O CEO da Raízen, Ricardo Mussa, foi muito claro no texto que abre o balanço da empresa, divulgado na noite de quinta-feira: “Nossos resultados apresentam um dos melhores trimestres da história da empresa”.

A Raízen encerrou o terceiro trimestre de seu ano-safra 2023/2024, que corresponde ao período de outubro a dezembro, com um lucro líquido ajustado de R$ 754,4 milhões. O valor representa um avanço de 195% em relação aos R$ 255 milhões vistos no mesmo período da safra passada.

A empresa teve um faturamento líquido de R$ 58,49 bilhões no trimestre, leve queda de 3,1% em relação ao mesmo período de 2022/2023

O resultado líquido foi impulsionado, segundo a Raízen, pelo desempenho operacional e geração de margens, mesmo com o impacto do resultado financeiro no período.

Em coletiva para apresentar os resultados do balanço para jornalistas, o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, comentou que esse desempenho operacional que beneficiou os resultados está ligado à produtividade agrícola da empresa.

No segmento da empresa que envolve energias renováveis e açúcar, a Raízen teve uma moagem recorde de 18,8 milhões de toneladas de cana no trimestre, alta de 36% em comparação à safra anterior. No acumulado da safra até agora, já são 83 milhões de toneladas moídas.

O índice de produtividade da empresa, que calcula o quanto de ATR (açúcares redutores totais) por hectare cultivado, ficou em 10,1 no trimestre, 6% acima na comparação anual, e 11,5 no acumulado da safra, 22% acima da safra anterior até dezembro.

“Fomos bem não só na produtividade, mas também por um bom clima. Além disso, envolve nossa relação com o mercado e nossos fornecedores de cana. Estamos reduzindo os custos, sendo disciplinados, o que refletiu boas margens”, disse o CEO.

Foram pouco mais de 750 milhões de litros de etanol (entre primeira e segunda geração) produzidos no trimestre e 1,2 mil toneladas de açúcar. Comparando com o mesmo período da outra safra, a produção do adoçante subiu 38% e a do etanol 28%.

O mix de produção açúcar e etanol ficou em 50% para cada no trimestre. No acumulado da safra, o açúcar leva uma ligeira vantagem de 3 pontos percentuais frente ao combustível.

Na opinião de Leonardo Alencar, analista que cobre as ações agro da B3 na XP, a Raízen apresentou fortes resultados no açúcar, mas viu o etanol “arrastando os resultados”.

No adoçante, ele considerou que o preço no mercado internacional ajudou os resultados, e fez a Raízen superar o aumento do custo caixa por unidade.

“A margem Ebitda do açúcar foi de 16,8%, acima das nossas expectativas. Considerando a diferença entre os preços mais altos do açúcar e os custos unitários de caixa dos estoques, temos uma visão otimista dos resultados de açúcar olhando para o futuro”, comentou em relatório.

No etanol, a margem veio abaixo da expectativa de Alencar, refletindo a queda nos preços do combustível. Para o próximo trimestre, contudo, com o avanço nos preços do produto, ele vê como acertada a estratégia de postergar as vendas por parte da empresa.

Além do açúcar, o que chamou a atenção do analista foi a margem do segmento de mobilidade, que envolve a revenda para postos de combustível, da Raízen, que foi de R$ 194 por metro cúbico de combustível. Segundo ele, isso eliminou dúvidas se a estratégia adotada de fornecimento de combustível da Raízen estava correta.

No açúcar, a Raízen registrou uma redução dos volumes vendidos em 7%, para 2,6 milhões de toneladas. Segundo a empresa, a redução foi parte da estratégia de comercialização para a safra.

Tanto é que os estoques de açúcar aumentaram 86% na mesma comparação e bateram 2,3 milhões de toneladas, com a empresa já pensando em negócios no futuro.

“Em relação ao etanol, o cenário desafiador exigiu uma estratégia de posicionamento de estoques para venda futura e maximização do mix especial de exportação de etanol para clientes globais com precificação e aplicações diferenciadas”, afirmou a Raízen.

Esse movimento de espera também foi visto no etanol, já que as vendas do combustível recuaram 17,6% no período, para 1,4 bilhão de litros. Os estoques de etanol nas unidades produtoras cresceram 28%, para 1,38 bilhão de litros.

“Nos posicionamos taticamente para um potencial melhor ambiente de preços, como tem ocorrido nos primeiros dias de 2024, alavancado pela diferenciação via novas geografias e aplicações”, afirmou a empresa em documento oficial.

Pensando em 2024, o CEO Ricardo Mussa vê uma demanda aquecida para o etanol, principalmente avaliando que o preço está bem abaixo do patamar da gasolina nas bombas.

“Não vemos arrefecimento no consumo pelo menos até abril, a não ser que o preço reaja. Vejo até espaço para essa demanda subir, e isso vai determinar até onde o preço vai subir. O preço (na bomba) está barato e isso deve atrair os motoristas”, projeta.

Após a divulgação do balanço, com mais avaliações positivas do que negativas, as ações da Raízen na B3, as 14h30 desta sexta-feira registravam alta de 1,79%.

Etanol de segunda geração

Em outubro passado, a Raízen iniciou as operações da nova planta de etanol de segunda geração (E2G) no Parque de Bioenergia Bonfim, na cidade de Guariba, no estado de São Paulo.

A unidade recebeu um investimento de R$ 1,2 bilhão e deve produzir 82 milhões de litros de etanol por ano. Nessa safra, a planta, conhecida como Bioparque Costa Pinto, já produziu 25,2 milhões de litros de E2G.

O CEO da empresa afirmou que a segunda planta, a Bonfim, segue em fase final do período de comissionamento. As plantas 3 a 6 estão em construção e as demais em fase de projeto.

A ideia da Raízen é ter 20 plantas E2G até o final da década, para produzir 1,6 milhão de metros cúbicos por ano.

“Temos mais plantas planejadas, mas ainda não anunciamos para o mercado. São plantas já ‘vendidas’. Como temos várias plantas em construção que são similares, facilita a engenharia, compra de equipamentos e o aprendizado de uma planta para a outra”, acrescentou Mussa.

A ideia é juntar as plantas de E2G com as instalações de biogás da empresa. No gás, o modelo de negócio é parecido, com contratos sendo buscados já antes de iniciar a construção. A diferença é que o cliente do segundo precisa ser nacional, já que o transporte do biogás para a Europa, por exemplo, é inviável.

“O mercado de biogás ainda é incipiente, mas vemos muitos players com novos projetos. Quando temos planta de E2G, automaticamente temos a produção de vinhaça, que alimenta a planta de biogás. Devemos crescer o biogás justamente com esse etanol”, finalizou o CEO.