A queda nos preços da soja e do milho que vem sendo registrada em 2023 não assusta dois filhos de produtores rurais que montaram uma trading de grãos, a Gnova Grains, com sede em Londrina, no Paraná.
A Gnova Grains foi fundada no fim do ano passado, mas começou suas operações em março deste ano, conta um dos fundadores e diretor da empresa, Ronan Giuliangeli. Para 2023, a projeção era chegar perto dos R$ 400 milhões em faturamento, movimentando cerca de 170 mil toneladas de grãos.
“Com a queda nos preços das commodities agrícolas, revisamos este número, devemos ficar em R$350 milhões. Mas teremos um volume um pouco maior que o esperado, compensando parcialmente este cenário”, diz Giuliangeli.
A Gnova já fechou contrato, nestes primeiros meses de operação, para embarcar dois navios, um com soja e outro com milho, cada um levando 60 mil toneladas para o exterior. “Foram R$ 200 milhões em faturamento nestas operações”, conta o diretor.
O faturamento da Gnova deve se tornar bilionário a partir de 2027, chegando a R$ 1,3 bilhão, com o embarque de 540 mil toneladas de grãos em 2028, segundo as projeções da empresa.
“Nós mantemos esta previsão porque a fizemos com um cenário-base mais próximo da realidade histórica dos preços dos grãos”, explica o executivo.
Giuliangeli explica que um dos trunfos da Gnova é ter uma estrutura bastante enxuta. Com sede em Londrina, no norte do Paraná, a empresa tem atualmente uma equipe de 10 funcionários.
“Nós temos seis que ficam na sede, na parte administrativa, e o restante da equipe fica no campo, visitando produtores, principalmente”.
Além do Paraná, a Gnova tem atuação em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
“Nós terceirizamos quase tudo, desde marketing até a parte tributária e jurídica. Isso traz um melhor controle de custos. Com uma margem tão apertada como a praticada neste ramo de tradings, isso faz muita diferença”. Outro ponto destacado pelo fundador da Gnova é a pouca necessidade de financiamento da startup.
“Nós conseguimos casar bem as operações de compra junto aos produtores com a venda para os clientes. Acabamos tendo poucas despesas financeiras, no momento em que os juros estão muito altos”.
Sobre financiamentos, Giuliangeli afirma que a Gnova tem parceria com grandes bancos, como Itaú e Banco do Brasil, para conseguir crédito aos produtores.
“Eu e meu sócio (Fernando Oliveira) entramos como avalistas, na pessoa física mesmo. E só repassamos os custos da operação. Não temos lucro com estes financiamentos”.
Giuliangeli diz que oferece esta alternativa como forma de manter uma boa relação com os produtores rurais. “Nós só pegamos uma garantia com o produtor. Às vezes uma CPR, ou penhora de grãos”.
O fundador da Gnova acredita que o maior desafio da empresa, nestes próximos anos, estará relacionado com a logística.
“Acho que estamos caminhando para uma situação de apagão nos portos, com a produção crescendo muito. A nossa saída é não concentrar a operação em um único porto, sempre procurar a melhor opção. Dá muito trabalho, mas é a melhor saída no momento”, diz Giuliangeli.
Ele afirma que com o esperado aumento do volume de operações, a Gnova terá que aumentar sua equipe. “Só vamos fazer isso com muita parcimônia, de forma homeopática. Na minha experiência, já vi algumas empresas inchando a estrutura, depois fazendo demissões em massa”.
As margens apertadas da atividade de originação levam os fundadores da Gnova a ter esta postura mais cautelosa. “De modo geral, essa nossa atividade tem margens entre 1,5% e 2%”, conta.
A Gnova já recebeu potenciais investidores para reuniões, inclusive um banco, segundo Giuliangeli.
“Estamos muito no começo ainda. Em 2024, começaremos a ter balanço auditado. Acredito que precisamos maturar a empresa, para depois pensar em um aporte. Isso deve levar entre cinco e 10 anos”, afirma.