “Vamos continuar no modelo de franquias nesta expansão”.

Assim, a RAR Alimentos deve chegar a R$ 450 milhões de faturamento dentro do R$ 1 bilhão traçado como objetivo pelo grupo. Os outros R$ 150 milhões viriam da venda de commodities agrícolas, como soja, milho e trigo.

Outro ponto importante destacado por Sartor é o que ele classifica como governança, que consiste em boas práticas de manutenção, principalmente dos pomares de maçã e do rebanho de leite.

“Para este ano, nós temos um orçamento total para investimentos de R$ 59 milhões em todas as áreas. A cultura de maçã e a produção de leite exigem, cada uma, R$ 10 milhões só em manutenção”, explica o CEO da RAR.

No caso da maçã, as árvores têm vida útil que varia entre 20 e 25 anos e o processo de renovação, entre o corte e a colheita das novas plantas, leva cerca de cinco anos.

No caso do gado de leite, também há uma renovação média de 30% do rebanho a cada ano. “Muitos produtores acabam tendo perdas ou precisam investir mais por não seguirem esses padrões. Esses investimentos garantem que a RAR sinta menos os impactos de eventos extraordinários”, completa Sartor.