Sem rodeios e direto, o diretor presidente da Cosan, Marcelo Martins, deixou claro nesta quinta-feira, 27 de fevereiro, que a companhia e sua principal subsidiária, Raízen, terão de diminuir de tamanho com venda de ativos e que buscarão parceiros para diminuir a alavancagem.
“Há uma mudança de estratégia e clareza no movimento tanto de Cosan como de Raízen, com redução gradual, constante e desejável no endividamento para chegar a zero”, afirmou Martins durante conferência com investidores sobre os resultados do quarto trimestre de 2024.
Segundo ele, a holding controlada pelo empresário Rubens Ometto tem um pool de ativos que pode ser vendido, entre eles o Porto São Luís, no Maranhão, além de terras da subsidiária Radar, e usinas da Raízen, joint venture com a Shell, com 44% de participação para cada companhia.
“A Cosan não vai colocar dinheiro na Raízen e a prioridade clara é redução na alavancagem. A Raízen tem possibilidade de vender ativos bastante relevantes, que podem ter impacto na alavancagem e os dois acionistas estão conscientes disso”, declarou.
Para Martins, há uma necessidade clara de revisão do portfólio de usinas. O executivo citou ainda que se a Cosan tiver que passar por separação de negócios isso será considerado, mas não citou diretamente a Shell, sua maior parceira em seu maior negócio.
O movimento de desinvestimentos e amortização de dívidas veio à tona no final do ano passado, justamente no trimestre encerrado em dezembro, quando Cosan e Raízen sofreram os impactos da alta na taxa de juros no endividamento.
Uma série de negócios dos dois lados já foi realizada, com destaque para a venda de 4,05% da participação que a Cosan tinha na Vale em janeiro. Um total de R$ 9,1 bilhões foi levantado na operação, com parte do dinheiro já utilizada para recompra de dívidas.
Para o diretor presidente da Cosan, existem “alternativas interessantes (de negócios) que possam ser executadas num time interessante”. E esse “time” parece ser breve, já que, segundo ele, o custo de carrego da dívida é incompatível com a taxa de juros para a Cosan e para a Raízen.
“A mudança na situação macro não é animadora e quem tem que mudar somos nós”, afirmou.
Ainda de acordo com Martins, novas capitalizações ou aumento de capital da companhia estão afastadas no momento e os acionistas devem esperar algum tempo para receberem dividendos, tanto nas duas empresas quanto nas outras sob o controle da Cosan, como Rumo e Compass.
Segundo Rodrigo Araújo, diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Cosan, os movimentos de pagamento e alongamento já feitos miraram dívidas disponíveis de imediato e com custo baixo. Por isso, movimentos adicionais, ou seja, desinvestimentos, são necessários.
“A Vale foi (um movimento) importante e tempestivo para que outros movimentos de alocação de capital acontecessem e nosso senso de urgência não diminuiu. Os juros seguem desconfortáveis”, afirmou.
Araújo foi mais comedido e ressaltou algumas vezes que as premissas são não perder qualidade de portfólio, manter a visão de valor e de preço correto para os ativos.
Esses ativos são, na avaliação de Araújo, por exemplo, os que a Cosan “tem excesso de controle e que possam gerar algum tipo de monetização, com sócio certo, no valor certo e no momento certo”.
Para ele, os setores de energia e renováveis são os que devem ter “entrada de parceiros” e nos quais a Cosan tem “disposição a se diluir”.
Na noite da quarta-feira, 26 de fevereirol, a Cosan divulgou resultados trimestrais e anuaios, que vieram negativos como previsto.
A companhia reportou prejuízo líquido de R$ 9,297 bilhões no quarto trimestre de 2024, ante lucro de R$ 2,362 bilhões obtido no mesmo período de 2024. O resultado no período trouxe impacto direto no balanço anual, que registrou prejuízo acumulado de R$ 9,424 bilhões, revertendo lucro de R$ 1,094 bilhão em 2023.
A dívida líquida da Cosan chegou a R$ 23,5 bilhões ao final do ano passado, ante R$ 22,9 bilhões no final de 2023 e R$ 21,7 bilhões no terceiro trimestre de 2024. Analistas estimam que a venda das ações da Vale e outras operações financeiras devem reduzir o endividamento para algo em torno de R$ 14 bilhões no primeiro trimestre de 2025.
Martins disse que é possível baixar “o máximo possível” esse endividamento e “assumir compromisso de reduzir uns 30% nos próximos meses”, com a venda de um “pool de ativos que eventualmente vai nos permitir chegar nesse número”.
Após a conferência com analistas, as ações da Cosan ganharam força na B3 e operaram em forte alta, acima de 3%, nas máximas do dia.
Sustentabilidade
Em relatório divulgado antes da conferência, o BTG Pactual destacou que existem “preocupações com a sustentabilidade do balanço patrimonial após um ciclo intenso de investimentos do grupo, o desempenho abaixo do esperado de alguns desses investimentos e a alta dos juros”, informou a equipe de analistas em relatório.
No entanto, a instituição financeira mantém a recomendação de compra para Cosan, “na expectativa de que o senso de urgência demonstrado recentemente prevaleça e que a Cosan continue ágil no ajuste da estrutura de capital, algo que sua gestão experiente tem demonstrado ao longo dos anos”.
O BTG Pactual mantém a indicação de compra dos papeis da holding, com preço-alvo de R$ 23 para 12 meses. “Se estivermos certos, as ações da Cosan oferecem uma combinação poderosa de desalavancagem e redução do desconto da holding”, concluiu o relatório.