A LongPing, gigante no mercado de híbridos de milho e sorgo pertencente ao conglomerado chinês Citic Group, busca estratégias para seguir crescendo no mercado do Brasil, apesar das incertezas da safra 2024/2025.
A empresa chegou no País há sete anos, após ter comprado, por US$ 1,1 bilhão, a Dow Sementes.
Nos últimos dois anos, a companhia que é uma das grandes empresas do setor de híbridos de milho, ao lado de Bayer, Corteva e Syngenta, investiu cerca de R$ 500 milhões no mercado brasileiro para ampliar em cinco vezes sua capacidade de produção.
O plano envolvia a ampliação de unidades que já existiam em Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Paraná, a inauguração de uma nova planta de beneficiamento de sementes em Primavera do Leste (MT) e aportes em aprimoramento genético e estudo de novas sementes. A meta da companhia é chegar à liderança de seu mercado nos próximos anos.
Embalada pela expansão dos negócios da companhia por aqui, a Forseed, uma das marcas da LongPing – dona também de Morgan e TEVO Sementes – vem ampliando seu leque de produtos
A empresa diz que vem avançando em participação no mercado brasileiro, mas não revela dados de faturamento no País.
Em entrevista ao AgFeed, o gerente nacional de marketing da Forseed, Élcio Marques, disse que entre 2023 e 2024, por exemplo, a marca subiu três posições no mercado nacional de híbridos, passando do sétimo para o quarto lugar, segundo a pesquisa FarmTrak Safrinha 2024, da consultoria agrícola Kynetec.
“A gente está numa das melhores fases da marca, seja em relação a produtos, seja em relação a ganhos de market share. A Forseed está com uma força de vendas muito grande e estamos muito animados”, afirmou.
O mercado de milho ainda traz incertezas para a temporada 2024/2025 em função do atraso do plantio da soja em diferentes regiões produtoras. O AgFeed mostrou esta semana que a Agrinvest Commodities, por exemplo, considera uma possível redução de área plantada em função de prejuízos na janela de plantio.
Para o executivo da Forseed, no entanto, nem mesmo o clima preocupa até o momento.
“Nas últimas semanas, as chuvas voltaram, o produtor do milho verão no Sul está conseguindo plantar, o produtor da safrinha (em alguns estados) está conseguindo realizar o plantio da soja para depois entrar com o milho no ano que vem”, afirmou.
Mesmo com o atraso do plantio da soja em estados do Centro-Oeste, o que deverá interferir no milho de segunda safra, Marques não perde o otimismo. Ele pontua que os estados mais ao Sul, região onde a Forseed tem maior presença, estão apresentando menos problemas nesse começo da safra.
“Paraná e Mato Grosso do Sul estão mais adiantados do que no ano passado, já o plantio no Mato Grosso e em Goiás pode atrasar. Mas ainda assim há boas perspectivas para a safrinha”, avalia.
Na safra 2024/2025, a Forseed vai lançar duas novas sementes híbridas de milho grão – FS695 e FS650 – que são tolerantes à mancha-de-bipolaris.
"No próximo plantio da safrinha, que ocorre em janeiro em todo o Brasil, o agricultor já vai poder realizar o plantio desses dois híbridos", adianta Marques.
A mancha-de-bipolaris é uma doença foliar do milho causada pelo fungo bipolaris maydis, que deixa as folhas com um aspecto de queimado e afeta a produtividade da cultura.
Essa doença tem se espalhado pelas lavouras nos últimos anos, segundo estudos produzidos pela equipe de pesquisa e desenvolvimento da companhia.
De 676 amostras recebidas pela equipe da companhia no ano passado para avaliação, 63% estavam contaminadas pela bipolaris maydis e outros 18% pela bipolaris zeicola.
"Há uma dificuldade de ação de alguns fungicidas para o controle dessa doença. Por isso, o melhoramento genético é uma das melhores opções para o agricultor: a planta, por ser tolerante, conesgue conviver com a doença, com menos produtividade", defende Marques, da Forseed.
A adaptação das tecnologias aos problemas do campo talvez seja o segredo da expansão do desempenho da marca no País, segundo Marques.
"Pensando em uma linha de tempo, inicialmente a gente trabalhou com sementes resistentes ao estresse híbrido, depois resistentes à CMV [Complexo de Molicutes e Viroses] e por último, à mancha-de-bipolaris. Isso vem chamando a atenção do agricultor”, diz.
