A queda nos preços das carnes no mercado internacional e a valorização do real frente ao dólar foram decisivas para que BRF e Marfrig fechassem o segundo trimestre de 2023 com prejuízos.

As duas empresas têm atuação importante no Oriente Médio e nos Estados Unidos, respectivamente.

No caso da BRF, o prejuízo foi de R$ 1,3 bilhão entre abril e junho, quase o triplo da perda registrada um ano antes, de R$ 468 milhões. A Marfrig saiu de um lucro líquido de R$ 4,2 bilhões no ano passado para prejuízo de R$ 784 milhões em 2023.

Os números da BRF mostraram uma forte influência dos resultados financeiros, que pioraram por conta da alta taxa de juros durante o segundo trimestre.

Mas quando se trata da operação, há algumas diferenças entre o momento no Brasil e no exterior.

Nos dois segmentos, as variações de receita líquida na BRF foram bem parecidas, com queda de 0,6% no Brasil e de 0,9% nos mercados internacionais, na comparação com um ano antes.

As diferenças começam a aparecer nos custos e no comportamento dos preços.

Enquanto no Brasil, a BRF conseguiu um aumento de 1,2% nos valores de venda de seus produtos, no exterior a queda foi superior a 10%.

Em comentário da administração, a BRF reportou que houve uma melhora dos preços em dólares, chegando a uma alta de 3,6% em suínos. No entanto, a queda de quase 5% na cotação do dólar acabou pesando na contabilidade final em reais.

Houve ainda o impacto sazonal do Ramadã no Oriente Médio, que beneficiou a empresa no primeiro trimestre deste ano.

Com todos esses fatores, o Ebitda ajustado dos negócios internacionais da BRF caiu 75% em um ano, para R$ 241 milhões. Em contrapartida, o Ebitda no Brasil subiu quase 47%, para R$ R$ 627 milhões. A margem Ebitda no Brasil foi de 9,6%, contra 4% nas operações internacionais.

O CEO da BRF, Miguel Gularte, acredita que o segundo trimestre vai apresentar um cenário mais equilibrado de demanda no segundo semestre. Inclusive com uma maior previsibilidade da gripe aviária no Brasil.

“À medida que a situação de previsibilidade sanitária continue, podemos ver uma melhora. Talvez não tenhamos uma retomada grande no terceiro trimestre, mas pode ser que o final do ano seja mais favorável”, disse Gularte, em entrevista.

O diretor financeiro da companhia, Fábio Mariano, acredita que os preços dos grãos vão ajudar a reduzir os custos de produção, recuperando parte das margens. “Podemos voltar a ver uma margem de dois dígitos”, projeta o executivo. A margem Ebitda total da BRF foi de 8,2% no segundo trimestre, ante 11,6% no mesmo período de 2022.

Marfrig e o preço do gado nos EUA

No caso da Marfrig, a grande trava é o preço do gado nos Estados Unidos. O CEO da National Beef, Tim Clark, disse que não espera uma melhora significativa neste cenário “antes de 2025 ou 2026”.

“O que esperamos é ver alguma melhora de demanda no segundo semestre deste ano. Mas no que diz respeito aos números, devem ser parecidos com os do primeiro semestre”, afirma Clark.

Entre as unidades de negócios da Marfrig, a margem Ebitda da América do Norte foi a pior, com 5,2%, ante 10% na América do Sul e 8,3% da BRF. No entanto, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Tang David, classificou os números como “robustos”.

A boa avaliação se baseia na comparação com concorrentes. Tang lembrou que a Tyson Beef, gigante do setor nos Estados Unidos, teve margem de 1,6% no segundo trimestre. “A JBS teve margem de 1,5% nos Estados Unidos, e de 4,8% na América do Sul”, pontuou o executivo da Marfrig.

No geral, o Ebitda da Marfrig apresentou queda de 42%, puxada principalmente pelas operações na América do Norte, onde o indicador teve recuo de 60%. Na América do Sul, a queda foi de quase 15%.

Segundo Rui Mendonça Junior, presidente da Marfrig na América do Sul, as perspectivas são de melhora na operação local nos próximos trimestres, principalmente com o aumento da demanda chinesa.

“O governo está estimulando o consumo por lá. Além disso, já em julho, verificamos uma recuperação dos preços das carnes na China, inclusive da suína, com diminuição dos estoques”, diz Mendonça.

Dinheiro novo, dívida menor

A Marfrig tem 33% de participação no capital da BRF e participou da oferta subsequente de ações da companhia, que levantou R$ 5,4 bilhões.

David, CFO da Marfrig, explica que este dinheiro será contabilizado no balanço da BRF do terceiro trimestre. “Isso vai levar a uma queda significativa no nível de alavancagem da BRF, e também nas despesas financeiras”, afirma.

A BRF teve resultado financeiro negativo de R$ 1,1 bilhão, ante perdas de R$ 610 milhões no segundo trimestre de 2022. Este indicador foi importante no prejuízo da companhia entre abril e junho deste ano.

Com a injeção feita na BRF, a Marfrig também vai buscar recursos entre seus investidores. A companhia fará um follow-on que deve chegar a R$ 2,1 bilhões. Segundo David, o acionista controlador do grupo, Marcos Molina, vai garantir R$ 1,5 bilhão.