Castro (PR) - O fim da vacinação obrigatória contra a febre aftosa no Brasil em maio, após cinco décadas de campanha, traz consequências para todo o mercado de saúde bovina. Até mesmo para quem não vendia essa vacina, como é o caso da Elanco Animal Health, uma das maiores empresas do mundo em saúde animal.
“Ao fechar o gado para a campanha contra a aftosa, o pecuarista aproveitava para fazer outros manejos”, diz Pedro Sbardella, gerente sênior de marketing de Ruminantes da empresa no Brasil.
“O produtor vai manter esse hábito ou não vai? A gente está começando a sentir agora”, completa Fernanda Paparotti, coordenadora de marketing de Ruminantes para a Cadeia Leiteira.
Na dúvida e para compensar o fim da campanha contra aftosa, a Elanco decidiu agir, promovendo outras campanhas. Na Agroleite 2024, principal evento da cadeia leiteira no País, realizado na semana passada na colônia Castrolanda, no município paranaense de Castro, a empresa focou seu discurso em temas que podem mobilizar o pecuarista, fazendo com que ele mantenha os investimentos na saúde de seus animais em dia.
Assim, a conversa durante o evento foi sobre a importância dos 90 dias vitais (60 dias antes e os 30 dias depois do nascimento do bezerro), mastite bovina (inflamação da glândula mamária) e saúde do casco, por exemplo.
Até agora a estratégia está dando certo, disseram Sbardella e Paparotti em entrevista ao AgFeed. Mesmo sem detalhar resultados, os dois afirmam: o resultado de 2024 está acima do esperado.
A Elanco não divulga resultados por países ou região. Globalmente, no ano passado, atingiu uma receita de US$ 4,41 bilhões. A estimativa, para este ano, é chegar a US$ 4,45 bilhões.
“Esse ano começou fraco, mas se tornou um ano muito bom, acima da expectativa e a gente vê que 2025 pode ter uma melhora”, diz a executiva. “2024 está sendo bem positivo para a Elanco”, confirma seu colega.
Os resultados da Elanco indicam melhora em todos os segmentos da pecuária. “A unidade de negócios Ruminantes está crescendo em praticamente todas as frentes. Em especial, nas nossas principais linhas de produtos: gado de corte, gado leiteiro e premix [suplementos alimentares misturados à ração]”, afirma Fernada Paparotti.
O desempenho em premix, diz, é resultado de um trabalho de longo prazo. “O premix não é como um remédio, que você compra no balcão de uma farmácia. Passa por uma cadeia maior: a gente vende nosso produto para as premixeiras, elas misturam à ração e, então, a ração chega aos animais. Nesse mercado, que é mais lento, estamos conseguindo colher os frutos de sementes que plantamos nos outros anos”.
O crescimento no mercado de corte e de leite explica parte do desempenho acima do esperado registrado pela Elanco no primeiro semestre. Mas não só. “A gente está conseguindo pegar uma fatia maior”, diz.
A Elanco esperava uma retração no mercado de saúde animal, em 2024, por dois motivos: a queda no valor da arroba e o fim da vacinação obrigatória contra febre aftosa.
“O valor da arroba varia de maneira cíclica, a gente sabe que em um ano vai aumentar e no outro vai abaixar. Já os efeitos do fim da vacinação, estamos conhecendo agora”, analisa.
Para compensar a perda da vacinação contra aftosa, a Elanco apostou no relacionamento com os produtores de gado.
“A empresa não foca só nos produtos, mas também no trabalho técnico comercial que vem no entorno. A gente está se destacando versus a maioria do mercado muito em função disso”, diz Sbardella. “Estamos conseguindo colocar os nossos protocolos nas fazendas”, acrescenta Fernanda.
Num ano sem surtos de doenças, a Elanco apresentou na Agroleite campanhas de prevenção a problemas cotidianos de saúde bovina. “A mastite está estável, mas é sempre uma preocupação”, diz ele.
Segundo a empresa, a inflamação da glândula mamária atinge cerca de 20% dos animais e custa, em média, US$ 444 por ocorrência, entre queda da produção de leite e gastos com medicamentos, entre outros.
“A gente tem que falar. Sabemos que o produtor quer ouvir esse tipo de informação e, assim, ele vai abrir a porteira dele”, diz a executiva.