A multinacional brasileira Amaggi pretende avançar na diversificação de seus negócios e mira no crescimento do mercado de biológicos com a construção de uma fábrica em Sapezal (MT), disse o diretor geral da Agropecuária Maggi, Pedro Valente, com exclusividade ao AgFeed.

A unidade já está em construção e o início da produção está previsto “para o plantio da próxima safra de algodão”, afirmou Valente, o que deve ocorrer em janeiro do ano que vem. O executivo não revela qual será a capacidade total de produção da biofábrica, mas garante que a linha inclui biológicos para todas as culturas que o grupo produz atualmente.

O investimento foi de US$ 15 milhões, um valor baixo se comparado ao faturamento da área agrícola da Amaggi, hoje estimado em cerca de US$ 800 milhões. Se consideradas todas as demais operações como trading, logística e energia, o faturamento total do grupo chega a US$ 10,2 bilhões.

"Na primeira etapa da biofábrica queremos atender nossa demanda interna”, afirma Pedro Valente. “Atualmente os biológicos representam 9% do total de defensivos que utilizamos”.

Segundo ele, a intenção é seguir aumentando o consumo gradativamente e, nos próximos 5 anos, chegar ao que acredita que poderá ocorrer com o mercado como um todo: ter manejo combinando químicos e as tecnologias de microrganismos vivos em até 40% do total.

O executivo admite que na segunda etapa o projeto prevê passar a fornecer também os biológicos para os clientes da Amaggi, produtores rurais. "Mas seremos multiplicadores e não fabricantes de novos produtos”, ressalta.

Os atuais integrantes do Ministério da Agricultura vêm sinalizando que o próximo Plano Safra deverá oferecer juros mais baixos ou limites de financiamentos maiores para produtores que adotarem práticas sustentáveis, entre elas, uma gradual substituição de químicos por biológicos.

"A nossa decisão de investir neste tipo de manejo não tem relação com a política ou governo, é algo que já estamos apostando há 7 anos e totalmente relacionado com a sustentabilidade da produção", destacou Valente.

O investimento em biológicos é mais uma iniciativa da Amaggi com foco na diversificação dos negócios. Nos últimos anos o grupo construiu duas fábricas misturadoras de fertilizantes, uma em Mato Grosso e outra em Rondônia.

Recentemente o grupo inaugurou também uma usina de biodiesel em Lucas do Rio Verde (MT), com capacidade de produção autorizada para 1 milhão de litros por dia.

Novas investidas também vêm sendo feitas nos setores de logística, por meio de parcerias com outras tradings, e no setor financeiro, com o banco AL5 Bank, criado há cerca de cinco anos.

O diretor geral da Amaggi disse ao AgFeed que a empresa segue avaliando a possibilidade de investir no etanol de milho, segmento que não para de crescer em Mato Grosso. "Mas ainda não há decisão tomada neste sentido", afirmou.

Sem medo do futuro

Sobre o anúncio recente da fusão entre Bunge e Viterra, que deve resultar na segunda maior trading de alimentos e commodities agrícolas do mundo, concorrente da Amaggi, Valente afirmou que "ninguém tem esta capacidade de dominar o mercado".

Na opinião do executivo "é um grupo que já nasce grande", mas o setor é muito pulverizado, e até mesmo gigantes já tiveram problemas no passado, portanto, não haverá nenhuma mudança de rota para a trading brasileira, a partir desta fusão.

A expectativa no setor também é de uma demora de até dois anos para que o processo de união entre as empresas se consolide e realmente sejam viabilizadas as sinergias.

Na conversa com o AgFeed – realizada durante o evento OneAgro, promovido pela Syngenta – Pedro Valente garantiu ainda que a empresa está preparada para os desafios que estão por vir com a nova legislação da Uniao Europeia, proibindo a compra de commodities de áreas de desmatamento.

"Hoje já temos 100% das áreas próprias rastreadas e mais de 99% daquilo que compramos também com rastreabilidade", informou.

Ele acredita, no entanto, que alguns setores do agro estejam bastante preocupados e que alguma flexibilização ainda venha a ocorrer já que muitas das exigências seguem sendo subjetivas.

Em relação a um possível IPO, oferta de ações na bolsa brasileira, a Amaggi segue descartando esta possibilidade, por enquanto.

"Temos um plano estratégico até 2030, com bases sólidas e não sonhadoras. Vamos seguir financiando nosso plano de crescimento com a geração própria de caixa”, afirmou o diretor.

Perfil conservador

A queda recente nos preços das commodities também não preocupa a empresa, que alega ter na própria diversificação do negócio um dos caminhos para amenizar eventuais perdas em segmentos específicos.

"Nós recomendamos que o agricultor trabalhe o máximo possível coberto, que tenha uma política mais conservadora com sua produção, procurando vender antecipadamente um volume suficiente para pagar todos os seus compromissos", afirmou Valente.

O executivo criticou a postura de muitos produtores que preferem “ficar tentando adivinhar a cotação futura e do dólar”, ao invés de ter mais foco na operação e na gestão do negócio, o que acaba deixando muitos em situação desfavorável em momentos como o atual, em que a supersafra de soja e milho vem pesando sobre os preços.

Valente acredita que o ritmo lento da comercialização da safra ainda pode gerar gargalos logísticos quando o produtor resolver vender e não houver disponibilidade de caminhões e ferrovias.

A expectativa é de que se mantenha uma pressão de baixa nos preços, a não ser que problemas climáticos venham a ocorrer na safra norte-americana.