Há um elo menos visível entre o campo e os postos de combustíveis na grande cadeia de etanol. Enquanto grandes grupos como Raízen e BP Bunge são ligadas a distribuidoras de energia, companhias que atuam somente na produção do biocombustível costumam utilizar o serviço de tradings para fazer a conexão com os distribuidores e, consequentemente, o varejo. E mesmo as grandes precisam de ajuda para atingir pequenos distribuidores brasil adentro.
São volumes expressivos, que movimentam bilhões de litros e, portanto, de reais. Passa pelas mesas de negociação da SCA Etanol, por exemplo, cerca de 13% do etanol comercializado no País – o que, segundo dados da própria empresa, corresponde a 3,5 bilhões de litros na safra 2022/2023.
Levando-se em conta o preço médio do litro do etanol hidratado, que é o tipo utilizado como combustível – próximo de R$ 3,30 nesse período, de acordo com empresas de capital aberto – a SCA Etanol movimentou cerca de R$ 11,5 bilhões na última safra contabilizada pela empresa.
O negócio é grande, mas a empresa não quer manter todos os ovos em um único cesto. Nos últimos dois anos, a SCA começou a abrir o foco, ampliando o sua atuação também para outro biocombustível com potencial crescente, o biodiesel. Segundo Martinho Ono, CEO da companhia, é uma operação que ainda está em fase bem inicial.
“Estamos começando a buscar os produtores, porque na ponta dos compradores, a rede que atendemos hoje também vai consumir o biodiesel. Mas como 85% do produto é originado da soja, temos que fazer esse trabalho na ponta produtora”.
Ele lembra que o próprio mercado de biodiesel ainda está no início. “Até pouco tempo atrás, a compra só era possível por meio de leilão promovido pelo governo. E o volume ainda está longe do etanol. Com o aumento da mistura no diesel que acontecerá esse ano, deve chegar perto de 7,5 bilhões de litros, ante mais de 30 bilhões de litros de etanol”, explica Ono.
O CEO da SCA Etanol ressalta que o Brasil já tem potencial para impulsionar o mercado de biodiesel no curto prazo. “Fala-se de uma capacidade instalada para produzir 12 bilhões de litros hoje”.
Com a diversificação, a SCA busca se tornar menos vulnerável às oscilações e sazonalidades do mercado do etanol. Nos últimos anos, a competitividade do combustível caiu perante a gasolina e, assim, os volumes negociados também diminuíram.
Entre as safras 2014/2015 e 2019/2020, por exemplo, a empresa tinha uma média de movimentação próxima de 4 bilhões de litros por ano. Esse volume teve uma queda abrupta na safra 2020/2021, no ápice da pandemia de Covid-19, para pouco mais de 3 bilhões de litros. Na safra 2022/2023, chegou a 3,5 bilhões de litros.
Ono afirma que agora, no início de 2024, o mercado vai retomando uma normalidade, tanto em volume quanto em preço. “Além da pandemia, tivemos a interferência do governo anterior para baixar os preços da gasolina”, lembra.
Ele afirma que não espera um avanço na participação da SCA Etanol na participação de mercado na safra 2023/2024, mas sim do volume negociado. Levando-se em conta os números da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), a empresa já atingiu, em janeiro, todo o volume registrado em 2022/2023.
Segundo a Unica, o acumulado de etanol comercializado até janeiro de 2024 na safra foi de quase 27 bilhões de litros. Repetindo os 13% de participação, a SCA já atingiu os 3,5 bilhões de litros feitos na safra 2022/2023.
Para a retomada, o executivo confia também na rede de usinas atendida pela SCA Etanol. “Temos uma rede de 50 a 60 usinas que atendemos durante a safra, e o nosso trabalho é fazer essa aproximação especialmente com o distribuidor de combustíveis, que responde por 90% a 95% do etanol consumido no Brasil”, conta.
Entre as empresas que estão na carteira de clientes estão Raízen, BP Bunge, Atvos e Jalles Machado. “A nossa atuação permite que as grandes usinas atinjam pequenos distribuidores que eles não conseguem atingir”, explica Ono. Ele lembra que os grandes grupos têm estruturas de comercialização próprias, mas que são voltadas a grandes volumes.
Por outro lado, a SCA também oferece uma estrutura de comercialização para usinas de menor porte. “Ao invés de ter o trabalho de montar toda uma equipe e arcar com as despesas de formar uma rede de compradores, nós fazemos isso pela usina”, diz Ono.
Grupo de compras
Outro serviço oferecido pela SCA Etanol, esse sem finalidade de lucro, segundo Ono, é formar um grupo de empresas para comprar insumos e outros itens necessários para a operação de usinas e de outros tipos de cultura, como a soja.
“Empresas como a Raízen, que têm uma produção enorme, conseguem negociar diretamente com os fabricantes e ter acesso a preços menores. Não é o caso das usinas de menor porte. Por isso, na safra 2015/2016, surgiu a ideia de montar essa aliança”, diz o CEO da companhia.
São cerca de 20 companhias agroindustriais de vários estados, que, somadas, produzem aproximadamente 76 milhões de toneladas de cana por ano, além de produtores de grãos. No total, as empresas do grupo têm 1,1 milhão de hectares de área cultivada.
Para a safra 2023/2024, a SCA Etanol estima que o grupo feche com um volume negociado de R$ 2,6 bilhões em itens, um crescimento de quase 23% em relação à safra anterior.
“Para ter uma ideia do sucesso dessa iniciativa, nós temos empresas maiores no grupo, como Jalles e Adecoagro. E a ideia desse serviço não é ter lucro, mas ajudar os clientes nas suas operações”, afirma Ono.
Ainda sobre o mercado de etanol, o CEO da SCA é outro que aposta no combustível de aviação, conhecido pela sigla em inglês SAF, como o futuro do mercado. Mas ele defende uma postura mais ambiciosa do Brasil no cenário global.
“Sou a favor de produzirmos o SAF aqui, e não só exportar a matéria-prima. Nós podemos buscar a tecnologia, por meio de subsídios e financiamento, como alguns países já têm feito, inclusive os Estados Unidos”.