Além dos híbridos resistentes à mancha-de-bipolaris, a Forssed também vai lançar, em janeiro, um híbrido de milho silagem, que melhora o rendimento do leite e da carne.
Desde 2018, a Forseed já lançou no mercado mais de 20 híbridos, contando milho grão e silagem. A diversidade do portfólio é proposital, de acordo com o diretor de marketing da marca.
"A gente entende a necessidade do agricultor. Seja para o mercado de milho verão, milho safrinha, milho silagem, temos um híbrido específico para cada produtor", afirma.
A marca diz se apoiar também no que chama de “robustez genética da LongPing”. Presente em sete outros países além do Brasil, possui 17 bancos de germoplasmas, que reúne uma diversidade genética de milhares de linhagens de milho.
Centros de pesquisa
Dos 14 centros de pesquisa e desenvolvimento que a multinacional possui ao redor do mundo, nove estão no Brasil.
No ano passado, a LongPing aportou R$ 33 milhões na área de pesquisa e desenvolvimento de novos híbridos e aprimoramento genético.
Boa parte desse valor – R$ 23 milhões – foi destinado para a modernização do centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa em Rolândia, no Paraná, a 400 quilômetros de Curitiba, que teve as obras concluídas este ano e trabalha no desenvolvimento de novos híbridos de milho.
Já em 2024 não foram anunciados novos investimentos em unidades. Uma das estações de pesquisa que haviam sido inauguradas no ano passado deixou de operar.
Os trabalhos de pesquisa em Goiás foram concentrados em Rio Verde. No ano passado havia um centro na cidade de Formosa.
Tudo indica que os esforços da empresa seguirão firmes no Paraná, segundo maior produtor de milho safrinha do Brasil. A unidade paranaense da LongPing já havia recebido um centro de distribuição, inaugurado em 2023.
O Paraná é o mercado onde a Forseed tem mais força em todo o Brasil, com presença nas cooperativas de produção do Estado, e a região Sul como um todo é relevante para os negócios da marca, segundo Marques.
"Desde a entrada da Longping no mercado brasileiro, a gente já entrou na operação com alguns bancos genéticos e recentemente adquirimos outros novos bancos genéticos", afirma Marques.
São Paulo, estado-sede da LongPing, cuja base administrativa está localizada em Cravinhos, é outro mercado que tem crescido – no ciclo 2023/24, houve aumento de quase 3% de market share no Estado, de acordo com a Forseed – e deve continuar em ritmo de expansão, segundo Marques.
"Com esses novos lançamentos, a perspectiva é que a gente consiga um crescimento maior em São Paulo, refletindo um pouco o Paraná, que tem algumas regiões de cultivo parecidas", afirma ele.
A Forseed também tem presença relevante em estados como Tocantins, Maranhão e MInas Gerais.
Novas fronteiras
De olho na demanda crescente pelo sorgo, a companhia lançou dois híbridos da semente no fim de 2022, uma sob a marca Forseed e outra com o rótulo Morgan.
Com as sementes, a companhia promete ao produtor sanidade foliar, alta tolerância à antracnose, uma das principais doenças que afetam a cultura, e boa capacidade de polinização, contribuindo para a diminuição da ocorrência da doença açúcarada do sorgo, que afeta a produtividade dos grãos.
A ideia é lançar mais uma outra semente híbrida de sorgo mais à frente. “A gente está muito entusiasmado com o mercado de sorgo, que vem crescendo em diversas regiões do país, e também ultimamente pelas usinas de etanol que podem processar o sorgo. A tendência é que passemos a participar mais do mercado de sorgo”, afirma Marques.
Além do sorgo, a soja também é uma outra fronteira a ser desbravada no futuro pela LongPing. Há dois anos, a companhia informou que, na safra 2025/2026, iria disponibilizar no mercado as suas primeiras sementes de soja.
Neste ano, a companhia fez um movimento mais evidente nesse sentido, ao adquirir, em fevereiro, 90% de uma unidade de beneficiamento de sementes de soja pertencente à Cereal Ouro, de Rio Verde (GO).
Há mais tempo, em 2021, a LongPing já tinha firmado uma parceria com a Universidade Agrícola do Sul da China (SCAU) para pesquisar variedades de soja.