A pujança e crescimento exponencial do agro brasileiro nas últimas décadas, além de não ser por acaso, é formado por muitos cases de sucesso, alguns deles poucos conhecidos fora do segmento.

Não é raro encontrar, em praticamente todos os estados, histórias de negócios familiares que se tornaram complexos empresariais bilionários no setor.

Um exemplo claro é o do Grupo Grão de Ouro, criado nos anos 1990, na cidade mineira de Alfenas, por Silvio de Souza Filho. No princípio, era uma pequena operação focada em armazenagem e na comercialização de milho. Hoje, é uma holding com atuações variadas e que faturou quase R$ 2 bilhões no ano passado.

Em entrevista ao AgFeed, o sócio-diretor do Grupo Grão de Ouro, Rafael Souza (filho do fundador), aponta as várias frentes de negócios em que está envolvido: comércio de grãos, revendas da marca New Holland, fábricas de ração, beneficiamento, armazenagem, insumos para pecuária e produção agropecuária.

Em 2024, segundo Souza, todas essas operações somadas trouxeram o faturamento de R$ 1,7 bilhão, uma leve baixa de 5% frente a 2023. “Aumentamos o volume de vendas e produção em todas as vertentes, e não paramos de crescer, mas o preço dos itens caiu”, conta.

Para 2025, a projeção de Rafael Souza é faturar R$ 2,1 bilhões com as operações somadas.

Segundo ele, a operação mais representativa no mix é a de comércio e venda de grãos, seguida pela venda de maquinário agrícola, rações e os produtos de nutrição animal. No quinto lugar, os serviços de armazenagem, justamente o negócio original da família.

Para sustentar o crescimento no faturamento, a Grão de Ouro projeta ampliar suas operações neste ano, principalmente nas máquinas e na originação de grãos.

Souza estima que a rede de concessionárias do grupo já figura entre as cinco maiores da New Holland no País.

A empreitada nas máquinas começou em 2016, quando a empresa viu uma oportunidade de assumir lojas no sul do Tocantins. “Vimos que fazia sentido abrir essa frente e, com um plano de negócios aprovado, passamos a ser os concessionários New Holland na região”.

Eram duas lojas, uma em Palmas e outra em Gurupi. Em 2018 foi inaugurada a terceira unidade, em Lagoa da Confusão. Em 2020, o grupo adquiriu a rede Metropolitana, com mais duas filiais, incluindo uma em Balsas, no Maranhão.

A expansão continuou. Há três anos, comprou a Reimaq, e passou a atender também cidades no Pará, como Redenção e Marabá.

“Na semana passada inauguramos a terceira filial paraense, em Santana do Araguaia. Hoje temos nove lojas, mas olhamos para expandir para outros estados”, afirma o sócio-diretor.

Na originação, o grupo compra e vende milho, soja, sorgo e aveia. A perspectiva este ano é para transacionar 720 mil toneladas de grãos.

“Temos dedicado energia nessa vertente, principalmente eu, que, além de sócio, atuo como diretor na área de originação e armazéns”, diz. “Temos investido para levar o nosso know-how no setor para as regiões Sul e Centro-Oeste, e, em breve, onde possuímos as concessionárias”.

Mesmo ainda sob uma estrutura familiar, Rafael de Souza cita que a companhia completará dois anos de um conselho consultivo formado pelos sócios e com membros externos.

Rafael Souza, sócio e diretor do Grupo Grão de Ouro

“Entendemos que o sustento desse crescimento vem através de uma maior profissionalização, organização interna, governança e compliance. Olhamos para dentro para estar preparado e organizado para sustentar os próximos anos”, disse.

Rafael Souza explica que a empresa já teve outros negócios no passado, como uma rede de revendas e uma fábrica de adubo organomineral. “Refletimos que tinha muito negócio dentro do grupo e decidimos ter foco nesses cinco atuais”, afirma.

Um dos pontos mais marcantes da trajetória do grupo foi a venda da rede de insumos agrícolas, que, sob o controle da família, era chamada de Grão de Ouro Agronegócios.

A empresa chegou a ter 15 filiais em Minas Gerais, com a principal bandeira sendo os produtos da Bayer. Em 2018, porém, a rede foi procurada pela gestora Aqua Capital, que começava um processo de consolidação da distribuição de insumos, que daria origem ao grupo AgroGalaxy.

A compra da rede da Grão de Ouro fez parte de um pacote de aquisições de R$ 400 milhões promovido pelo Aqua – que também incluiu a compra da AgroFerrari, do interior de São Paulo, a Rech Agrícola, do Mato Grosso, e a Alfa Distribuidora.

A família Souza, então, usou o capital para investir em suas outras frentes.

Do armazém mineiro ao Matopiba

Apesar da sede do grupo Grão de Ouro ser em Minas Gerais, a companhia foi expandindo sua atuação para diversas regiões do país ao longo dos mais de 30 anos de história.

A empresa familiar começou com um negócio pequeno: armazenagem e beneficiamento de milho. A comercialização do cereal começou logo depois.

Passados alguns anos, Silvio de Souza Filho começou uma vertente de prestação de serviços de maquinário agrícola. “Na época não eram todos os produtores que tinham maquinário, e o serviço era muito focado na colheita”, conta Rafael.

Na época, Silvio também iniciou-se na atividade de produtor rural.

Depois de quase 10 anos, entre 2001 e 2002, a empresa deixou de atuar somente em Alfenas e montou seu segundo armazém em Boa Esperança, também em Minas Gerais.

O sonho do fundador era, segundo Rafael Souza, criar uma fábrica de ração, mas foi adiado pelo investimento do segundo armazém. Em 2018 a companhia ainda comprou um armazém em Arcos, também em Minas Gerais, e arrendou outra unidade de armazenagem em Passos, no estado, que foi comprada em 2021.

Hoje a empresa conta com quatro armazéns próprios no estado mineiro.

A fábrica de ração foi sair do papel em 2004. “A ideia inicial era atender o mercado pet, mas quando a empresa juntou o dinheiro para montar a fábrica viu que era um segmento com muitas empresas, e abrimos um negócio que atendia tudo menos pet”, disse.

Foi nessa época também que a empresa começou sua rede de revendas de insumos, vendida 14 anos depois.

O negócio foi crescendo, e nos anos seguintes a operação ganhou o braço de comercialização de grãos, principalmente com a entrada da soja na região de Alfenas, em meados de 2012. “Fomos pioneiros em comercializar a oleaginosa na época na nossa região”.

No segmento de ração, a companhia alugou uma fábrica em 2015 em Bom Jesus da Penha, próxima da cidade de Passos, para aumentar sua produção. Em 2019, inaugurou uma nova fábrica em Salto de Pirapora, no interior de São Paulo e próximo a Sorocaba.

Logo na sequência, saiu de Bom Jesus da Penha e adquiriu a concorrente Nutrividas, que tinha unidade em Valença (RJ). Em 2021, inaugurou uma fábrica em Passos (MG), somando hoje quatro unidades fabris que somam uma produção de 9 mil toneladas de ração por mês, algo em torno de 100 mil toneladas anuais.

Além da Nutrividas, a empresa atua com a marca própria Nutrimax, atendendo pecuaristas de gado, equinos e vendendo ração para lojas agropecuárias.

Na operação de plantio, batizada com o nome de Forte Grãos, são 1,8 mil hectares que produzem grãos e café. Rafael Souza sinalizou que o grupo pode entrar no segmento de sementes no futuro, numa empresa que se chamaria Interlagos Sementes.

“Vamos entrar para aproveitar uma oportunidade, mas não é e nem será nosso foco de atuação”, acrescentou.