A revolução dos biológicos na agricultura brasileira é cada vez mais evidente, contando com uma grande aliada: a Embrapa.

Há cerca de 20 anos um primeiro grande passo neste sentido foi dado com o início da utilização de bactérias capazes de promover a fixação biológica de nitrogênio, por meio dos chamados inoculantes.

“O uso destes produtos levou a uma economia de US$ 15 bilhões na cultura da soja, já que eliminou a necessidade de usar fertilizantes minerais nitrogenados nas lavouras”, lembrou Jerri Édson Zilli, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, em entrevista ao AgFeed.

Zilli é um dos responsáveis pelo mais recente lançamento de biológico feito pela empresa, durante o Show Rural Coopavel, neste mês de fevereiro, em Cascavel, no Paraná.

Trata-se do produto batizado de “Combio”, uma espécie de “combo” ou “efeito 2 em 1” para a cultura da soja a partir de soluções biológicas. A formulação foi feita em parceria com a empresa Innova Agrotecnologia, de Foz do Iguaçu.

O produto é uma combinação de três estirpes bacterianas que atuam na fixação biológica de nitrogênio e na promoção de crescimento das plantas: a BR 29 (Bradyrhizobium elkani), a BR 10788 (Bacilus subtilis) e a BR 10141 (Paraburkholderia nodosa).

O pesquisador explica que apesar dos ótimos resultados dos inoculantes, a frequente aplicação de fungicidas químicos junto à semente acaba interferindo na própria bactéria ou no efeito de outros bioinsumos.

A ideia, com o novo produto, foi colocar bactérias que protejam a semente quando ela está na fase de emergência do solo, segundo ele, livrando-as de fungos oportunistas do solo, “que acabam deteriorando e reduzindo a qualidade da plântula”.

O resultado dos estudos em campo mostrou um aumento de 10% no rendimento de grãos nas lavouras que foram tratadas com esse novo inoculante líquido, que está sendo lançado. Na safra 2020/2021, um período de fortes efeitos da estiagem no Paraná, uma área sem qualquer inoculante teve produtividade média de 61 sacas por hectare.

Outra, com a co-inoculação tradicional, chegou a 63 sacas e a terceira, onde o “combo” foi utilizado, chegou a 66 sacas por hectare.

Zilli ressaltou que o objetivo não é confrontar os inoculantes que já existem, mas sim oferecer uma opção adicional, para melhorar a qualidade das lavouras. Segundo ele, a empresa parceira inclusive já testou com diversos inoculantes e concluiu que as tecnologias são compatíveis.

Embora o lançamento oficial tenha ocorrido na feira paranaense, o pesquisador da Embrapa diz que Innova já comercializou 10 mil litros no início dessa safra de soja.

Outro ponto interessante é a possibilidade de conseguir um duplo registro inédito para o produto junto ao Ministério da Agricultura. Ele já é classificado como inoculante, porém, ao ser ofertado como solução para proteção de plantas, precisará ser classificado também como biofungicida. Pela atual legislação brasileira, será enquadrada como defensivo.

“O produto já tem o registro especial temporário e na próxima safra poderá também entrar como fungicida, à medida que tenha os dois registros”, explicou Zilli.

O pesquisador da Embrapa disse ao AgFeed que o objetivo é incentivar um manejo que não utilize fungicidas químicos, já que a maioria destes produtos é considerada agressiva à bactéria rizóbio.

“Agregamos as duas funções em um único produto e assim também reduzimos a operação no campo, é menos um trabalho para o agricultor”, ressaltou.

Zilli admite que a questão da substituição dos fungicidas químicos “é uma ferida dolorida” porque há grande interesse da indústria em seguir vendendo estes produtos. Porém, ele acredita que com a chegada desta nova biosolução outros grupos vão se interessar em utilizar o microrganismo e o produtor rural será o grande beneficiado.