No começo de outubro, junto com a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados), a empresa espanhola How2Go levou um grupo de 50 produtores exportadores de frutas brasileiras para o evento Fruit Attraction 2023, em Madri.
“O Brasil exporta e importa frutas, por uma questão de sazonalidade e geografia. Vemos o setor como interessante pro comércio global”, explica Marcelo Vitali, diretor da companhia espanhola no Brasil. “Além disso, segundo a Abrafrutas, somos o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas exportamos no máximo 3% disso”.
Com essa viagem, a expectativa é que até US$ 200 milhões sejam transacionados no próximo ano entre as parcerias criadas por lá.
A ação é um exemplo de como, prestes a completar 10 anos de vida, a How2Go, empresa focada na internacionalização de empresas, opera. O grupo desembarcou no Brasil no começo deste ano. Ao todo, são 13 escritórios pelo mundo.
Vitali é sócio e diretor de negócios no Brasil da companhia, que viu uma grande oportunidade de levar ainda mais o agro brasileiro para fora do país e também de trazer players para cá, mas atuando à margem do mercado mais “tradicional”como os grãos ou ativos da pecuária.
A aposta de Vitali junto com o escritório brasileiro da How2Go está em outras frentes. Vendo o sucesso da incursão europeia, Marcelo Vitali disse ao AgFeed que a How2Go irá organizar em 2024 uma feira parecida com a visitada em Madri, que acontecerá na São Paulo Expo.
Com uma estrutura ainda menor que a espanhola, onde se estima que 100 mil profissionais transitam nos dias de feira, a ideia é reunir a cadeia de produção de frutas e hortaliças da América Latina.
“Uma das características da feira é reunir supermercadistas, atacadistas e compradores diretos. Queremos trazer parte dos players internacionais para a feira, para conhecer o Brasil”, diz.
No outro lado do negócio, de importação, a companhia também está em processo para trazer os produtos da Keta Foods para o país. A empresa é especializada em culinária japonesa e também conhecida por importar a maionese japonesa Kewpie, dita como uma das mais famosas do mundo.
A Keta Foods fatura cerca de 100 milhões de euros em toda a Europa por ano. Só em Portugal o faturamento é de cerca de 10 milhões de euros. Segundo Vitali, há uma grande demanda para esse tipo de produto, e pouca oferta, com itens difíceis de encontrar.
“Queremos entrar no mercado de nicho da culinária japonesa. A empresa vende para atacadistas e restaurantes, e a ideia é ter alguns representantes e distribuidores com estrutura de armazenagem”, diz.
Segundo ele, o mercado japonês é mais seletivo nas vendas. “Existe uma questão cultural para conquistar um fornecedor japonês”. No caso da Keta Foods, a empresa já está presente em Portugal e na Espanha e a How2Go irá encurtar o caminho para escoar os produtos pra cá.
“Vemos players com bons produtos, mas que, por gargalos logísticos, às vezes esperam meses para receber novas remessas. Queremos colocar esses produtos sempre disponíveis por aqui”, explica.
No momento, a empresa atua junto com a Keta Foods para obter licenças e resolver burocracias. Os primeiros embarques devem chegar no início do ano que vem.
Dentre essas idas e vindas comerciais, a expectativa de Vitali é que a operação brasileira da How2Go intermedie diretamente US$ 100 milhões em negócios nos próximos dois anos.
“Vamos ajudar os clientes a vender essa quantia. Imagino que o agronegócio seja responsável por mais da metade desse montante”, pontua o diretor.
Contando todos os escritórios, a empresa possui 45 funcionários. No Brasil são cinco, com mais uma pessoa chegando até dezembro. Sem entrar em números, Marcelo Vitali diz que a operação brasileira já é a maior da América Latina da How2Go.
“A pauta da internacionalização é a pauta do momento e o governo federal tem aberto esse caminho com acordos entre Mercosul e União Europeia a serem assinados”, acrescenta Vitali. “O MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio) mostra que só 1% das empresas brasileiras exportam, o que é ridículo perto do potencial que o país tem”, acrescenta Vitali.
Para o futuro, o diretor vê um grande mercado potencial para exportar, além de produtos, tecnologia brasileira, em especial as agtechs.
Dentre os atuais clientes brasileiros da empresa, estão entidades que atuam de forma direta, ou indireta, com agtechs, como o parque tecnológico de São José dos Campos e o Cluster de Inovação Industrial para o Agronegócio de Petrolina, no Rio Grande do Norte.
Em São José dos Campos, ele vê a presença de startups que buscam soluções no exterior, e a How2Go atua ajudando a encontrar parceiros.
“O mercado de agtechs é incipiente. Como existe um grande mercado interno, isso acaba inibindo essas empresas de pensar no mercado externo”, diz.
Ele cita o exemplo da Agrotools como algo a ser seguido. A empresa brasileira foi uma das primeiras desse universo de tecnologia no agro, e conquistou clientes como o McDonalds, onde presta um serviço de rastreamento da origem das carnes.
“Sempre fomos vistos como um país que exporta commodities, mas as agtechs possuem um potencial para mais. Para mim está claro”, diz.