Se antes se pensava que as pessoas compreendiam a agricultura, agora está claro que a desconexão da sociedade em relação ao setor é algo cada vez mais preocupante, o que está diretamente relacionado às políticas que afetam o setor.

O alerta é do norte-americano Jeff Rowe, executivo que lidera a área de proteção de cultivos da gigante mundial de agroquímicos Syngenta. Após falar para uma plateia de empresários do agro brasileiro, durante o evento One Agro, promovido pela empresa, em Campinas, ele conversou com o AgFeed sobre o atual momento do setor.

Para o presidente da Syngenta, que é filho de uma família de agricultores dos Estados Unidos, "a sociedade decide de muitas maneiras a forma como cultivamos e como a agricultura funciona".

Neste sentido, ele afirma ser obrigação da agricultura se empenhar na busca deste engajamento com quem está fora do segmento, explicando o que e como as coisas são feitas no setor agrícola. “Como resultado, poderemos ter mais políticas e apoio da sociedade”, disse Rowe.

Além desta dificuldade em esclarecer o agro atual para a sociedade, o presidente da Syngenta cita mais duas tendências mundiais na agricultura: a busca por maior produtividade para garantir a segurança alimentar e a revolução digital.

Entre os palestrantes convidados para o evento, que termina nesta quarta-feira, esteve o ganhador do Prêmio Mundial da Agricultura 2020, Rattan Lal, que propôs uma agenda gradual de redução no uso de recursos como água e fertilizantes e na área cultivada globalmente, mas com a meta de dobrar a produtividade das lavouras até 2100.

Jeff Rowe concorda que o aumento da produtividade é o caminho mais eficaz para reduzir o impacto da agricultura na questão climática. "Temos que produzir mais em menos terra e, claro, isso significa que teremos que inovar mais”, afirmou o executivo.

Sobre a revolução digital, destacou que as evidências não estão apenas no campo, no trabalho dos agricultores, mas também na realidade das empresas do setor.

“Hoje, por exemplo, contratamos um grande número de matemáticos, algo que jamais se pensaria há 20 anos. Esses profissionais hoje trabalham para criar modelos que nos ajudam a tomar as melhores decisões", explicou.

O evento One Agro foi realizado pela primeira vez presencialmente em 2019, depois teve edições virtuais em função da pandemia, mas foi retomado no ano passado. É um espaço em que a Syngenta convida produtores rurais e profissionais de outras empresas do agro, como máquinas agrícolas, grãos, cooperativas, bancos e até entidades como a Embrapa.

Rowe disse ao AgFeed que a interação da empresa com os clientes e com os demais parceiros é uma das estratégias da Syngenta para se reinventar e seguir evoluindo, se adaptando à nova realidade.

Previsões otimistas

O patamar mais baixo nos preços das principais commodities que vem sendo verificado em 2023 não assusta a Syngenta.

"A queda nos preços é sempre uma preocupação na agricultura, mas acompanho o setor há quase 30 anos e sabemos que a realidade é que haverá sempre ciclos em que o mercado sobe e desce. As tendências a curto prazo não parecem certamente tão positivas como nos últimos anos, mas estou bastante otimista, é um cenário muito positivo quando pensamos no médio e longo prazo", afirmou Jeff Rowe.

Ele destacou que hoje é mais importante do que antes e que no futuro será ainda mais importante do que agora, "já que os fundamentos no médio e longo prazo são realmente fortes".

Sobre possíveis impactos aos negócios da Syngenta com a proposta crescente de redução no uso de insumos agrícolas – uma tendência da agricultura de baixo carbono – o executivo garante que “a redução volume de produtos utilizados é algo que temos buscado há muito tempo na proteção de cultivos”.

Para Rowe, o foco é o desenvolvimento de produtos aplicados com maior concentração e precisão, criando mais valor ao agricultor. “É melhor para o ambiente e é melhor para nós essa menor utilização de produtos químicos”, afirmou.

O presidente da Syngenta também comentou a expectativa que vive o Brasil sobre o início das regras relacionadas ao chamado “Green Deal”. A partir de 2024 a União Europeia vai barrar a compra de commodities agrícolas que tenham origem em áreas onde houve desmatamento.

"Eu acredito que alguns dos conceitos do Green Deal são de fato muito bons, mas a questão a ser vista é a forma como ele vai ser implementado", destacou Rowe.

Segundo ele, a Syngenta sempre foi a favor de um sistema regulador com base científica muito forte. "Queremos sistemas reguladores que sejam consistentes, claros, lógicos, mas devem se basear na ciência. É por isso que investimos tanto em ciência e é por isso que interagimos tanto com os reguladores governamentais", acrescentou.

Neste cenário, o executivo disse esperar que as políticas sejam consistentes e que os estudos que forem apresentados realmente sejam avaliados de forma científica e imparcial.