Não foi surpresa para ninguém. A Raízen comunicou nesta segunda-feira, 12 de maio, fechou com a Ferrari Agroindústria e a Agromen - dona do Grupo Vale do Verdão - a venda da Usina de Leme (SP), por cerca de R$ 425 milhões, valor sujeito a variações no fechamento do acordo. É o primeiro movimento da companhia, joint-venture entre Cosan e Shell, para se desfazer de ativos do setor sucroenergético em meio à crise financeira.

As ações da companhia abriram em alta perto de 3% no início dos negócios nesta segunda-feira, a R$ 1,85, ante R$ 1,80 no fechamento da sexta-feira, demonstrando uma primeira reação positiva a um plano que já estava declarado e que, agora, passa a ser efetivamente executado.

O negócio faz parte da estratégia da Raízen de negociar usinas fora do raio de ação. Apesar de estar localizada no polo de Piracicaba, a unidade foi adquirida em 2021, no processo de compra da Biosev, então braço sucroenergético da Louis Dreyfus Company (LDC).

“A operação está alinhada com a estratégia da companhia de reciclagem do portfólio de ativos, redução do endividamento e captura de eficiência agroindustrial”, informou a Raízen em comunicado.

Por outro lado, a Usina de Leme está no raio de atuação dos grupos compradores. Ferrari Agroindústria e Agromen já são sócias da Usina São Luiz, na vizinha Pirassununga (SP). A Ferrari é um tradicional grupo paulista com negócios agroindustriais desde 1950.

A Agromen é grande produtora de sementes, tem sede em Orlândia (SP), mas se consolidou em Goiás. Naquele estado, o Grupo Vale do Verdão tem quatro usinas - nos municípios de Maurilândia, Itumbiara e Santo Antônio da Barra.

A Usina de Leme, adquirida junto à Raízen, possui capacidade instalada de processamento de 1,8 milhão de toneladas por safra. Segundo comunicado, além do ativo industrial, a operação envolverá a cessão de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar.

“A conclusão da operação está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), bem como ao cumprimento das demais condições precedentes estabelecidas no contrato. A companhia manterá o mercado oportunamente informado sobre eventuais desdobramentos relevantes do tema”

Próximos passos

No mercado, outros dois negócios são dados com certo no processo de venda de ativos da Raízen. O primeiro é um pacote com três usinas em Mato Grosso do Sul, duas em Rio Brilhante e uma em Caarapó, para a Atvos. A produtora brasileira de etanol e açúcar pertence ao Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi.

O segundo negócio seria a Usina Junqueira, que fica em Ituverava (SP), na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Além de reduzir a operação, a Raízen iniciou o ano com ações para alongar o perfil de dívida, emitindo novos bonds e debêntures com vencimento mais longo para fazer caixa e quitar dívidas de curto-prazo.

Fora do setor sucroenergético, a companhia também pode se desfazer da Oxxo, rede de lojas de conveniência em sociedade com a Femsa, e a das operações na Argentina, com refinaria, postos e distribuição de combustíveis.

A Raízen prevê divulgar nesta terça-feira, 13 de maio, após o fechamento do mercado, o balanço do quarto trimestre do ano-safra 2024-2025 (4T24’25), no período de janeiro a março.

Na prévia operacional da safra 2024/2025, encerrada em 31 de março, a moagem total atingiu 78,3 milhões de toneladas de cana, queda de 7% em relação à temporada anterior. O volume de matéria-prima processada pela Raízen diminuiu 30% no 4T24´25, para 700 mil toneladas.

A produção de açúcar-equivalente ficou entre 84 mil e 88 mil toneladas no período trimestral. A companhia relatou que a queda esteve relacionada à menor disponibilidade de matéria-prima, sob influência de déficit hídrico e queimadas.

A comercialização de açúcar no quarto trimestre da safra passada somou 969 mil toneladas, abaixo do total de 1,936 milhão de toneladas registrado no mesmo período da safra anterior.

As vendas de etanol recuaram na mesma base de comparação trimestral, para 788 milhões de litros no trimestre final de 2024/2025, ante 876 milhões de litros em igual período de 2023/2024.

Resumo

  • A Raízen anunciou a venda da Usina de Leme (SP) por cerca de R$ 425 milhões para os grupos paulistas Ferrari Agroindústria e Agromen
  • Negócio é o primeiro de sua estratégia de redução de ativos e endividamento no setor sucroenergético
  • A companhia também planeja vender outras usinas em Mato Grosso do Sul e em Ituverava (SP), além de considerar a venda de ativos fora do setor