De moinhos de trigo a postos de combustíveis, a Cooperativa Tritícola Mista Campo Novo (Cotricampo), sediada na pequena cidade de mesmo nome localizada na região Noroeste do Rio Grande do Sul, já próximo da fronteira com a Argentina, construiu ao longo de quase meio século de existência, uma trajetória marcada pela diversificação e pela forte presença regional, reunindo hoje cerca de 8,5 mil associados.
A estratégia não mudou e tem se mostrado acertada. A cooperativa se prepara agora para registrar neste ano o maior faturamento de sua história: cerca de R$ 1,5 bilhão.
Se confirmado, o número representará um crescimento de 15% em relação aos R$ 1,3 bilhão vistos no ano passado e a continuidade de um crescimento recente nos últimos anos.
“Estamos trabalhando forte para consolidar mercado e continuar crescendo. Até poucos anos atrás, o faturamento não chegava nem a R$ 1 bilhão”, afirmou o presidente Gelson Bridi, em entrevista ao AgFeed.
A expectativa de crescimento para este ano é decorrente de um trabalho contínuo de assistência técnica, explica Bridi. “Para se consolidar cada vez mais, ganhar mercado e ter crescimento”, afirma.
No ano passado, a cooperativa recebeu 3,1 milhões de sacas de soja, 2,1 milhões de sacas de trigo e 837,2 mil sacas de milho.
Ao conversar com o AgFeed, Bridi não tinha números fechados da safra atual, mas avalia que a produção de soja deve registrar melhora, acompanhada por uma recuperação no milho e estabilidade no trigo.
Na soja, a Cotricampo também sentiu os efeitos da estiagem, embora de forma menos intensa que em outras regiões do Estado. O Rio Grande do Sul voltou a registrar quebra de safra de soja na temporada 2024/2025, encerrando o ciclo com 13,2 milhões de toneladas, volume 27,4% abaixo do previsto inicialmente.
“Nossa região de atuação não foi tão castigada, não tivemos expressivas perdas como na Metade Sul e no Centro do Estado, mas tivemos perdas ainda assim”, afirma. “Por isso, as perspectivas para este ano são de uma safra de soja melhor”, complementa Bridi.
Parte da soja a ser recebida pela cooperativa já está sendo plantada, exceto nas áreas destinadas ao milho. No Rio Grande do Sul, diferentemente do Centro-Oeste, em algumas áreas o ciclo começa com o milho e só depois, no início do ano seguinte, entra a soja.
Em relação ao milho, a expectativa de Bridi é que a área plantada na região de atuação da cooperativa cresça 15% nesta safra. “A área de milho vinha sendo bastante plantada, deu uma caída no ano passado, mas agora vai retornando aos patamares de sempre, com a cultura bem plantada, bem conduzida.”
Já em relação ao trigo, que está sendo colhido neste momento, Bridi diz que a safra está sendo “boa” e que o recebimento da Cotricampo foi similar ao do ano passado, com pequena queda de área plantada na região de atuação da cooperativa – movimento contrário ao da média do Rio Grande do Sul, que teve diminuição de área plantada de 14,2% na safra de trigo deste ano, segundo o levantamento mais recente divulgado pela Emater-RS.
“É uma safra dentro da normalidade, com área plantada praticamente igual, e uma colheita sem grandes problemas de clima. As primeiras áreas colhidas foram muito boas. Acredito que seja uma boa safra de trigo - ainda que o trigo seja sempre complicado, frágil”, complementa.
"Mas como a gente fomenta muito o trigo e industrializa entre 40% a 50% do que é recebido, conseguimos dar liquidez e ter um preço melhor.”
Diversificação
A cooperativa conta com 22 unidades de recebimento de grãos em 17 municípios, com capacidade total de 457,3 mil toneladas. Mas, além de receber a produção dos agricultores locais, a Cotricampo tem intensificado os esforços para expandir sua capacidade de industrialização.
A cooperativa conta hoje com dois moinhos de trigo, mas, por muitos anos, operou apenas uma unidade: o moinho de Campo Novo, inaugurado na década de 1980, com capacidade para processar 220 toneladas por dia.
Mais recentemente, no fim do ano passado, a capacidade de moagem da cooperativa aumentou com a incorporação de um segundo moinho, em Horizontina, que tem capacidade para processar cerca de 75 toneladas de trigo por dia.
A Cotricampo assumiu a operação desse moinho, que pertence à Cotrirosa, cooperativa de Santa Rosa (RS). “Assumimos esse moinho, mas não o compramos. É uma parceria com eles”, explica Bridi.
A parceria com outras cooperativas é algo que tem sido recorrente na operação da Cotricampo, com a ideia de somar forças. “Para a Cotrirosa, por exemplo, fornecemos nossa farinha para ser embalada com a marca deles. Estamos trabalhando muito em parceria com outras cooperativas da região, no sistema de intercooperação.”
Ainda no trigo, a cooperativa possui também uma indústria de panificação, produzindo farinhas das marcas Cotricampo, Flor do Trigo e Cotri-Flor. Mas vai bem além, com uma série de outros negócios: 21 lojas agropecuárias, dois postos de combustíveis, duas farmácias, uma fábrica de rações, uma unidade beneficiadora de sementes, uma unidade de seguros e uma cafeteria, operações localizadas em diferentes cidades da região onde atua.
A importância dessa diversificação aparece nos números: depois da comercialização de soja, o segundo maior faturamento da cooperativa vem das revendas de insumos agrícolas.
“Fazemos tudo isso justamente para não ficarmos dependentes das oscilações de soja, milho e trigo”, explica Bridi.
Para seguir adiante com a diversificação de suas operações, além de continuar fazendo investimentos pontuais em suas indústrias e lojas, Bridi não descarta que, em algum momento, a Cotricampo resolva atuar também na industrialização da soja que recebe, ainda que isso siga na fase de estudos e não tenha data para acontecer.
“A gente sempre está olhando na questão da industrialização. Estamos sempre fazendo estudos junto com outras cooperativas, nunca sozinhos. Mas ainda tudo isso é estudo”, diz Bridi. “Tem que ter essas parcerias para transformar qualquer projeto em realidade.”
Resumo
- Cooperativa Cotricampo, de Campo Novo (RS), projeta faturamento recorde de R$ 1,5 bilhão em 2025, alta de 15% sobre 2024
- Diversificação em moinhos, panificação, lojas agropecuárias e revendas de insumos reduz dependência das commodities
- Parcerias com outras cooperativas e planos de industrializar a soja fortalecem crescimento sustentável no agro gaúcho