Os dois fatos, aparentemente, não estão relacionados. Mas uma coincidência temporal une os movimentos de dois megainvestidores que costumam ditar tendências nas principais bolsas de valores do mundo.
Primeiro foi a revelação de que David E. Shaw, criador do fundo de hedge D.E.Shaw, com mais de US$ 70 bilhões em gestão, havia montado uma posição de US$ 1 bilhão em papeis da multinacional alemã Bayer, cujos resultados têm decepcionado investidores, sobretudo pelo mau desempenho de sua divisão agrícola.
Dias depois foi a vez de David Einhorn, fundador e presidente da Greenlight Capital, informar que adquirira um volume representativo de ações da montadora de máquinas agrícolas CNH Industrial. Em um painel em uma conferência em Nova York, ele anunciou que a empresa havia entrado no foco de sua estratégia por entender que o setor pode estar se aproximando do fim de um ciclo de baixa.
Os modelos de atuação dos dois investidores são bastante diferentes. Shaw tem, em Wall Street, a alcunha de “Rei Quant”, por adotar em sua gestora um sistema de algoritmos sofisticados para identificar ineficiências no mercado financeiro e apostar nas flutuações oferecidas por elas.
Einhorn, por sua vez, é um crítico desse tipo de investimento, que lucra com as variações e não com a valorização gerada pelo crescimento real das empresas.
Ambos, entretanto, enxergaram oportunidades de ganhos em função dos valores depreciados das companhias nos pregões. O movimento da D.E.Shaw, por exemplo, ocorreu logo depois de a companhia anunciar mais um trimestre de resultados ruins, que o próprio CEO, Bill Anderson, classificou como “frustrantes” para os acionistas.
A posição da gestora é de “vendido”. Ou seja, a aposta de Shaw é de que as ações podem cair ainda mais, depois de atingir, na semana passada, os menores valores em duas décadas. Segundo a agência Reuters, que noticiou a jogada a partir de documentos enviados às autoridades regulatórias de mercado, um dos fundos da D.E.Shaw teria colocado 108 milhões de euros nessa posição.
O problema, nesse caso, é que a visão negativa de um tubarão como Shaw pode contaminar os mercados, amplificando a tendência de queda das ações e, por consequência, as variações que dão ganhos a quem apostou contra a empresa.
No dia do anúncio do balanço do terceiro trimestre, as ações da empresa caíram mais de 15%. No dia seguinte, recuaram outros 3,5%.
O olhar, nesse caso, é de curto prazo, diferentemente do que acontece com investidores ativistas, que também vislumbraram espaço para aplicar recursos na Bayer.
Nos últimos dois anos, a empresa foi “alvo” de pressões vindas duas firmas diferentes a Inclusive Capital Partners, do investidor Jeffrey Ubben, e a BlueBell Capital, gestora ativista fundada em 2014 pelos italianos Giuseppe Bivona e Marco Taricco.
Nos dois casos, os “ativistas” buscavam, através da compra de participações relevantes na empresa, influenciá-la a fazer mudanças na sua gestão. Ubben foi vitorioso na proposta de substituir o CEO Werner Baumann, a quem via como o responsável por investimentos que teriam dado prejuízo financeiro e reputacional à gigante alemã – Bill Anderson foi o substituto escolhido.
Já os sócios da BlueBell, que jpa haviam conseguido alterações importantes em empresas como Danone (renúncia do CEO Emmanuel Faber, em 2021) e Hugo Boss (destituição do CEO Mark Langer, em 2020), buscavam a cisão da Bayer, alegando que a companhia está subvalorizada, se comparada a suas concorrentes, em função de maus negócios feitos por sua divisão agrícola, como a compra da Monsanto, em 2016.
A proposta não avançou, mas continua sendo uma sombra à gestão de Anderson na gigante alemã.
Paciência e otimismo
Se a D.E.Shaw atua com movimentos de curto prazo, a Greenlight Capital, de Einhorn, tem um perfil mais paciente. Também bilionário e consagrado em Wall Street, o investidor costuma ser uma voz em defesa da avaliação das empresas a partir de seus fundamentos e do investimento em longo prazo.
Não por acaso, os papeis da CNH tiveram altas imediatas após a fala de Einhorn na semana passada. A empresa também vinha de um balanço abaixo das expectativas do mercado e do novo CEO, Gerrit Marx. Ainda assim, a valorização chegou a quase 8% no mesmo dia em que Einhorn tratou publicamente do assunto.
Segundo o investidor, as ações da empresa seriam um “investimento de valor negligenciado” e, mesmo sem perspectivas imediatas de recuperação do setor, estariam subvalorizadas.
Para Einhorn, as políticas de dividendos e de recompra de ações da companhia são pontos positivos, além de ele acreditar que, na medida que o ciclo agrícola voltar a reagir, os ganhos potenciais de valorização são elevados.
"É exatamente o tipo de situação com a qual absolutamente ninguém se importa agora porque está barato, e as notícias no próximo período de tempo não serão muito boas. Os preços agrícolas estão baixos e os equipamentos agrícolas estão encerrando um ciclo de baixa", afirmou Einhorn.
"Este ano, o universo de equipamentos agrícolas está provavelmente 20% abaixo da média. E em algum momento, daqui a três ou quatro anos, provavelmente estará 20% acima. É só a natureza de como esses negócios funcionam."