André Esteves, sócio-fundador e controlador do BTG Pactual, tem olhar atento para grandes negócios. É com esse olhar que, nos últimos anos, ele tem buscado terras para comprar em diversos países.

“Hoje o banco faz a gestão de cerca de US$ 6 bilhões em florestas globalmente”, afirmou durante a Converge Capital Conference, evento que faz parte da Brazil Climate Investment Week, realizada em São Paulo esta semana.

Foi uma apresentação rápida, mas que revelou a visão do financista para a enorme “fazenda global” do BTG, que gera bilhões de dólares com a exploração de ativos florestais obtidos após a recuperação dessas áreas.

Segundo afirmou Esteves, o BTG é atualmente “um dos maiores gestores de timber (ativos de madeira) e florestas do mundo”. Dentro dessa estratégia, ele destacou o fundo TRF (The Restoration Fund), um projeto de US$ 1 bilhão, segundo Esteves.

A estratégia do banco no segmento envolve a compra terras degradadas, em geral fazendas de gado de baixa produtividade localizadas entre o sul da Amazônia e o norte do Cerrado, planta um mix de florestas originais e comerciais, engaja as comunidades locais e vende os produtos originários da madeira comercial. De quebra, ainda vende os créditos de carbono do projeto.

O banqueiro vê com grande potencial esse veículo, que segundo ele, traz um retorno para os investidores “bons retornos em dólar”. “Esse é o primeiro bilhão do fundo. A capacidade de uma iniciativa dessa, que de fato restaura a floresta original é enorme. É um projeto que tem uma escala infinita”, conta o sócio do BTG.

Uma grandes big tech americana é investidora do fundo, bem como o governo dos Estados Unidos.

Quando se fala de BTG e de ativos florestais, tudo está conectado ao Timberland Investment Group (TIG), empresa com sede nos EUA que integra a área de asset management do banco.

Segundo a companhia, em seu site na internet, são US$ 6,9 bilhões em ativos e compromissos e quase 1,2 milhões de hectares sob gestão nos EUA e na América Latina.

A venda da madeira originada nessas áreas é destinada para diferentes indústrias, como papel e celulose, bioenergia, movelaria e construção civil. Além da pegada ESG, o banco vende o negócio como um investimento alternativo para seus clientes diversificarem a carteira.

O TIG tem como diretor geral Gerrity Lansing, executivo que está na posição desde 2020, mas atua na gestora há mais de 10 anos. Ele também é sócio do BTG Pactual.

O grupo que deu origem ao TIG foi criado em 1981 e foi um dos pioneiros no investimento em áreas florestais no mercado. Em 2013, o BTG adquiriu o negócio e o transformou em sua gestora de ativos florestais.

Vista como uma grande aposta por Esteves, o TIG tem se movimentado no mercado. No final de abril, informou que levantou US$ 1,24 bilhão para seu fundo BTF II, que investe em ativos florestais maduros em mercados estabelecidos no Chile, Uruguai e Brasil.

“Encerramos a captação para nosso fundo da estratégia principal de florestas comerciais na América Latina, que visa aproveitar os atributos únicos da região”, disse Gerrity Lansing, em um comunicado na ocasião. “O continente possui uma das indústrias florestais mais tecnologicamente avançadas e produtivas do mundo, e mercados domésticos fortes para produtos florestais", disse.

Antes disso, no final do ano passado, a Suzano anunciou que comprou 70 mil hectares de terras no Mato Grosso do Sul que pertenciam a fundos do BTG.

A empresa de celulose investiu R$ 1,83 bilhão e afirmou, na época, que a intenção era aumentar a autossuficiência de sua operação numa região que tem sinergias geográficas com sua estrutura atual. Dos 70 mil hectares, 50 mil são de áreas produtivas, e o restante são reservas ambientais.

Fora do TIG, o BTG ainda possui um Fiagro de terras agrícolas, o BRTA11, que é negociado em Bolsa. Com R$ 347 milhões em patrimônio líquido, o fundo possui três estratégias.

Além de comprar terrenos para produção de culturas tradicionais como soja, milho e algodão, também investe em áreas que cultivam frutas, vegetais e culturas permanentes como mirtilo e nozes. Por fim, também compra terras “em fase de transformação”, para revender no futuro.

São atualmente seis ativos que somam pouco mais de 10 mil hectares, sendo 6,8 mil hectares agricultáveis.