Adriano Rosa, diretor executivo da Embratel, é objetivo: “Dos nossos lançamentos no ano, este é o mais importante”, afirma, dando a dimensão de sua ambição no agronegócio.

Ele fala sobre a parceria, anunciada há um mês, com a agtech canadense Farmers Edge, uma das pioneiras no mundo no desenvolvimento de tecnologias digitais de gestão de propriedades rurais.

“Estamos começando a selecionar algumas propriedades para visitarmos juntos e levarmos soluções mais robustas para o campo”, diz, em entrevista ao AgFeed. “Já falei para o nosso pessoal que temos de ter botina e chapéu”.

Com a Farmers Edge, a Embratel – marca B2B da operadora Claro no Brasil – incorpora no seu menu um conjunto de soluções batizado de Smart Farm, que combina análise de imagens via satélite à conexão de máquinas e sensores.

Dessa forma, pretende oferecer ao produtor rural dados que podem ajuda-lo desde à detecção de pragas, doenças, deficiências nutricionais, falhas de aplicação, mau funcionamento de equipamentos e problemas de drenagem até informações climáticas e uma consultoria agronômica para análise de solo .

Na estratégia da Embratel, a parceria com a Farmers Edge deve ser uma das âncoras do novo posicionamento da empresa para o setor. Há pelo menos dois anos a empresa opera com uma área específica para levar serviços de conectividade para fazendas no interior do Brasil.

Agora, a orientação é ampliar a presença da marca no campo através da construção de um ecossistema, que vai plugar empresas, maduras ou startups, para ir além da construção de torres levando sinal 3G ou 4G para áreas remotas.

“Se levamos conectividade, mas os produtores não têm como gerenciar o que acontece em suas fazendas, é apenas conectividade”, afirma Rosa. “Não gera os ganhos de eficiência que o mercado demanda”.

Segundo o executivo, a empresa quer ser vista no agro como uma “habilitadora”, que, juntamente com seus serviços, agrega soluções trazidas por terceiros e que deem sentido ao investimento feito na construção de estruturas de conectividade.

“Ouvimos há anos do produtor que ele compra máquinas de milhões de reais, autônomas, com tudo possível, mas acaba não podendo tirar o potencial delas”, diz Rosa.

“Há dois anos, começamos a olhar isso com mais cuidado, que na nossa visão é uma demanda emergencial do agro como um todo”.

A Farmers Edge é, para Rosa, um bom exemplo de como levar mais eficiência junto com as torres. “O sistema é um grande orquestrador de fazendas, que você pluga e tira aquela decisão intuitiva. Quanto mais tirar o “acho”, mais resultado o produtor pode ter”.

Campo Conectado

O primeiro passo da Embratel rumo ao campo foi feito em conjunto com a fabricante de máquinas John Deere e resultou no surgimento da Sol Internet of People, empresa especializada no desenvolvimento de projetos e instalação de sistemas de telecomunicações nas fazendas.

A iniciativa, batizada de Campo Conectado, começou a atuar justamente com a parte inicial da demanda do setor: levar a conectividade através da construção das torres que suportariam os equipamentos da Embratel.

O plano teve sucesso. Segundo a empresa, hoje há cerca de 10 milhões de hectares conectados ou contratados para serem conectados com soluções da empresa. Cerca de 3 milhões de hectares (com 75 torres), por exemplo, estão dentro do projeto ConectÁster, realizado em conjunto com a Áster Máquinas e a Sol no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Agora, a Embratel pretende ampliar essa visão, levando ao agro o mesmo conceito com que tem atuado em outros segmentos – e, quem sabe, até conectando o agro aos outros segmentos.

“Com a Farmers Edges, vamos ao mercado com um gama de serviços integrado ao Campo Conectado”, diz Rosa. “Primeiro, com monitoramento de umidade de solo, o smart monitoring, depois com uma solução para controle de gás e temperatura em silos. Hoje mais de 90% controlados por pessoas, que sobem e levam medidores, numa atividade de risco”.

Rosa já enxerga, no entanto, modelos que integrem os sistemas de dentro da porteira das fazendas com os outros elos da grande cadeia do agronegócio.

“Avaliamos, por exemplo, os portos. Temos projetos para conectar e levar redes 5G privativas para dentro dos portos. Temos grandes parceiros que levam os produtos do agro para dentro do porto, como a Rumo”, explica. “Nosso objetivo é ser um grande fornecedor para toda a cadeia como um todo”.

A criação do ecossistema próprio passa pelo crescimento da estrutura dedicada ao agro dentro do BeOn, hub de inovação da Claro. Hoje, uma equipe dedicada ao agro opera dentro da iniciativa, identificando potenciais parceiros e soluções para serem plugadas.

Segundo Rosa, algumas dessas buscas são guiadas pelas demandas dos produtores parceiros. “A estrutura do BeOn nos ajuda no processo de conectar novas soluções, que se transformam em produtos, parcerias e alianças e vão recheando o Campo Conectado”, afirma Rosa.

E, assim, aumenta a necessidade de antenas e as oportunidades de negócios da Embratel.

A empresa espera anunciar já nos próximos meses os primeiros contratos gerados a partir da nova parceria com a Farmers Edge. Da mesma forma, promete para breve a divulgação de parcerias semelhantes para segmentos específicos do agro, como a pecuária.

“Estamos avaliando empresas, buscando parceiros certos. Já estamos fazendo provas de conceito e testes e teremos uma solução para gado conectado, capaz de gerar controles necessários para atender as exigências das regras europeias para rastreabilidade”, diz.

Entre as possibilidades avaliadas também está o ingresso na iniciativa ConectarAgro, que reúne montadoras, empresas de tecnologia e até as concorrentes Vivo e TIM. Por enquanto, porém, a opção se mantém em manter uma via paralela, independente. “Não descartamos nada, mas hoje nosso foco está em nosso próprio ecossistema”, conclui Rosa.