Há cerca de cinco anos, o empresário Alexandre Baumgart trocou a vida agitada de executivo em São Paulo por uma missão em Rio Verde, polo do agronegócio em Goiás. Deixou o comando da Vedacit -- fabricante de impermeabilizantes que deu origem ao grupo que controla também empreendimentos imobiliários, hoteleiros e o Shopping Center Norte, um dos maiores da capital paulista – para promover uma revolução em outro negócio da família, as Fazendas Reunidas Baumgart.

Se a família já foi conhecida como “os reis da Zona Norte” paulistana, o império de Alexandre Baumgart hoje está concetrado nos 25 mil hectares da fazenda – sendo 10 mil de agricultura, para a produção de sementes de soja e milho safrinha, 9 mil para pecuária de ciclo completo, que termina em um confinamento com capacidade estática para 10 mil cabeças e de onde saem para o abate 25 mil animais por ano, e 6 mil hectares de reservas preservadas.

Ainda no comando das indústrias do grupo, antes mudança definitiva para Rio Verde, o empresário – que chegou a sonhar em ser agrônomo – fazia incursões periódicas a Goiás para estar mais próximo do que dizia ser “um amor antigo”, conforme declarou em entrevista à revista Perfil.

“Não fiquei distante da fazenda. Fritava o peixe e olhava o gato, ainda mais piloto desde os 15 anos, avião era igual bicicleta, era subir, pedalar e, com pouco prazo, já estava no campo. Consegui durante a vida temperar a obrigação do estudo com a diversão do trabalho”.

O ritmo das mudanças, entretanto, acelerou quando ele pode, definitivamente, seguir o “chamado” do universo rural. “Não havia outra forma de estar no negócio. Com uma fazenda e um mundo de oportunidades surgindo no agro, foi muito mais que natural que isto acontecesse”.

“Uma fábrica a céu aberto, no melhor da minha idade, do conhecimento e da experiência... Seria um desperdício não dar voz ao coração e à razão nesta breve passagem pela vida”.

Desde então, o que era apenas um pouco mais do que um investimento imobiliário em terras foi transformado, de forma silenciosa, em uma empresa agropecuária altamente tecnificada e, segundo seus gestores, lucrativa.

“Somos os mais produtivos de uma das regiões mais produtivas de Goiás”, afirma David Panades, CFO da Reunidas, como a equipe se refere à companhia.

“Ele trouxe para cá a cultura da gestão de alta performance”, diz Panades ao AgFeed. “Quando chegou à fazenda, trouxe conceitos que havia adotado com sucesso na indústria”.

A transformação da Reunidas ganhou visibilidade na última edição , após a divulgação, pela fabricante de robôs agrícolas Solinftec, de um acordo para fazer da fazenda a primeira do País a ter 100% de sua área agrícola operada pelo Solix, equipamento autônomo para manejo de ervas daninhas e outras pragas nas lavouras.

“Esse é apenas um dos nossos projetos na área da inovação”, afirma Panades, que há um ano e meio está na empresa, trazendo experiência de passagens por fundos de private equity. “Antes dele, temos buscado formas de implantar aqui alguns modelos já testados na indústria”.

O primeiro deles foi a adaptação de um sistema ERP da fabricante de softwares de gestão Compusoft para o agro e, a partir dele, implantar um modelo de orçamento base zero, com acompanhamento detalhado de capa indicador de produtividade e eficiência.

Segundo Panades, isso faz com que a Reunidas tenha de repensar seu negócio a cada ano, “saindo do zero, com a geração de KPIs para cada área”. Todos os resultados da empresa são auditados pela KPMG.

Gêmeos digitais na lavoura

Para buscar mais eficiência e controle das operações agrícolas, Baumgart levou para Rio Verde um sistema semelhante ao utilizado pela Petrobras para monitorar a operação de suas plataformas de exploração de petróleo, conhecido como “gêmeos digitais”.

Panades explica que, utilizando dois modelos de inteligência artificial, o sistema – desenvolvido pela mesma fornecedora dos “gêmeos digitais” da estatal – replica de forma matemática, em um ambiente virtual, o que acontece na fazenda.

Cada alteração ocorrida ao longo de uma safra, por exemplo, é automaticamente inserida no sistema, que ajusta em tempo real seus modelos e gera recomendações de ação por parte da equipe da Reunidas.

“Analisamos, com esses sistema, as informações monitoradas por sensores em cada talhão”, afirma o executivo. “Qualquer alteração hídrica, por exemplo, pode gerar uma nova recomendação”.

O sistema controla também as balanças e os silos onde a produção da fazenda é armazenada. “A inteligência artificial opera o secador, atuando para que tenhamos a padronização da umidade das sementes no índice que desejamos”, exemplifica.

Robôs em campo

Os robôs da Solinftec se encaixam como uma luva nesses conceitos. De acordo com Panades, embora as sementes produzidas na fazenda tenham características de resistência aos defensivos químicos, elas sentem os efeitos de aplicação e podem ter seu desenvolvimento retardado ao entrarem em hibernação ao terem contato com os químicos.

Por isso, a empresa tem testado formas de reduzir as aplicações, atuando com herbicidas, por exemplo, de forma pontual, apenas nos locais onde há daninhas. “Com isso, as lavouras deixam de competir com as plantas indesejadas e podem crescer sem pausas no desenvolvimento”, diz.

Foi com esse objetivo que dois robôs Solix foram usados, em um projeto piloto, na safra 2023/2024. Na próxima safra, a parceria ganha escala, com dez equipamentos sendo utilizados em uma área equivalente a um terço do total cultivado. E com perspectiva de novas ampliações nos ciclos seguintes.

“O robô é muito útil”, atesta Panades. “Sabíamos o que fazer, mas não tínhamos um agente para operar da forma que desejávamos. O Alexandre sempre diz que no agro, é preciso responder rápido, no tempo certo, sem ser ancioso nem lerdo”.

Segundo o executivo, na última sefra a Fazenda Reuniudas Baumgart registrou uma produtividade de 78 sacas por hectare. Isso em um período difícil, em que a falta de chuvas prejudicou as colheitas em boa parte da região. “Por aqui, quem colheu 50 sacas está comemorando”, diz.

Com a área toda mapeada e analisada, a Reunidas tem avançado em práticas como melhoria do perfil de solo e aplicação em taxa variável. Ele afirma que as metas estabelecidas pela companhia são de buscar ainda mais eficiência em outras áreas, como o uso de fungicidas, por exemplo, e de insumos biológicos.

De acordo com Panades, Alexandre Baumgart está atento a diferentes possibilidades, sendo inclusive investidor de uma startup que atua com desenvolvimento de novas soluções em biológicos.

Assim, o executivo acredita que é possível continuar avançando em produtividade e vislumbra crescer “gradualmente” o desempenho nesse indicador até atingir 100 sacas por hectare. “Quem sabe em um prazo de cinco anos”, diz.

Também está dentro das possibilidades futuras, sem um cronograma definido, a implantação de uma unidade de beneficiamento de sementes, que abriria caminho para a comercialização de uma marca própria – hoje a Reunidas fornece para empresas como a Sementes Goiás, adquirida pelo grupo canadense Nutrien, e a Semente Manah.

Na pecuária, a expectativa é de expansão do confinamento, com projeção de quadriplicar a capacidade estática para 40 mil animais e, com giro de três vezes ao ano, fornecer 120 mil bovinos para frogríficos.

Além disso, a Reunidas já obtém receitas provenientes de seu trabalho na área ambiental, com emissão de CPRs Verdes e créditos provenientes da conversão, para a agricultura de baixo carbono, de áreas antes degradadas.