O Brasil é constantemente questionado sobre o nível de desmatamento na Amazônia e suas causas. Geralmente, diplomatas e o Ministério do Meio Ambiente se encarregam de dar as respostas.
Nesta quinta-feira, 21 de setembro, foi a vez de um importante executivo brasileiro passar por estes questionamentos em um fórum de debates internacional.
O CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, participou de uma espécie de entrevista sobre a relação entre a pecuária e o desmatamento da floresta amazônica, em painel do evento Climate Forward, promovido pelo The New York Times - antes dele, o mesmo palco havia recebido o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e o bilionário fundador da Microsoft, Bill Gates.
Tomazoni foi questionado sobre como a JBS consegue garantir que o gado comprado pela empresa não vem de áreas originadas do desmatamento. Para ele, a solução passa por um amplo programa de rastreabilidade do gado do Brasil.
O CEO da JBS afirmou que "a única solução para o desmatamento no Brasil é ter um sistema nacional de rastreabilidade obrigatória".
“Hoje não temos esse amplo programa oficial. Mas temos tolerância zero com o desmatamento. Nós monitoramos uma área maior que os estados do Texas e Oklahoma, são cerca de 16 mil fazendas que foram vetadas, nós não compramos delas”, disse Tomazoni.
No entanto, o executivo acredita que este tipo de bloqueio não resolve o problema, já que outras empresas, que não seguem os mesmo padrões da JBS, compram o gado criado em áreas desmatadas.
“Então, resolvemos abrir escritórios verdes nas áreas onde ficam estas fazendas. Nós tínhamos 16 destas unidades, e agora estamos indo para 20. E conseguimos, com esta iniciativa, trazer 6 mil propriedades de volta à legalidade”, conta Tomazini.
Segundo o CEO da JBS, estes seis mil fazendeiros têm um rebanho próximo de 2 milhões de cabeças de gado.
Ele mencionou também a iniciativa de montar uma base de dados sobre fornecedores indiretos. “Temos cerca de 50% destes fornecedores indiretos dentro deste blockchain. Quando tivermos 100% na base, teremos capacidade de rastrear cerca de 97% da nossa carne”, afirmou.
Questionado sobre o fato de um CEO de uma grande corporação falar em aumento da regulação governamental sobre seu setor, Tomazoni acredita que este é o único caminho para resolver o problema da rastreabilidade.
“Isso vai garantir que não haja desmatamento em toda a cadeia produtiva, sem depender das práticas de cada empresa”.
Com o anúncio da listagem da JBS na Bolsa de Nova York, Tomazoni foi questionado sobre a transparência na divulgação de números pela companhia, especialmente ao que se refere ao volume de animais abatidos.
“Estamos fazendo o levantamento para apresentar dados do chamado Escopo 3, e assim que tivermos, vamos apresentar”, diz Tomazoni. Ele afirma que o problema da informação sobre abates não tem relação com sustentabilidade, mas sim com estratégia e competição.
Esta categoria de informações diz respeito à produção de gases do efeito estufa, mais especificamente de responsabilidade indireta de uma empresa. No caso da JBS, mesmo que o abate dos animais não seja realizado pela companhia, ela se beneficia desta atividade. Pelas regras americanas, a JBS precisa ter as informações sobre o abate de animais.
“Não é fácil levantar estes dados, mas nós vamos fazer. Vamos identificar cada agente de emissão de gases, e aí colocar em prática um plano de ação”, afirma Tomazoni.
Ele lembra que a JBS atua em 20 países, e que as regras são diferentes em cada um deles, e para cada tipo de carne. “Mas estamos confiantes de que faremos um grande trabalho”.
Sobre o plano de ser uma companhia de emissão zero de carbono até 2040, Tomazoni afirma não ter dúvidas de que a JBS vai atingir a meta.
“Já temos 48% da nossa energia vinda de fontes renováveis. O grande desafio é a divisão do Escopo 3, pois depende das ações de várias empresas. Como isso vai ser contabilizado?”, questiona o executivo.
Como parte da solução para diminuir a emissão de carbono pelo agronegócio, Tomazoni cita exemplos que já são colocados em prática no Brasil, como a revitalização de áreas degradadas e a rotação de culturas.
“Não precisamos abrir novas áreas para produzir mais, inclusive quando falamos de carnes, para suprir a crescente demanda por comida”, afirma o CEO.
Sobre os investimentos em carne cultivada, Tomazoni lembra que a JBS está construindo uma unidade na Espanha, e vai abrir uma unidade também no Brasil.