Se havia alguma dúvida que os acionistas minoritários da JBS aprovarão o processo de listagem dos papéis nos EUA, não há mais.

Em um 18 de março de 2025 histórico, os papéis da companhia da família Batista negociados na B3 responderam ao fato relevante divulgado na véspera, que abria caminho para o processo de dupla listagem nos EUA, e registraram uma alta de 17,8% durante o pregão, com a ação cotada a R$ 38,61.

No fechamento da segunda-feira (17), a ação valia R$ 32,75.

Considerando que hoje a companhia divide seu capital em 2,21 bilhões de ações, de acordo com informações do site de relação com investidores da empresa, a valorização trouxe, em apenas um só dia, uma alta de R$ 12,9 bilhões em valor de mercado para a companhia.

Em dólares, já que tudo envolve a provável entrada da companhia na Bolsa de Nova York (NYSE), o valor de mercado ganho é equivalente a R$ 2,25 bilhões (considerando a cotação atual).

Na véspera, a JBS havia informado que o BNDES fechou um acordo com a J&F, holding dos irmãos Batista que controlam a companhia, no qual o banco estatal compromete se abster de votar na futura assembleia que votará o tema da dupla listagem.

Hoje o banco estatal possui 20% da companhia por meio do BNDESPar, seu braço de participações societárias.

Com o acordo, que ainda garante uma contraparte de R$ 500 milhões caso o papel do frigorífico atinja uma certa valorização combinada entre as partes, o futuro da companhia no mercado de capitais ficou ao critério dos acionistas minoritários, que possuem 30% do capital da JBS.

A julgar pela performance ultra positiva dos papéis hoje, a aprovação será massiva.

Além disso, diversos relatórios publicados hoje por analistas do mercado que a companhia a empresa ressaltaram os pontos positivos da provável listagem futura. Para Guilherme Palhares, do Santander, a listagem nos EUA é transformacional para a JBS, e permite que a empresa acesse novos fundos de investimentos e uma estrutura acionária mais flexível.

Já para Renata Cabral, do Citi, a listagem nos EUA pode fazer com que os papéis figurem em índices de ações, como o Russel e até o S&P 500, pois a JBS tem a elegibilidade para isso. Além disso, acredita que esse processo pode aproximar o valor de mercado da companhia ao de sua principal concorrente nos EUA, a Tyson Foods.

“A JBS negocia com um desconto significativo em relação à Tyson, apesar de sua diversificação superior em proteínas e geográfica. Uma reavaliação mesmo ainda com desconto em relação à concorrente pode implicar numa valorização de 40% em relação aos níveis atuais no papel”, afirmou Cabral.

Gustavo Troyano, analista do Itaú BBA, vê que a listagem lá fora traz um menor custo de financiamento para a companhia e também uma melhor governança no negócio dos Batista.

“Observamos que os acionistas minoritários da JBS, de forma geral, apoiam a proposta de dupla listagem. Portanto, acreditamos que estamos mais próximos do que nunca de uma definição sobre esse tema e antecipamos uma reação positiva das ações”, disse em um relatório prévio à abertura do mercado desta terça.

Leonardo Alencar, da XP, aponta que a “remoção do obstáculo BNDES” é positiva, mas destaca que o desenrolar mais longo desse processo pode indicar falta de urgência na listagem.

No BTG, o analista Thiago Duarte afirmou que o principal obstáculo para a aprovação era justamente o BNDES, e que parte do mercado até temia que o banco estatal vendesse sua participação, uma incerteza que agora foi reduzida.

“Com o BNDES agora saindo de cena, a decisão ficará totalmente nas mãos dos acionistas minoritários, o que aumenta significativamente a probabilidade de aprovação”, afirmou em relatório enviado a clientes.