Na época em que foi criado o grupo Sempre, no oeste catarinense, há 26 anos, o milho no Brasil estava concentrado principalmente na safra de verão, plantada na região Sul.
O tempo passou e muitos dos seus concorrentes na produção de híbridos de milho acabaram sendo comprados por multinacionais, mas a Sempre, como diz o próprio nome, queria se perpetuar no mercado.
A partir de 2014, época em que já começava a explodir a “safrinha” – que virou a maior safra de milho do Brasil, plantada após a soja – a empresa hoje chamada de Sempre AgTech, com sede em Chapecó-SC, incorporou biotecnologias em suas sementes e começou a dar saltos maiores.
O grupo não divulga o seu faturamento atual, mas é fato que começa a competir com os grandes no País, o que ajudou inclusive na decisão de investir também em bioinsumos.
Neste segmento, a venda de biodefensivos, a receita deve “ultrapassar os R$ 50 milhões”, disse o diretor de novos negócios da Sempre, Agenor Santos, em entrevista ao AgFeed.
A empresa prevê que a receita do segmento de biológicos avance para R$ 200 milhões, no prazo de 3 anos, afirmou o diretor.
Há alguns anos a Sempre está investindo todas as suas fichas – ou US$ 40 milhões, para ser mais exato – nas pesquisas que envolvem o chamado RNA interferente (RNAi).
A tecnologia é programada para inativar genes específicos em plantas daninhas, insetos-praga e doenças, associados a processos essenciais à sua sobrevivência.
É um caminho para produzir bioinsumos que atingem diretamente a praga alvo, por isso promete maior eficácia e menos efeitos colaterais para a lavoura e para quem aplica.
Santos disse que outras empresas já testaram as tecnologias de RNAi que foram desenvolvidas pela Sempre, comprovando a eficácia.
“O RNA interferente está pronto para esses alvos. Agora, estamos trabalhando fortemente na questão de produção em escala e na proteção do evento”.
Neste cenário, a previsão é de que o lançamento ocorra em até 2 anos.
“Hoje nós temos de 5 a 8 alvos, que estão muito bem definidos e com um curto espaço de tempo, na questão do RNA Interferente, estaremos lançando esses produtos no mercado”, afirmou.
Os “alvos” seriam pragas, doenças e plantas daninhas que serão atacadas, como o percevejo, a buva e o capim amargoso, por exemplo.
As pesquisas com RNAi começaram na Sempre há 7 anos, que foi garimpando em diferentes instituições projetos que tinham potencial, mas que aguardavam investimentos. Por isso a empresa se considera pioneira na tecnologia, que hoje também vem sendo olhada por outras empresas de biológicos.
A empresa não possui fábrica própria. A produção em escala ocorre via parceiros, mas quando forem lançadas as soluções de RNAi, a Sempre não descarta a opção de passar a ter uma unidade industrial.
Parceria com Jotabasso e Piccini
Na área de sementes de milho, a investida mais recente da Sempre AgTech é o chamado programa “Advanced”, que visa estabelecer parcerias com grandes grupos da produção agrícola com foco na produção de sementes e também do milho em grão.
Na prática, a parceria ocorre em duas frentes. Em uma delas o parceiro se compromete a reservar uma área para ser um campo de produção de sementes. Os materiais genéticos são fornecidos pela Sempre que também tem direito a colher essa semente para comercializar.
Já o parceiro tem como recompensa uma remuneração 50% maior do que se utilizasse aquela mesma área para produzir milho em grão.
A segunda frente, da mesma parceria, está relacionada às áreas comerciais do produtor parceiro. Ele comprará as sementes de milho da Sempre com desconto que pode superar 35%. E também conta com a presença dos técnicos da empresa, que vão ajudar a sugerir os melhores híbridos para cada fazenda ou região.
O executivo destacou que “não adiantar vender 35% mais barato a semente se o híbrido que eu colocar na fazenda deles não performar. Por isso, para cada fazenda, a gente faz uma matriz de posicionamento dos nossos híbridos, temos hoje mais de 10”.
“Nós não vamos alterar a questão do planejamento do plantio dele, muito pelo contrário, e o produtor terá uma rentabilidade maior”, destacou Agenor Santos. Para a Sempre, a vantagem é o ganho de share nestas fazendas.
Além do diagnóstico baseado em pesquisas, são feitas no mínimo 4 visitas por fazenda para ver como está o desenvolvimento da cultura, o que envolve uma equipe de cerca de 100 pessoas. “Mas o parceiro tem total liberdade de decisão sobre quanto investir, qual manejo e tecnologia quer adotar”.
O modelo já foi adotado com dois clientes de peso. A Jotabasso, de Mato Grosso do Sul, e o grupo Piccini, de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso.
Com isso, segundo o executivo, nesta safra 85 mil hectares já estão contemplados pelo modelo de parceria. Na safra passada eram 35 mil hectares.
“O tamanho da área para se encaixar no programa Advanced é de 15 mil hectares de plantio de milho pra cima”, explicou.
A empresa mapeou grandes grupos de produtores que totalizam 2,5 milhões de hectares de área potencial para que o modelo seja adotado.
“Nós temos pelo menos, mais 20 alvos (produtores) que já estão fazendo testes com os nossos híbridos nas fazendas deles para sentirem a questão de performance”, contou.
Em 2024, o diretor da Sempre AgTech acredita que a receita da empresa fique praticamente igual ao ano anterior. Isso porque o preço do milho caiu e não foi possível elevar o valor da semente.
Já em 2025, caso o clima ajude o Brasil a manter ou expandir a área de milho segunda safra, Santos acredita que a empresa volta a crescer em faturamento, “entre 5% e 10%”.
O comportamento da safra de soja, que já está com o plantio atrasado, será um dos fatores fundamentais para definir esse cenário, segundo ele. Por outro lado, o forte avanço da indústria de etanol de milho, por exemplo, é um dos pontos otimistas para o negócio da empresa, que cresce junto com o avanço da segunda safra.