Enquanto tenta driblar tarifaço, C.Vale emite R$ 600 milhões em CRAs para comprar soja

Três anos depois de ter emitido um CRA de R$ 200 milhões, com vencimento previsto para 2027, a C.Vale, cooperativa de Palotina (PR), uma das maiores do Paraná, está repetindo a dose – enquanto tenta driblar os efeitos do “tarifaço” promovido pelo governo dos Estados Unidos, que afetam suas exportações de tilápia.

Desta vez, a cooperativa está emitido R$ 600 milhões em CRAs, com a possibilidade de chegar a até R$ 750 milhões, caso haja demanda adicional, segundo prospecto da emissão divulgado nesta terça-feira, dia 14 de outubro.

Os recursos captados serão destinados à aquisição de soja em grãos. A operação, feita em conjunto com a Eco Securitizadora, é lastreada em três CPR-Financeiras, todas emitidas pela própria cooperativa, cada uma no valor de R$ 250 milhões, o que torna a C.Vale devedora única da emissão.

A oferta é voltada a investidores qualificados e profissionais, ou seja, àqueles que possuem mais de R$ 1 milhão e mais de R$ 10 milhões em investimentos, respectivamente. Cada CRA tem valor de R$ 1 mil.

Os papéis serão divididos em até três séries, com remuneração e prazos distintos. A primeira série estará atrelada à taxa DI, com rendimento limitado a 107,5% da taxa DI. O vencimento está marcado para 18 de novembro de 2030.

Já a segunda série terá juros prefixados limitados a duas opções: maior taxa entre 15,5% ao ano ou a Taxa DI futura com vencimento em 02 de janeiro de 2030 acrescida de 1,15%., com vencimento previsto para 18 de novembro de 2030.

A terceira e última série, por sua vez, também tem taxas limitadas à duas opções: a taxa indicativa do Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B), com vencimento em 15 de agosto de 2030, acrescida de um spread máximo de 1,15% ao ano; ou 8,80% ao ano. O vencimento da série é em 16 de novembro de 2032.

Os juros serão pagos semestralmente, e o valor principal será quitado no vencimento, com exceção da terceira série, que terá duas parcelas anuais: a primeira em novembro de 2031 e a segunda em novembro de 2032.

A oferta tem como coordenador líder a XP Investimentos, e conta com Bradesco BBI, Banco Safra, Santander, BB-BI e Itaú BBA como coordenadores.

No ano passado, a C.Vale registrou um faturamento de R$ 21,9 bilhões, queda de 10% em relação a 2023, após problemas climáticos terem afetado as safras de soja e milho, fazendo com que o recebimento caísse 10% no caso da soja e 20% no da soja.

No entanto, as sobras – que correspondem ao “lucro” das cooperativas, destinadas aos cooperados – cresceram quase 25%, fechando em R$ 149,8 milhões. Como a cooperativa registrou um menor recebimento de grãos, o resultado foi puxado, segundo a C.Vale, principalmente pelo bom desempenho de carnes de frango e peixes.

Neste ano, todavia, as duas áreas devem apresentar desafios para a cooperativa. Isso porque a C.Vale pode ter sua receita vinda dos frangos impactada negativamente após o caso de gripe aviária registrado em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, em maio passado, ter restringido as exportações do frango brasileiro para importantes mercados como a União Europeia e a China.

Como a C.Vale exporta cerca de 67% da carne de frango que recebe dos cooperados, o impacto da barreira sanitária não deve ser desprezível no resultado fechado de 2025, a ser divulgado somente no ano que vem.

Já nos peixes, a cooperativa está sofrendo com a tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil pelos Estados Unidos, que entrou em vigor em agosto passado.

A C.Vale continua exportando sua produção de tilápia para o mercado norte-americano, mas já sofre quedas no volume de remessas: em setembro, segundo informações divulgadas inicialmente pelo jornal Valor Econômico, foram embarcadas 378 toneladas de tilápia, 44% a menos do que mesmo mês de 2024.

Com isso, a receita também apresentou retração, passando de US$ 3,31 milhões para US$ 1,69 milhão, queda de 49%.

Ainda assim, a cooperativa continua produzindo 230 mil filés de tilápia por dia, que também estão sendo absorvidos pelo mercado interno.